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Checagem cirúrgica reduz em 40% índice de infecção
Procedimentos adotados por hospitais brasileiros aumentam segurança em operações
Recomendações da OMS são adotadas antes e após a cirurgia; "check list" verifica se não foi esquecido objeto dentro do corpo do paciente
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A checagem de uma série de
procedimentos na realização
de cirurgias reduziu em 40% o
índice de infecção e em 10% a
taxa de mortalidade no HCor
(Hospital do Coração). No INC
(Instituto Nacional de Cardiologia), a mesma atitude diminuiu em 20% os casos de complicações pós-operatórias.
Os resultados, referentes ao
período de janeiro a outubro
deste ano, são de levantamentos feitos pelas instituições
após implantarem um "check
list" recomendado pela OMS
(Organização Mundial da Saúde) e adotado pela JCI (Joint
Commission International),
entidade norte-americana que
certifica serviços de saúde.
Um dos itens do "check list" é
a adequação da dose de antibiótico profilático 60 minutos antes da cirurgia, que está relacionada à redução de infecções.
"Parece uma coisa tão banal,
mas é muito importante. É preciso checar se o antibiótico foi
dado no tempo e na dose adequados. Em adultos, há variações. Você não pode fazer a
mesma dosagem para uma mulher de 50 kg e para um homem
de 150 kg", explica a médica
Magaly Arrais, responsável pelo centro cirúrgico do HCor.
No Instituto Nacional de
Cardiologia, em dez meses de
implantação do "check list" o
índice de adequação da terapia
com antibiótico aumentou 33%
(passou de 75%, em média, para 100%). "Agora estamos levantando o impacto disso no
pós-operatório, assim como
dados sobre a mortalidade",
afirma Alexandre Siciliano,
chefe da Divisão de Procedimentos Cirúrgicos do INC.
As recomendações da OMS
incluem procedimentos a serem adotados antes, durante e
após a cirurgia -como perguntar o nome do paciente e verificar se não foi esquecido nenhum objeto dentro dele. No INC, seis compressas cirúrgicas foram esquecidas em 2008.
Neste ano, com a checagem, não houve nenhum caso.
A situação parece incomum, mas não é. Ensanguentada, a compressa pode "desaparecer"
dentro do tórax do paciente. Se o problema não for detectado a
tempo, será preciso uma nova
cirurgia para retirá-la.
"Temos de contar quantas
compressas saíram [das embalagens] e quantas foram usadas.
Se o número não bate, tem que
procurar no lixo, no tórax. Na
dúvida, faz-se uma radiografia.
Todas as compressas são marcadas e a gente pode visualizá-las no raio-X", diz Siciliano.
Outras complicações pós-cirúrgicas, como sangramento,
também foram reduzidas após
o "check list", adotado hoje por
mais de 200 profissionais que
atuam no centro cirúrgico.
A boa notícia é que a melhoria desses índices no INC não
demandou investimentos financeiros, apenas treinamento
de pessoal. "Só é preciso organização e convencimento das
pessoas", afirma Siciliano.
Não é uma tarefa fácil, reconhece a médica Magaly Arrais,
do HCor. "Os médicos não gostam muito de aderir a protocolos, de ter seus procedimentos
checados e suas condutas corrigidas ou controladas."
Prevenção
A OMS desenvolve campanhas para a segurança do paciente em hospitais desde
2004, quando lançou o programa mundial "World Alliance
for Patient Safety", com o objetivo de reduzir as complicações
cirúrgicas decorrentes de falhas que podem ser prevenidas.
São realizadas anualmente
234 milhões de cirurgias no
mundo, com taxa de complicações de 3 a 16% e mortalidade
de 0,4 a 0,8% nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, as complicações
alcançam taxas de 5 a 10%. Segundo a OMS, a metade poderia ser evitada.
Uma falha que pode ser prevenida é a operação de membros errados. Em 2006, do total
de eventos que acabaram em
morte ou lesões sérias nos hospitais dos EUA, 13,1% foram cirurgias em local errado.
Para evitar isso, em hospitais
que adotam o "check list" os pacientes chegam ao centro cirúrgico com o local da cirurgia já
demarcado com uma caneta especial (cuja tinta permanece
durante um tempo na pele).
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