São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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Checagem cirúrgica reduz em 40% índice de infecção

Procedimentos adotados por hospitais brasileiros aumentam segurança em operações

Recomendações da OMS são adotadas antes e após a cirurgia; "check list" verifica se não foi esquecido objeto dentro do corpo do paciente

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A checagem de uma série de procedimentos na realização de cirurgias reduziu em 40% o índice de infecção e em 10% a taxa de mortalidade no HCor (Hospital do Coração). No INC (Instituto Nacional de Cardiologia), a mesma atitude diminuiu em 20% os casos de complicações pós-operatórias.
Os resultados, referentes ao período de janeiro a outubro deste ano, são de levantamentos feitos pelas instituições após implantarem um "check list" recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e adotado pela JCI (Joint Commission International), entidade norte-americana que certifica serviços de saúde.
Um dos itens do "check list" é a adequação da dose de antibiótico profilático 60 minutos antes da cirurgia, que está relacionada à redução de infecções.
"Parece uma coisa tão banal, mas é muito importante. É preciso checar se o antibiótico foi dado no tempo e na dose adequados. Em adultos, há variações. Você não pode fazer a mesma dosagem para uma mulher de 50 kg e para um homem de 150 kg", explica a médica Magaly Arrais, responsável pelo centro cirúrgico do HCor.
No Instituto Nacional de Cardiologia, em dez meses de implantação do "check list" o índice de adequação da terapia com antibiótico aumentou 33% (passou de 75%, em média, para 100%). "Agora estamos levantando o impacto disso no pós-operatório, assim como dados sobre a mortalidade", afirma Alexandre Siciliano, chefe da Divisão de Procedimentos Cirúrgicos do INC.
As recomendações da OMS incluem procedimentos a serem adotados antes, durante e após a cirurgia -como perguntar o nome do paciente e verificar se não foi esquecido nenhum objeto dentro dele. No INC, seis compressas cirúrgicas foram esquecidas em 2008. Neste ano, com a checagem, não houve nenhum caso.
A situação parece incomum, mas não é. Ensanguentada, a compressa pode "desaparecer" dentro do tórax do paciente. Se o problema não for detectado a tempo, será preciso uma nova cirurgia para retirá-la.
"Temos de contar quantas compressas saíram [das embalagens] e quantas foram usadas. Se o número não bate, tem que procurar no lixo, no tórax. Na dúvida, faz-se uma radiografia. Todas as compressas são marcadas e a gente pode visualizá-las no raio-X", diz Siciliano.
Outras complicações pós-cirúrgicas, como sangramento, também foram reduzidas após o "check list", adotado hoje por mais de 200 profissionais que atuam no centro cirúrgico.
A boa notícia é que a melhoria desses índices no INC não demandou investimentos financeiros, apenas treinamento de pessoal. "Só é preciso organização e convencimento das pessoas", afirma Siciliano.
Não é uma tarefa fácil, reconhece a médica Magaly Arrais, do HCor. "Os médicos não gostam muito de aderir a protocolos, de ter seus procedimentos checados e suas condutas corrigidas ou controladas."

Prevenção
A OMS desenvolve campanhas para a segurança do paciente em hospitais desde 2004, quando lançou o programa mundial "World Alliance for Patient Safety", com o objetivo de reduzir as complicações cirúrgicas decorrentes de falhas que podem ser prevenidas.
São realizadas anualmente 234 milhões de cirurgias no mundo, com taxa de complicações de 3 a 16% e mortalidade de 0,4 a 0,8% nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, as complicações alcançam taxas de 5 a 10%. Segundo a OMS, a metade poderia ser evitada.
Uma falha que pode ser prevenida é a operação de membros errados. Em 2006, do total de eventos que acabaram em morte ou lesões sérias nos hospitais dos EUA, 13,1% foram cirurgias em local errado.
Para evitar isso, em hospitais que adotam o "check list" os pacientes chegam ao centro cirúrgico com o local da cirurgia já demarcado com uma caneta especial (cuja tinta permanece durante um tempo na pele).


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