São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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Suplementos têm substâncias proibidas

Produtos nutricionais estão turbinados com estimulantes, esteroides anabolizantes ou emagrecedor de uso controlado

"Contaminação" atinge um em cada cinco complementos, segundo estimativa dos endocrinologistas

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

Pelo menos 20% dos suplementos alimentares vendidos no mercado brasileiro estão "contaminados" com substâncias proibidas ou controladas.
Esses produtos, usados por atletas e frequentadores de academia, têm fórmulas turbinadas com sibutramina (substância que aumenta a sensação de saciedade), diuréticos, estimulantes e esteroides anabolizantes.
A estimativa - e o problema- são consenso entre médicos que participaram do 29º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, que aconteceu esta semana, em Gramado.
Suplementos alimentares são isentos de obrigatoriedade de registro sanitário na Anvisa. O órgão classifica os produtos como alimento, e não medicamento.
A resolução mais recente sobre o assunto é de 6 de agosto. No documento, os compostos vitamínicos e alimentares são enquadrados na mesma categoria de outros 29 produtos isentos de registro, como sal, gelo, café e óleos vegetais. Segundo a Anvisa, a responsabilidade pela fiscalização da produção desses suplementos é de Vigilâncias Sanitárias dos Estados e municípios.

FÓRMULAS MÁGICAS
Sem fiscalização federal, fica difícil saber o que há nas fórmulas vendidas como milagrosas. "Não há indicação de composição na rotulagem. É difícil ter controle, principalmente com os importados", diz Jocelito Martins, educador físico e oficial de controle da Agência Mundial Antidoping (World Anti-Doping Agency).
Nos EUA e na Europa, o índice de "contaminação" também gira em torno de 20%, de acordo com uma pesquisa da agência mundial.
"No exterior, esses compostos são chamados de petróleo branco. Há cidades nos EUA em que há muitas fábricas e nenhum controle", diz Eduardo de Rose, médico membro do Comitê Olímpico Internacional.
No Brasil, não há nenhum levantamento oficial nem sobre a presença de importados nem sobre as substâncias proibidas. "É um mercado muito polêmico. A isenção de registro é um retrocesso por parte da Anvisa", opina Turíbio Leite de Barros, médico fisiologista da Unifesp (Universidade Federal Paulista).

MAIS POPULARES
Não há dados oficiais, mas dizem os especialistas que o mercado de suplementos só cresce. "Não só atletas de alta performance procuram as fórmulas. Virou quase uma competição: quem não toma, se sente menos preparado", afirma Suzana Bonumá, nutricionista e autora do livro "A Dieta do Corredor" (Editora Academia de Inteligência, 176 págs., R$ 24,90).
Uma das maiores indústrias nacionais do ramo, a Nutrilatina, cresceu 35% no último ano e tem duas linhas de suplementos .
O fato é que não tem como contraindicar os compostos vitamínicos e energéticos. "Já faz parte da cultura do esportista", diz Barros.
Outro ponto importante é que muitos atletas de alto rendimento precisam complementar a dieta. "Um nadador profissional pode gastar até 8.000 calorias por dia", lembra Martins.
Além do gasto energético, a rotina de treinos e competições, muitas vezes, dificulta uma alimentação regrada.
"Como eles treinam muito, acabam se alimentando mal. É difícil suprir as necessidades diárias só com a dieta", complementa Bonumá.
Para fugir de produtos contaminados, o indicado é procurar referências sobre a origem da fábrica. Para os atletas, é mais garantido analisar o composto em laboratório antes de consumir.


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