São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Pai depois de 11 anos de várias tentativas

Após muitas tentativas de tratamento para driblar problemas de infertilidade, Wanderley Martins, 42, passa o primeiro Dia dos Pais ao lado de Gabriel, de quatro meses

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Wanderley Raya, 42, com seu filho Gabriel, de quatro meses

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Quatro de agosto de 2008. O analista de remuneração Wanderley Raya Martins, 42, lembra o dia exato em que recebeu a que considera "uma das notícias mais felizes de sua vida". Sua mulher, Marli de Fátima Martins, estava grávida de Gabriel, hoje com quatro meses.
Foi um longo caminho até o resultado positivo: as tentativas de ter um filho começaram em 1997. Depois de um ano buscando a gravidez naturalmente sem sucesso, os dois começaram a peregrinação pelos consultórios. Foram quase 20 médicos, entre ginecologistas, urologistas e geneticistas.
Um deles receitou a Wanderley uma injeção doloridíssima, que não deu nenhum resultado. Outro teve seu registro cassado pouco depois de atender o casal. De um terceiro, Wanderley ouviu que nunca poderia ser pai. "Ele me disse que, se eu quisesse ter um filho, a única saída seria adotar. Saí arrasado da clínica, foi muito difícil."
Foi só no ano 2000 que eles chegaram a um médico de uma clínica de reprodução humana que disse qual era o problema: Wanderley tinha os espermatozoides em baixa quantidade e com baixa motilidade (movimentação ruim), entre outros problemas. "O baque foi muito grande. Você nunca acha que tem algum problema. Fica se perguntando: "Por que comigo?'", diz ele.
Foi nesse ano que o casal tentou sua primeira fertilização in vitro. Apesar de o resultado ter sido positivo, a gravidez não foi adiante. Na segunda semana, Marli perdeu o bebê. "Ela ficou muito traumatizada e não quis tentar de novo."
Ele afirma, porém, que não queria desistir. "Todo ano eu dizia que, quando ela quisesse repetir, eu arrumaria o dinheiro, daria um jeito. Principalmente nos aniversários dela, eu perguntava se ela não queria tentar de novo, pois o tempo ia passando, ela estava chegando perto dos 40 e ficaria mais difícil." Em 2007, quando Marli fez 37 anos, disse que estava pronta. Foram a outra clínica e fizeram novamente a fertilização in vitro. A gravidez foi confirmada, mas, nove semanas depois, veio outro aborto natural. "Foi uma das fases mais difíceis do processo. O bebê já estava formado, ela teve que fazer curetagem. Foi em uma maternidade, víamos as mães saindo com os filhos de lá. Foi um dos dias mais tristes da minha vida", lembra Wanderley.
O casal ainda tinha alguns embriões congelados e foi feita uma nova transferência. Wanderley conta que esperar o resultado dos exames era "um sofrimento". "Entrávamos toda hora na internet para ver se o resultado já tinha saído. Em um clique, nossa vida poderia mudar completamente. Mas deu negativo", relata.
Foi apenas na quarta transferência que o processo deu certo. Após comemorarem o resultado positivo, veio a preocupação com a gravidez. Como eles já tinham passado por duas gestações que não foram adiante, ligavam para o médico por "qualquer coisinha".
Mas correu tudo bem. O parto foi antecipado em duas semanas porque o líquido amniótico estava diminuindo, mas Gabriel nasceu saudável. Wanderley assistiu ao parto. "Depois de tantas dificuldades, senti uma alegria imensa quando ele nasceu. Nunca tinha sentido algo assim na vida."

Participação
Nos 11 anos de tentativas, Wanderley conta que participou ativamente de todo o processo. Escolheu as clínicas de reprodução humana, pesquisou preços de medicamentos, tomou vitaminas para tentar melhorar a qualidade dos espermatozoides. Foi a todas as consultas médicas -"dava um jeitinho no trabalho e ficava até mais tarde para compensar"-, injetava os remédios em Marli -"ela poderia se autoaplicar, mas tinha medo"- e acompanhava quase diariamente o crescimento dos óvulos.
"A gente passou por períodos muito difíceis. A medicação mexe muito com o organismo da mulher. Perder os bebês depois de ter um resultado positivo fez nosso mundo desabar. Tivemos que ter muita coragem para não desanimar."
Conta, ainda, que gastou muito dinheiro, mas que faria tudo novamente. "A sensação de ser pai é indescritível. Chegar do trabalho e ver o Gabriel dar gargalhada quando faço alguma brincadeira... Não tem dinheiro que pague isso."

Infertilidade masculina
Segundo o ginecologista Alfonso Massaguer, diretor da Huntington Medicina Reprodutiva, clínica onde Marli e Wanderley fizeram o tratamento, 50% dos casos de infertilidade são de causa masculina. "As pessoas costumam colocar a culpa só na mulher, mas a infertilidade masculina é tão comum quanto a feminina."
Ele diz que, no caso de Wanderley, não foram encontradas as causas dos problemas com os espermatozoides. "Poderiam ser genéticas, infecciosas, hormonais... Poderia haver vários fatores envolvidos."
Como as alterações no esperma eram muito graves e não foi possível obter melhora com um tratamento, foi preciso recorrer à fertilização in vitro.
Apesar de o problema ser no homem, o principal fator para que o tratamento dê certo é a idade da mulher. Como Marli tinha entre 35 e 40 anos, a chance de dar certo era de 40%.
"Quanto mais rápido se busca o tratamento, maior é a chance de ele dar certo. Mesmo quando o homem não libera esperma ao ejacular, a chance de ser pai é de dois terços", afirma o ginecologista.


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