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Alimentação do bebê pode incluir itens alergênicos
Pesquisas questionam conceito de atrasar introdução de alimentos como ovo
Sociedades de pediatria e de alergia já modificaram recomendações; segundo especialistas, assunto ainda é polêmico e inconclusivo
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O conceito de atrasar a introdução de alguns alimentos na
dieta do bebê para prevenir
alergias pode cair por terra. Novas pesquisas vêm demonstrando que, ao contrário do que
se acreditava, quanto mais tarde o contato com alimentos potencialmente alérgenos, como
o ovo, maior a chance de sensibilização da criança.
O assunto, considerado ainda
polêmico pelos especialistas,
foi tema de debate no último
congresso mundial de alergia,
que aconteceu no mês passado,
em Buenos Aires.
A ideia foi reforçada com a
publicação, neste mês, de uma
pesquisa no periódico científico "Pediatrics". O estudo tinha
como objetivo examinar a relação entre idade de introdução
de alimentos sólidos durante o
primeiro ano de vida do bebê e
sensibilidade alérgica aos cinco
anos de idade.
Cientistas finlandeses de várias universidades, incluindo a
de Helsinki, acompanharam
durante cinco anos 994 crianças. Após avaliar dados como
duração do aleitamento materno, níveis de IgE (o principal
anticorpo envolvido nas reações alérgicas) e idade com que
essas crianças começaram a comer batatas, aveia, centeio, trigo, carne, peixe e ovos, eles concluíram que a introdução tardia
desses alimentos esteve mais
relacionada ao risco de sensibilidade alérgica. Ovos, aveia e
trigo foram os itens mais relacionados às reações.
Os pesquisadores acreditam
que haveria uma espécie de
momento ideal para a introdução desses alimentos na dieta
de crianças pequenas com tendência hereditária, isto é, de famílias alérgicas, com parentes
de primeiro grau, como pai,
mãe ou irmãos, alérgicos.
Janela imunológica
"Ao que parece, haveria uma
janela imunológica que seria o
momento ideal para induzir a
tolerância aos alimentos", explica a alergista Márcia Mallozi,
professora doutora da Universidade Federal de São Paulo.
Isso porque, ao nascer, o sistema imunológico do bebê é extremamente imaturo. Como a
alergia é uma resposta exagerada do sistema imune a corpos
estranhos, à medida que amadurece ele responderia com
mais força a agentes potencialmente causadores de alergias.
Se o alimento for introduzido
mais tarde, o sistema estaria
mais preparado para responder
com mais força.
"Hoje já não recomendamos
atrasar a introdução de alimentos", diz Ana Paula Moschione,
presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia - Regional São Paulo e médica-assistente da unidade de
alergia e imunologia do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas, em São Paulo. "Mas
também não recomendamos
adiantar nada", enfatiza ela. A
sociedade americana de pediatria já faz essa recomendação.
Novas recomendações
A partir da mudança da sociedade americana, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria)
também fez algumas modificações nas suas recomendações.
"Agora, ovos e peixes podem
ser introduzidos a partir do
sexto mês", diz Roseli Sarni,
presidente de departamento de
nutrologia da SBP. Antes, ovos
eram liberados depois do nono
mês e peixes, somente após o
primeiro aniversário.
"Manter o aleitamento materno enquanto se introduzem
esses alimentos teria um efeito
protetor", acrescenta Sarni. A
sociedade recomenda o aleitamento materno exclusivo até
os seis meses de idade.
"São especulações interessantes que podem mudar conceitos usados atualmente, mas
ainda não há nada conclusivo",
acredita Mallozi.
Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, os alimentos que mais causam reações na primeira infância são leite de vaca, ovos, peixes, frutas cítricas e o tomate.
Porém a maioria das crianças
desenvolve tolerância às frutas
e ao tomate em alguns anos. A
alergia a peixes e nozes pode
continuar até a idade adulta.
Nos adultos, crustáceos,
queijos, vinhos, cerveja e temperos são itens que costumam
produzir sensibilidade.
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