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Metade dos adultos com colesterol alto não trata a doença
Levantamento inédito também constata que a maioria dos brasileiros não conhece seus níveis de colesterol sanguíneo
O trabalho avaliou 2.000 pessoas em todo o Brasil; cardiologistas entrevistados desconhecem diretrizes de prevenção e tratamento
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Resultados de uma pesquisa
brasileira inédita, feita com
mais de 2.000 pessoas em 70 cidades, revelam um cenário
preocupante: metade dos adultos com colesterol alto não trata o problema.
O estudo, feito pelo CLACC
(Conselho Latino-Americano
para Cuidado Cardiovascular),
iniciativa que busca disseminar
informações sobre tratamento
e prevenção de doenças cardiovasculares, também aponta que
menos da metade dos brasileiros dosa seu colesterol e que os
médicos não conhecem bem as
diretrizes do tratamento.
O objetivo do projeto era justamente avaliar a aderência dos
pacientes ao tratamento, já que
a falta dela é considerada um
fator crucial para o aumento da
incidência de problemas como
infartos e derrames. Só no Brasil, as doenças cardiovasculares
matam 300 mil pessoas a cada
ano, e a Organização Mundial
da Saúde estima um aumento
de 250% nos casos até 2040.
Os voluntários responderam
a um questionário fornecendo
dados a respeito de dosagem de
colesterol, diagnóstico de hipercolesterolemia e quais os
tratamentos feitos. Quem não
estava em tratamento respondeu ainda sobre os motivos da
interrupção.
Os resultados revelaram que,
entre os que sabiam estar com
o colesterol alto, apenas 50%
seguiam a terapia recomendada -23% tinham começado e
parado e 27% nunca tinham
tratado a doença.
"Trabalhos anteriores mostram que o tempo médio de uso
de medicamentos é de 60 dias,
mas o paciente só começa a ter
benefícios após um ano de tratamento", diz o cardiologista
Andrei Sposito, presidente do
departamento de aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia, e um dos autores.
Segundo a pesquisa, um dos
fatores que atrapalham o tratamento correto é a desinformação. "A maioria dos pacientes
não tem noção da gravidade de
sua doença", diz Sposito. "O
médico acha que a pessoa recebeu as informações adequadas,
mas a mensagem não está chegando ao paciente."
Os pacientes costumam aderir mais ao tratamento se já vivenciaram o problema- quando, por exemplo, já foram vítimas de um infarto.
As consultas rápidas também
parecem influenciar esse cenário. Entre as conclusões, os autores do trabalho apontam que
a aderência ao tratamento está
relacionada a consultas mais
longas e detalhadas, mais informação sobre o problema e
maior confiança no médico.
A pesquisa revelou ainda que
menos da metade dos entrevistados (47%) tinha feito exame
para dosagem de colesterol.
Desses, 22% tinham hipercolesterolemia. O restante dos
voluntários simplesmente não
conhece suas taxas de colesterol sanguíneo.
Médicos
Outro braço da pesquisa ouviu cem cardiologistas de oito
cidades (São Paulo, Ribeirão
Preto, Campinas, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte,
Salvador e Recife) e constatou
que só 12% deles calculam o risco do paciente por escalas específicas, como recomendado.
Além disso, apenas 31% dos
médicos responderam corretamente sobre os valores desejáveis de LDL para pacientes de
baixo risco. E menos da metade
deles conhecia as metas para
quem tem alto ou médio risco.
"A falta de conhecimento se
estende a grande parte dos médicos", diz Sposito. Ele participou de um estudo com 2.056
profissionais (endocrinologistas, cardiologistas e clínicos-gerais) em 11 países, que mostrou
resultados similares. "A prevenção é um trabalho de todos
que deve começar na infância".
"Os resultados deixam claro
que há muito espaço para melhorar a questão de aderência
ao tratamento da hipercolesterolemia no Brasil, tanto por
parte dos pacientes, como por
parte dos médicos", diz o cardiologista Fernando Cesena, do
Instituto do Coração, e consultor para o CLACC.
Os dados serão divulgados no
congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em agosto.
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