São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Novo estudo mostra efeito do ômega 3 após infarto

Revisão metódica de pesquisas aponta para redução de até 30% na mortalidade

Resultados contraditórios de trabalhos anteriores criaram polêmica sobre os benefícios do ômega 3 para quem tem doença cardíaca


IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma extensa revisão de estudos sobre os efeitos do ômega 3, além de confirmar a eficácia do ácido graxo na prevenção de doenças cardiovasculares, traz evidências sobre a sua ação na redução de eventos e na taxa de mortalidade de pacientes com doenças cardíacas prévias e após a ocorrência de infarto agudo do miocárdio. Esta é a mais nova conclusão em relação ao uso de ômega 3 na prevenção secundária (após o surgimento da doença).
A indicação do consumo de alimentos ricos em ômega 3 para prevenção de doenças cardiovasculares em pessoas saudáveis é bastante aceita.
Há polêmica, porém, sobre os benefícios para pessoas que já sofreram infarto ou com doença estabelecida, porque diferentes estudos trazem resultados contraditórios.
Esse último trabalho, publicado no edição de agosto do jornal do American College of Cardiology, por exemplo, contradiz o estudo imediatamente anterior, divulgado pela mesma instituição norte-americana.

Novas conclusões
A importância do atual trabalho, coordenado por Carl Lavie, diretor médico do setor de prevenção e reabilitação cardíaca do Centro Médico Ochsner, em Nova Orleans (EUA), é trazer evidências por meio da revisão metódica de um grande número de pesquisas.
Foram revistos estudos realizados nas últimas três décadas, envolvendo um total de cerca de 40 mil participantes, incluindo indivíduos saudáveis, portadores de doenças cardíacas e vítimas de infarto. Entre eles, está o estudo citado, com conclusões negativas sobre o efeito do ômega 3 após a ocorrência do infarto.
De forma contrária, a revisão coordenada por Lavie aponta uma redução de até 30% na mortalidade pós-infarto e em pacientes com doença coronariana. "É importante termos evidências que confirmem os benefícios e sustentem a indicação do ômega 3", diz Antonio Carlos Chagas, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo o cardiologista Daniel Magnoni, chefe do serviço de nutrologia do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo, as primeiras evidências sobre os benefícios cardiovasculares do ômega 3 surgiram de estudos populacionais.
"Populações como os esquimós e os japoneses, que têm ou tinham uma dieta baseada no consumo de peixes, apresentavam menor prevalência dessas doenças. A partir dessa constatação, começaram as pesquisas para determinar melhor o mecanismo de ação do ômega 3. Hoje sabemos que ele diminui a agregação plaquetária, reduzindo o riscos de trombos nos vasos, e também reduz os processos inflamatórios das placas de gordura", afirma.

Dosagens
A grande dúvida ainda é sobre as doses efetivas de ômega 3 para que ele traga os efeitos desejados. Os autores do estudo dizem que é preciso aprofundar as investigações para se determinar as doses ótimas, mas, baseados na revisão que realizaram, apontam para algumas dosagens que se mostraram eficazes: 500 mg por dia para a prevenção primária, 1.000 mg/ dia para pacientes com insuficiência cardíaca e arritmias e 4.000 mg para dislipidemias.
Para Sergio Ferreira de Oliveira, cardiologista do InCor (Instituto do Coração) e do Hospital Sírio-Libanês, a revisão feita pela equipe de Carl Lavie é um dos trabalhos mais completos sobre o ômega 3 disponível, mas ainda falta muito a ser pesquisado.
"O número de pessoas envolvidas é realmente grande. Mas, por ser uma revisão, os segmentos estudados são muito heterogêneos. As diferenças entre as populações avaliadas em cada pesquisa incluída na revisão não permitem conclusões definitivas", pondera Ferreira de Oliveira.
O cardiologista lembra que consumo de gorduras poli-insaturadas, como a ômega 3, para a prevenção de doenças cardiovasculares é indicado com a ressalva que essas gorduras devem ser incluídas na alimentação em substituição de parte das gorduras saturadas, e não acrescentadas à quantidade total das gorduras consumidas.
Gorduras devem representar entre 25% e 35% do total de calorias ingeridas por dia. E todos os tipos de gordura -saturadas, insaturadas ou trans- têm o mesmo valor calórico: 9 calorias por grama.


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