Estudo diz que em 10% dos casos há falhas congênitas no sistema de defesa e serve de alerta para pediatras

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Crianças que sofrem com infecções repetidas, principalmente no sistema respiratório, podem ser portadoras de imunodeficiências primárias -que são falhas congênitas no sistema de defesa do organismo.
Uma revisão de estudos de artigos nacionais e internacionais publicados nos últimos dez anos mostrou que 10% dessas infecções tinham como causa alguma imunodeficiência primária. O trabalho foi coordenado pelo professor Pérsio Roxo Júnior, do departamento de puericultura e pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Universidade de São Paulo).
As infecções respiratórias de repetição acontecem com maior frequência nas crianças com menos de seis anos. Essas ocorrências caracterizam-se por seis ou mais crises por ano ou por uma ou mais infecções por mês ou ainda por três ou mais infecções anuais do trato respiratório inferior.

Mais de 200 doenças
As chamadas imunodeficiências primárias englobam mais de 200 doenças. Praticamente todas são congênitas (existem desde o nascimento) e hereditárias e são caracterizadas por problemas em setores da resposta imunológica do organismo. A maioria delas aparece na infância e se manifesta como infecções de repetição. Nesses casos, os quadros costumam se prolongar, respondem mal ao tratamento e têm alto risco de complicações.
"Apesar de serem doenças pouco frequentes na população geral, o estudo faz um alerta aos pediatras para que, diante de quadros de infecções de repetição, pensem na possibilidade de imunodeficiência primária", diz Pérsio Roxo Júnior. O diagnóstico precoce, ele lembra, diminui o risco de consequências dessas infecções, como também de complicações e hospitalizações.
As imunodeficiências têm tratamento. "É essencial que os pediatras, frente a crianças com infecções de repetição, sejam rigorosos na história clínica e no exame físico, buscando os possíveis diagnósticos diferenciais para essas condições", diz Roxo Júnior.
A revisão também apontou que metade das crianças com infecções de repetição não tem problema imunológico. Nesse grupo de pacientes, essas crises que se repetem estão mais ligadas a alergias, má alimentação e a doenças crônicas como por exemplo diabetes e cardiopatias. A doença do refluxo também é responsável por boa parte das infecções de repetição.


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