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Uso da aspirina para evitar infarto deve ser feito com cautela
Artigo questiona prescrição do medicamento na chamada
prevenção primária, quando ainda não ocorreu o evento
Mesmo indivíduos com alto
risco devem ser avaliados
antes da prescrição; uso da
droga é indiscutível para
quem sofreu infarto ou AVC
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora, de acordo com as últimas diretrizes americanas, a
aspirina deva ser prescrita de
forma rotineira para indivíduos com alto risco cardiovascular, o remédio não deve ser
usado indiscriminadamente na
prevenção primária (quando o
paciente ainda não sofreu um
infarto ou derrame, mas há
chance de que isso ocorra).
Esse é o resultado de uma
meta-análise, publicada no
"Lancet", que envolveu seis estudos e mais de 95 mil pessoas.
Apesar de a aspirina comprovadamente reduzir a chance de
um infarto ou derrame, o medicamento deve ser reservado aos
pacientes em que esse risco é
maior do que o de ter sangramentos -conhecido efeito colateral da aspirina.
Os autores relatam que o risco de eventos cardiovasculares
caiu de 0,57% para 0,51% por
ano com o uso da aspirina, mas,
por outro lado, o remédio aumentou a chance de sangramentos importantes de 0,07%
para 0,10% por ano, o que, segundo o estudo, é estatisticamente significante.
Por isso, mesmo indivíduos
com alto risco cardiovascular
(pelas recomendações brasileiras, aqueles com risco superior
a 20% em dez anos) devem ser
bem avaliados antes de receber
o medicamento.
"O que a meta-análise destaca é que mesmo para esses pacientes, se o médico avaliar que
pode haver sangramentos importantes -especialmente no
sistema nervoso central ou no
trato digestório, por exemplo,
em idosos que já têm histórico
de muitas quedas, úlceras ou
doença diverticular- o uso da
aspirina deve ser pesado", avalia o cardiologista Juliano de
Lara Fernandes, pesquisador
da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Hemorragias
Sabe-se que o uso da aspirina
traz o risco de graves hemorragias digestivas, do estômago ou
do intestino grosso, que podem
ocorrer de forma rápida ou lenta, e até mesmo imperceptível.
"Talvez algumas pessoas não
devam tomar", diz o cardiologista Luiz Antonio Machado
César, diretor da unidade clínica de coronariopatia crônica do
InCor (Instituto do Coração),
em São Paulo. "Quem tem alto
risco tem que tomar sempre, a
menos que haja alergia à aspirina, que é raríssima, ou em situações especiais de já ter havido sangramento digestivo."
Ele cita um exemplo: um homem de 45 anos, com discreto
aumento da pressão arterial
deve primeiramente controlar
a hipertensão. Já um indivíduo
com 70 anos, com placas nas
carótidas e hipertensão moderada ou grave, deve lançar mão
da aspirina.
Mas há situações em que ela
continua sendo indispensável.
"É o caso dos quadros de angina
bem definida", diz o cardiologista Antonio Carlos Lopes, da
Universidade Federal de São
Paulo. Nesses pacientes, ela pode ser determinante para evitar
que o trombo que causa dor
provoque uma obstrução.
O cardiologista Marcos Knobel, coordenador da unidade
coronariana do hospital Albert
Einstein, em São Paulo, ressalta que há métodos de imagem
para diagnosticar a doença aterosclerótica. "Quem já tem a
doença precisa tomar", diz ele.
O que ninguém discute é o
valor da aspirina na chamada
prevenção secundária, isto é,
quando o paciente já sofreu um
infarto ou AVC. Nesses casos,
todos devem usar o remédio
para evitar um segundo evento.
Hoje costuma-se receitar uma
dose diária de 100 miligramas.
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