São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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USP testa nova técnica contra diabetes

Método que melhora resultado de transplante de células do pâncreas pode livrar pacientes de injeções de insulina

Cientistas propõem proteger as células transplantadas que produzem insulina em uma cápsula de alga


MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Pesquisadores da USP estão testando uma nova estratégia para livrar os portadores de diabetes tipo 1 das injeções diárias de insulina.
O objetivo da técnica é aumentar a segurança e a eficácia do transplante de ilhotas de Langerhans, conglomerado de células do pâncreas responsável pela produção de insulina.
O transplante, em si, não é novidade e data da década de 70. No Brasil, cinco pacientes já foram submetidos à técnica entre 2002 e 2006.
Mas a cirurgia ainda tem problemas sérios, como a exigência de que o paciente passe a tomar remédios imunossupressores para evitar a rejeição às células transplantadas. Essas drogas baixam as defesas do corpo.
Outra dificuldade é manter as ilhotas produzindo insulina a longo prazo.
Estudos de um grupo canadense mostram que, depois de cinco anos, apenas 10% dos pacientes transplantados estavam livres das injeções do hormônio.

INOVAÇÃO
Para sanar esses problemas, pesquisadores do Nucel (Núcleo de Terapia Celular e Molecular), sob a coordenação da bióloga Mari Sogayar, professora titular do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP, criaram uma cápsula que envolve as ilhotas.
A cápsula é feita de um material, patenteado como BioProtect, feito de alginato, extraído de algas marrons. A estrutura tem ainda substâncias que melhoram a função e a longevidade das ilhotas.
Segundo o médico Thiago Rennó dos Mares Guia, coordenador do grupo de microencapsulamento do Nucel, a composição da cápsula permite a entrada de oxigênio nas células e a saída de insulina. Ao mesmo tempo, a barreira impede que células do sistema imunológico destruam as ilhotas.
O material que envolve as células foi desenvolvido em parceria do Nucel com a CellProtect Biotechnology, empresa criada em incubadora da USP para criar substâncias usadas em terapia celular.
A cápsula já foi testada em camundongos diabéticos, com sucesso -o material provou sua capacidade de diminuir a rejeição ao transplante de ilhotas, que produziram insulina por mais tempo.
O próximo passo, segundo Sogayar, é testar em animais maiores e em seres humanos. Mares Guia acredita que, se tudo correr bem, esses testes podem começar dentro de um ou dois anos.
O que está mais perto de acontecer é a retomada dos transplantes de ilhotas, ainda sem as cápsulas, no Hospital das Clínicas da USP.
"De 2007 para cá ficamos sem recursos. Já temos a aprovação do Hospital das Clínicas. Faltam mais dinheiro e o recrutamento de pacientes", diz Sogayar.
Para serem submetidos à técnica experimental, os pacientes devem ter grandes variações de glicemia e episódios frequentes de hipoglicemia sem o aparecimento de sintomas.


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