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Médicos indicam anabolizantes a jovens
Medicamentos, que tratam doenças neurológicas, anemia e falta de testosterona, não devem ser usados por pessoas saudáveis
Apresentando-se como um paciente que queria ganhar músculos para o verão, repórter da Folha passou por consulta com cinco médicos
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Obter anabolizante é quase
tão fácil quanto comprar aspirina. Em São Paulo, a Folha encontrou médicos que se especializaram em "tratar" jovens
que sonham em engrossar os
músculos da noite para o dia.
Apesar de os anabolizantes
serem indicados exclusivamente para tratar problemas
de saúde, os médicos os prescrevem para pessoas saudáveis.
E além de provocarem danos
sérios e irreversíveis, essas drogas chegam a ser receitadas
sem nenhum tipo de exame.
Apresentando-se como um
paciente que desejava ganhar
músculos para o verão, o repórter se consultou com cinco médicos. Três disseram que os
anabolizantes seriam o único
remédio e não alertaram para
os riscos nem deram a receita.
Outro médico prometeu
prescrever a droga na consulta
seguinte, depois que o repórter
buscasse um nutricionista. E o
último deu a entender que faria
o mesmo, mas impôs que o repórter frequentasse a academia nos sete dias da semana.
A Folha chegou aos cinco
médicos por indicação de professores de musculação e de fóruns na internet. Três deles
trabalham em clínicas de estética (em Moema, no Paraíso e
nos Jardins). Os outros dois
atendem em consultórios (em
Higienópolis e no Ibirapuera).
Em quase todas as salas de
espera, os pacientes são jovens
de peito estufado e braços inflados. Eles desembolsam de
R$ 150 a R$ 350 pela consulta.
Embora os anabolizantes sejam achados no mercado negro
(em academias e na internet),
esses jovens preferem o médico porque acreditam que, dessa
forma, as drogas deixam de ser
perigosas. Pura ilusão.
"Os anabólicos não devem
ser usados de forma nenhuma.
Nunca. Nem com fins estéticos
nem para melhorar o desempenho no esporte", diz Eduardo
De Rose, especialista em medicina do esporte e membro da
Agência Mundial Antidoping.
Os anabolizantes são derivados da testosterona, hormônio
natural ligado ao desenvolvimento das características sexuais masculinas e ao crescimento dos músculos. Foram
criados nos anos 1930 para tratar homens que não produzem
testosterona suficiente.
Hoje, eles são indicados também para pessoas com doenças
neurológicas que afetam os
músculos, idosos que precisam
de reposição de testosterona e
pessoas que sofrem certos tipos de anemia. Não é indicado
para pessoas saudáveis.
Para ganhar músculos, jovens usam essas drogas em doses cem vezes superiores às indicadas para tratar problemas
de saúde. A lista de efeitos colaterais é extensa. Vai da queda
de cabelo ao ataque de coração.
De ataques de agressividade ao
câncer de fígado.
"Quanto maior a dose, maior
o risco. Mas há pessoas que tomam pequenas doses e têm
problemas. Essas substâncias
são coisas sérias. Não podem
ser vendidas sem indicação segura", diz a médica Ruth Clapauch, do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.
Por isso, anabolizantes só
podem ser vendidos com receita médica. E a prescrição fica
retida na farmácia. Quem dá ou
vende o produto sem a devida
receita comete crime de tráfico
de drogas.
Outro risco é o vício. Quando
a pessoa suspende o uso do
anabolizante, os músculos desincham. Como esse "retrocesso" não costuma ser bem aceito, são grandes as chances de
que a pessoa volte a usá-lo várias vezes ao longo da vida.
"Isso é muito preocupante",
diz Daniel Paulino Venâncio,
professor de educação física da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo). "O padrão de beleza é ditado pela TV, mas nem
todos podem atingi-lo."
Para especialistas, a única receita segura para ganhar músculos inclui exercitar-se e alimentar-se corretamente e descansar bem. A ajuda de médicos, nutricionistas e profissionais de educação física também
é recomendada.
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