São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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Pesquisas testam ômega 3 contra epilepsia resistente

Suplementos são associados à medicação para diminuir frequência de crises

Estudos feitos com animais apontam que o óleo reduz a hiperexcitação do cérebro de quem tem a doença e atua na formação neuronal


JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores brasileiros estudam o uso de suplementos do ácido graxo ômega 3 em combinação com o tratamento convencional para tratar pacientes com epilepsia refratária -quando as crises persistem mesmo com uso de remédios.
Uma pesquisa em andamento na USP de Ribeirão Preto em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) avaliará até o fim do ano 50 crianças com epilepsia resistente aos medicamentos. Entre as que já estão recebendo ômega 3, a resposta tem sido boa, com redução na frequência das crises epilépticas.
"Precisamos ver se essa resposta vai se manter a longo prazo. O tratamento ainda não é reconhecido como eficaz, não é oferecido como uma medicação. Mas as crianças que apresentam boa resposta vão continuar tomando ômega 3 por tempo indeterminado", diz Vera Cristina Terra, neurologista e coordenadora do Centro de Cirurgia de Epilepsia em Crianças do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto.
Um outro trabalho, realizado pela Universidade de Mogi das Cruzes, mostrou que o óleo favoreceu a redução das crises em até 75% e melhorou a qualidade de vida de nove adultos que receberam suplementos durante seis meses. Eles continuam ingerindo as cápsulas.
Em ambos os estudos, os pacientes recebem 3 gramas de ômega 3 por dia, distribuídos em três cápsulas que são ingeridas com as refeições.
"O ômega 3 tem capacidade anti-inflamatória e atua na formação de novos neurônios. Há estudos em várias partes do mundo não só com pacientes com epilepsia mas também com depressão e Alzheimer, com bons resultados", afirma a neurologista Marly de Albuquerque, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes.
Estudos em animais também apontaram que o óleo reduz a excitação cerebral característica de pessoas com epilepsia. Esse processo inibitório provavelmente faz parte dos mecanismos que levam à diminuição da frequência de crises.
Segundo o neurofisiologista Fúlvio Alexandre Scorza, professor do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Unifesp, alguns especialistas costumam receitar suplementos de ômega 3 para pacientes que não respondem bem aos remédios. "Além disso, também oriento a dieta, sugerindo o consumo de peixes como salmão três vezes por semana e de linhaça, para que o paciente aumente o aporte do nutriente", complementa Albuquerque.
No entanto, os suplementos não substituem as drogas antiepilépticas, que devem ser ingeridas rigorosamente conforme a prescrição médica para evitar crises mais graves, que podem causar lesões.

Tratamento
Pacientes com epilepsia refratária podem receber indicação de cirurgia para a retirada da parte hiperexcitada do cérebro quando a doença acomete somente um lado do órgão, com sucesso em cerca de 90% dos casos. No caso de epilepsias bilaterais (quando ocorre nos dois lados do cérebro), a operação não é indicada, pois pode trazer sequelas.
De acordo com os pesquisadores, os suplementos de ômega 3 trouxeram resultados para os dois tipos da doença (unilateral e bilateral).
A epilepsia é a doença neurológica crônica grave mais comum, atingindo 1% da população de países desenvolvidos e 2% dos habitantes de países em desenvolvimento. "Nossa incidência é maior porque há mais neuroinfecções, principalmente a neurocisticercose, que podem levar à doença", acrescenta Scorza.
No entanto, o problema tem bom prognóstico -até 70% dos pacientes respondem bem ao tratamento com remédios antiepilépticos, podendo ficar livres das crises.


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