São Paulo, quarta-feira, 10 de junho de 2009

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Anvisa veta concursos de remédios

Campanhas de Aspirina e Anador davam prêmios de até R$ 25 mil para autores das melhores frases

De acordo com a agência, propagandas que oferecem recompensas induzem o consumo indiscriminado dos medicamentos

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) suspendeu ontem em todo o país a veiculação de duas campanhas publicitárias que realizavam concursos culturais para promover os medicamentos Anador e Aspirina, isentos de prescrição médica e usados no tratamento da dor. A decisão foi publicada no "Diário Oficial da União" de ontem.
De acordo com Maria José Delgado Fagundes, gerente de monitoramento e fiscalização de propagandas da Anvisa, as duas campanhas apresentam irregularidades e cometem infrações sanitárias, pois estimulam ou induzem o uso indiscriminado dos remédios.
Além disso, afirma Delgado, as campanhas descumprem o decreto nº 70.951/1972, que diz que medicamentos não podem ser objetos de promoção que distribuam prêmios -como aconteceu nas duas campanhas suspensas pela agência.
O concurso da Aspirina, por exemplo, tem como tema "Um mundo com menos dor". O participante deve criar uma frase que responda à pergunta "O que você faria para ter um mundo com menos dor?" e ainda precisa indicar o nome de mais três amigos -que também serão premiados, caso sua frase seja escolhida.
O concurso estava com inscrições abertas até o dia 19 deste mês e os vencedores recebem prêmios em títulos de capitalização (entre R$ 10 mil e R$ 25 mil) -os amigos ganham videogames, celulares e tocadores de MP3. O site com a campanha foi tirado do ar ontem.
Já o concurso do Anador pedia que o participante criasse uma frase sobre o tema "Como levar a vida sem dor de cabeça". As cinco melhores dicas ganhariam um ano de supermercado (com valores pré-pagos entre R$ 300 e R$ 500 mensais). As inscrições foram encerradas no dia 29 de maio.
"Para nós [da Anvisa] está muito claro que esse tipo de campanha induz a pessoa a consumir de maneira indiscriminada esses medicamentos. Uma propaganda que dá prêmio de R$ 25 mil e ainda premia mais três pessoas quer atrair o consumidor oferecendo algo maior que os riscos do medicamento", diz Fagundes.
De acordo com a gerente, não é a primeira vez que a Anvisa suspende campanhas de medicamentos que incluíam concursos para atrair clientes. "As campanhas estão irregulares. Todas as técnicas apresentadas acabam levando à fixação do produto como o ideal para o combate à dor de cabeça", diz.

Caráter cultural
A Bayer Health Care, responsável pela Aspirina, e a Boehringer Ingelheim do Brasil, responsável pelo Anador, informaram, por meio de suas assessorias de imprensa, que ainda não foram notificadas pela Anvisa sobre a decisão.
As duas empresas afirmam que os concursos promovidos são "exclusivamente de caráter cultural", que são abertos a qualquer participante e que em momento nenhum vinculam a participação no concurso à aquisição do medicamento.
As indústrias também afirmam que produziram as campanhas de acordo com a legislação sanitária vigente.


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