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75% dos tumores de cabeça e pescoço são descobertos tarde
Estudo avaliou mais de 16 mil registros no Estado de São Paulo de tumores em locais como lábio, língua e laringe
Maioria dos casos acontece nas mucosas da cavidade oral, laringe e esôfago; estágio avançado da doença leva a cirurgias mutiladoras
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três em cada quatro tumores
de cabeça e pescoço são descobertos em estágio avançado,
quando as chances de cura são
menores e os tratamentos,
mais agressivos. O dado é de
um estudo sobre o perfil epidemiológico desses cânceres no
Estado de São Paulo, feito pelo
Hospital A.C. Camargo.
Para chegar ao resultado, os
autores analisaram o registro
de mais de 16 mil pacientes entre os anos de 2000 e 2006,
diagnosticados com tumores
de lábio, cavidade oral, faringe,
amígdala e glândulas salivares,
entre outros. Trata-se de um
dos poucos levantamentos que
detalharam as prevalências de
cada um dos tumores englobados no grupo considerado câncer de cabeça e pescoço.
Segundo o trabalho, 75% dos
casos foram diagnosticados em
estágio avançado e isso não se
alterou ao longo dos anos. No
mesmo período, os casos de
câncer de nasofaringe tiveram
o maior aumento proporcional.
Os pacientes diagnosticados
eram, na maioria, homens com
mais de 60 anos e baixo nível de
escolaridade. "Falta conhecimento dos sintomas", afirma o
cirurgião Luiz Paulo Kowalski,
diretor do departamento de cirurgia de cabeça e pescoço e
otorrinolaringologia do Hospital A.C. Camargo e um dos líderes desse trabalho.
"Nos Estados Unidos, a situação é inversa: 70% dos casos
são descobertos em estágio inicial", conta o cirurgião de cabeça e pescoço Sérgio Samir Arap,
do Hospital das Clínicas de São
Paulo e gerente-médico do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
"A maioria desses tumores
acontece nas mucosas da cavidade oral, laringe e esôfago",
diz Arap. "Mas faltam profissionais capacitados para identificar esses tumores precocemente e encaminhar os casos
para um serviço especializado",
completa o cirurgião.
Estima-se que os cânceres de
boca e orofaringe sejam os tipos mais frequentes dessa categoria, somando aproximadamente 390 mil novos casos a
cada ano no Brasil. Segundo o
artigo, o Brasil se destaca como
um dos países com maior incidência desses tumores, devido
à exposição aos fatores de risco.
Os tumores de cabeça e pescoço são relacionados a exposição excessiva ao sol (que causa
a doença na pele e nos lábios),
tabagismo e consumo abusivo
de álcool. Estudos recentes associam o aumento de casos à
infecção pelo vírus HPV, mesmo em pessoas assintomáticas.
Inflamação na gengiva
Uma pesquisa recente da
Universidade de Buffalo (EUA)
revelou que a periodontite (inflamação crônica da gengiva)
também está relacionada ao
aumento do risco desses tumores. A doença leva à perda progressiva de ossos e do tecido
que sustenta os dentes e foi associada a cânceres de cavidade
oral, orofaringe e laringe.
Para prevenir as lesões, além
de uma boa higiene oral, recomenda-se adotar uma dieta
saudável. "Comer vegetais
amarelos, ricos em vitamina A,
frutas cítricas e folhas verdes
diminui o risco", diz Kowalski.
Além disso, pessoas com
mais de 40 anos, com más condições dentárias, fumantes e
portadores de próteses mal
ajustadas devem passar por um
exame visual da boca, que pode
ser feito por dentista, uma vez
por ano para identificar lesões.
"No entanto, as campanhas
têm sido pouco eficazes no controle do surgimento de novos
casos e no diagnóstico precoce", observa Kowalski.
Diagnosticados precocemente, esses tumores têm grande
chance de cura, que chega a
95%, com cirurgias mais simples. Já nos casos avançados, o
tempo de operação pode ser
dez vezes maior, as cirurgias
são mais mutiladoras e há necessidade de reabilitação.
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