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Negro morre mais de câncer de mama, próstata e ovário
Estudo acompanhou 19.457 afroamericanos e brancos que tiveram tratamento igual, sem variáveis socioeconômicas
Segundo especialistas, não é possível saber se a situação se repete entre brasileiros; no país, não foram feitas pesquisas do mesmo tipo
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Afroamericanos têm mais
riscos de morrer de câncer de
mama, próstata e ovário do que
pessoas de outras etnias, mesmo quando recebem igual tipo
de tratamento, conclui o primeiro estudo do gênero, publicado no "Journal of the National Cancer Institute". Não é
possível saber se a situação é a
mesma entre os negros brasileiros porque não há estudos
semelhantes no país.
Os pesquisadores acompanharam 19.457 pacientes de várias etnias durante mais de dez
anos. Todos receberam os mesmos tratamentos e foram atendidos pelos mesmos médicos.
Nos demais tipos de câncer, como tumores de pulmão, colorretal, leucemias, linfomas e
mielomas, a taxa de sobrevida
dos negros foi semelhantes à de
pessoas de outras etnias.
"Nossos achados colocam em
dúvida a teoria de que os afroamericanos têm baixa taxa de
sobrevida do câncer por causa
da pobreza, do pouco acesso
aos serviços de saúde e de outros fatores socioeconômicos",
disse à Folha a médica Kathy
Albain, coordenadora do estudo, financiado pelo Instituto
Nacional de Câncer dos EUA.
Segundo Albain, os resultados sugerem que essa diferença
pode se dar em razão de fatores
biológicos do tumor (que o tornam mais agressivo) ou da variação de genes que controlam
a ação de medicamentos.
No decorrer do estudo, os
negros americanos tiveram
49% mais chances de morrer
de câncer de mama, 61%, de
câncer nos ovários e 21%, de
câncer de próstata.
Para o oncologista Auro del
Giglio, do hospital Albert Einstein, não há dúvidas de que as
disparidades socioeconômicas
tenham impacto negativo na
detecção precoce e no tratamento de diversos tipos de
câncer, o que leva a tumores
mais avançados. "Da mesma
forma, há evidências de comportamentos biológicos diferentes em alguns tipos de tumor em etnias diversas."
Ele afirma que diferentes
constituições genéticas também explicam variações de metabolismo das drogas, que podem ter impactos negativos
nos resultados do tratamento.
"Tanto a genética quanto as
oportunidades de tratamento
pautadas por diferenças socioeconômicas são importantes, e a literatura, de fato, reflete ambas as vertentes."
Próstata
Segundo o urologista Miguel
Srougi, professor titular da
Universidade de São Paulo, no
caso do câncer de próstata, estudos já sugeriam que os negros desenvolviam tumores
mais agressivos, mas surgiram
trabalhos que atribuíam a diferença ao fato de eles terem menos acesso aos serviços de saúde e receberem tratamentos diferenciados, mais paliativos do
que curativos.
"Esse estudo mostra que não
é apenas a desassistência. Mesmo com tratamentos iguais, a
evolução da doença foi pior entre os negros", diz Srougi.
O mastologista José Luiz Bevilacqua, cirurgião do Hospital
Sírio-Libanês, afirma que estudos anteriores já mostraram
que os afroamericanos tendem
a apresentar tumores de mama
com características mais agressivas, porém, concluíam que, se
fossem tratados de maneira
adequada, teriam sobrevida semelhante à de outras etnias.
"O interessante nesse novo
estudo é que a pesquisadora
analisou essas diferenças num
banco de dados de estudos
prospectivos e randomizados
do Southwest Oncology Group,
o que, teoricamente, asseguraria que os grupos tiveram os
mesmos tratamentos", diz o
mastologista. "No entanto, não
podemos assegurar, com certeza absoluta, que os resultados
mostrem a realidade."
Bevilacqua também pondera
que o estudo americano é de
análise de subgrupos e que não
foi desenhado especificamente
para responder se as diferenças
raciais interferem ou não na sobrevida. "Sem dúvida, os novos
estudos estão no grupo de melhor evidência disponível sobre
o assunto, porém, acredito que
isso ainda não seja uma questão
fechada."
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