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Anvisa veta concursos de remédios
Campanhas de Aspirina e Anador davam prêmios de até R$ 25 mil para autores das melhores frases
De acordo com a agência, propagandas que oferecem recompensas induzem o consumo indiscriminado dos medicamentos
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) suspendeu ontem em todo o país a
veiculação de duas campanhas
publicitárias que realizavam
concursos culturais para promover os medicamentos Anador e Aspirina, isentos de prescrição médica e usados no tratamento da dor. A decisão foi
publicada no "Diário Oficial da
União" de ontem.
De acordo com Maria José
Delgado Fagundes, gerente de
monitoramento e fiscalização
de propagandas da Anvisa, as
duas campanhas apresentam
irregularidades e cometem infrações sanitárias, pois estimulam ou induzem o uso indiscriminado dos remédios.
Além disso, afirma Delgado,
as campanhas descumprem o
decreto nº 70.951/1972, que diz
que medicamentos não podem
ser objetos de promoção que
distribuam prêmios -como
aconteceu nas duas campanhas
suspensas pela agência.
O concurso da Aspirina, por
exemplo, tem como tema "Um
mundo com menos dor". O participante deve criar uma frase
que responda à pergunta "O
que você faria para ter um
mundo com menos dor?" e ainda precisa indicar o nome de
mais três amigos -que também serão premiados, caso sua
frase seja escolhida.
O concurso estava com inscrições abertas até o dia 19 deste mês e os vencedores recebem prêmios em títulos de capitalização (entre R$ 10 mil e
R$ 25 mil) -os amigos ganham
videogames, celulares e tocadores de MP3. O site com a campanha foi tirado do ar ontem.
Já o concurso do Anador pedia que o participante criasse
uma frase sobre o tema "Como
levar a vida sem dor de cabeça".
As cinco melhores dicas ganhariam um ano de supermercado
(com valores pré-pagos entre
R$ 300 e R$ 500 mensais). As
inscrições foram encerradas no
dia 29 de maio.
"Para nós [da Anvisa] está
muito claro que esse tipo de
campanha induz a pessoa a
consumir de maneira indiscriminada esses medicamentos.
Uma propaganda que dá prêmio de R$ 25 mil e ainda premia mais três pessoas quer
atrair o consumidor oferecendo algo maior que os riscos do
medicamento", diz Fagundes.
De acordo com a gerente, não
é a primeira vez que a Anvisa
suspende campanhas de medicamentos que incluíam concursos para atrair clientes. "As
campanhas estão irregulares.
Todas as técnicas apresentadas
acabam levando à fixação do
produto como o ideal para o
combate à dor de cabeça", diz.
Caráter cultural
A Bayer Health Care, responsável pela Aspirina, e a Boehringer Ingelheim do Brasil, responsável pelo Anador, informaram, por meio de suas assessorias de imprensa, que ainda
não foram notificadas pela Anvisa sobre a decisão.
As duas empresas afirmam
que os concursos promovidos
são "exclusivamente de caráter
cultural", que são abertos a
qualquer participante e que em
momento nenhum vinculam a
participação no concurso à
aquisição do medicamento.
As indústrias também afirmam que produziram as campanhas de acordo com a legislação sanitária vigente.
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