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Pesquisas testam ômega 3 contra epilepsia resistente
Suplementos são associados à medicação para diminuir frequência de crises
Estudos feitos com animais apontam que o óleo reduz a hiperexcitação do cérebro de quem tem a doença e atua na formação neuronal
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores brasileiros estudam o uso de suplementos do
ácido graxo ômega 3 em combinação com o tratamento convencional para tratar pacientes
com epilepsia refratária
-quando as crises persistem
mesmo com uso de remédios.
Uma pesquisa em andamento na USP de Ribeirão Preto em
parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) avaliará até o fim do ano 50
crianças com epilepsia resistente aos medicamentos. Entre
as que já estão recebendo ômega 3, a resposta tem sido boa,
com redução na frequência das
crises epilépticas.
"Precisamos ver se essa resposta vai se manter a longo prazo. O tratamento ainda não é
reconhecido como eficaz, não é
oferecido como uma medicação. Mas as crianças que apresentam boa resposta vão continuar tomando ômega 3 por
tempo indeterminado", diz Vera Cristina Terra, neurologista
e coordenadora do Centro de
Cirurgia de Epilepsia em
Crianças do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto.
Um outro trabalho, realizado
pela Universidade de Mogi das
Cruzes, mostrou que o óleo favoreceu a redução das crises
em até 75% e melhorou a qualidade de vida de nove adultos
que receberam suplementos
durante seis meses. Eles continuam ingerindo as cápsulas.
Em ambos os estudos, os pacientes recebem 3 gramas de
ômega 3 por dia, distribuídos
em três cápsulas que são ingeridas com as refeições.
"O ômega 3 tem capacidade
anti-inflamatória e atua na formação de novos neurônios. Há
estudos em várias partes do
mundo não só com pacientes
com epilepsia mas também
com depressão e Alzheimer,
com bons resultados", afirma a
neurologista Marly de Albuquerque, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes.
Estudos em animais também
apontaram que o óleo reduz a
excitação cerebral característica de pessoas com epilepsia.
Esse processo inibitório provavelmente faz parte dos mecanismos que levam à diminuição
da frequência de crises.
Segundo o neurofisiologista
Fúlvio Alexandre Scorza, professor do Departamento de
Neurologia e Neurocirurgia da
Unifesp, alguns especialistas
costumam receitar suplementos de ômega 3 para pacientes
que não respondem bem aos
remédios. "Além disso, também oriento a dieta, sugerindo
o consumo de peixes como salmão três vezes por semana e de
linhaça, para que o paciente aumente o aporte do nutriente",
complementa Albuquerque.
No entanto, os suplementos
não substituem as drogas antiepilépticas, que devem ser ingeridas rigorosamente conforme a prescrição médica para
evitar crises mais graves, que
podem causar lesões.
Tratamento
Pacientes com epilepsia refratária podem receber indicação de cirurgia para a retirada
da parte hiperexcitada do cérebro quando a doença acomete
somente um lado do órgão, com
sucesso em cerca de 90% dos
casos. No caso de epilepsias bilaterais (quando ocorre nos
dois lados do cérebro), a operação não é indicada, pois pode
trazer sequelas.
De acordo com os pesquisadores, os suplementos de ômega 3 trouxeram resultados para
os dois tipos da doença (unilateral e bilateral).
A epilepsia é a doença neurológica crônica grave mais comum, atingindo 1% da população de países desenvolvidos e
2% dos habitantes de países em
desenvolvimento. "Nossa incidência é maior porque há mais
neuroinfecções, principalmente a neurocisticercose, que podem levar à doença", acrescenta Scorza.
No entanto, o problema tem
bom prognóstico -até 70% dos
pacientes respondem bem ao
tratamento com remédios antiepilépticos, podendo ficar livres das crises.
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