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Bactérias proliferam mais no verão, conclui pesquisa
Trata-se do primeiro trabalho científico relevante a estabelecer essa relação
Microrganismos estudados vivem na terra, na água e na areia e são considerados um dos principais fatores que causam infecção hospitalar
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como os vírus da gripe
e dos resfriados se espalham
mais facilmente no inverno,
um novo estudo norte-americano sugere que o verão pode
ser a estação preferida de bactérias que causam infecções
hospitalares. É o primeiro trabalho científico relevante que
estabelece essa relação, segundo os infectologistas.
Pesquisadores da Universidade do Oregon (EUA) e do Instituto de Pesquisa do Hospital
Sick Children (Canadá) descobriram que uma série de infecções provocadas pelas bactérias gram-negativas -que são
as principais envolvidas em infecções urinárias e gastrointestinais, por exemplo- apresentam picos durante o verão.
A pesquisa, publicada no periódico "Infection Control and
Hospital Epidemiology", foi baseada em sete anos de investigações em um hospital de Baltimore. Os resultados indicam
que o número de pacientes afetados por bactérias como a
Pseudomonas aeruginosa, a Escherichia coli, a Enterobacter
cloacae, e a Acinetobacter baumannii pode subir até 17% a cada dez graus de elevação da
temperatura. Em conseqüência disso, a incidência de doenças causadas por esses microrganismos pode ser 46% maior
no verão do que no inverno,
apontaram os pesquisadores.
Embora as razões do aumento sejam diferentes para cada
microrganismo e não estejam
ainda bem estudadas, a variação sazonal passa a ser um dado importante no diagnóstico e
na adoção de medidas preventivas contra infecções hospitalares, avalia Jessina McGregor,
professora-assistente na Universidade de Oregon e uma das
autoras do estudo.
"Todo mundo sabe que existe uma sazonalidade para certas infecções virais, como as
provocadas pelo influenza, mas
agora nós descobrimos que algumas das infecções bacterianas têm seu pico no verão."
Para a infectologista Maria
Claudia Stockler, do hospital
São Luiz, o estudo é ainda preliminar, mas, se outros trabalhos vierem a comprovar essa
relação, novas atitudes poderão ser acrescentadas ao rol de
medidas já adotadas para a prevenção da infecção hospitalar,
como uma diminuição da temperatura da UTI.
Stockler explica que as bactérias gram-negativas estão na
natureza (na terra, na areia e
na água, por exemplo), mas só
acometem o homem dentro do
ambiente hospitalar. "Em geral, quando o indivíduo está
com baixa imunidade, é idoso,
está com um tubo, com uma úlcera de pressão [escarras]",
exemplifica a médica.
Segundo o infectologista
Max Igor Banks Ferreira Lopes, do Hospital das Clínicas de
São Paulo, outros trabalhos
menores já tentaram associar o
clima a uma maior ou menor
incidência de bactérias. "Mas
só se conseguia estabelecer relações entre as infecções virais,
principalmente gripe, e algumas pneumonias durante o inverno. Por isso, esse novo trabalho é bem interessante."
As hipóteses -nenhuma pode ser comprovada- apontadas pelos pesquisadores para
explicar o aumento dessas bactérias no verão são as mais variadas. No caso da Pseudomonas, por exemplo, micróbio que
costuma estar presente na
água, a razão seria o fato de as
pessoas freqüentarem mais
piscinas no verão, o que poderia aumentar a colonização da
bactéria no organismo e facilitar a infecção por ela.
Já a Escherichia coli, uma
bactéria intestinal muito associada às infecções urinárias, seria mais incidente no verão
porque as pessoas teriam mais
relações sexuais nessa estação,
segundo os pesquisadores.
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