São Paulo, quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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Pesquisa usa DNA para apontar origem de doença no útero

Brasileiros descobrem que metaplasia óssea (ossos na cavidade uterina) não é causada por abortos

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DA RIO

Pesquisadores brasileiros usaram a tecnologia de exames de DNA para desmitificar a origem da metaplasia óssea uterina, que se manifesta pela presença de fragmentos de ossos no útero. A doença dificulta a gravidez e provoca dor, sangramentos e corrimento.
Durante mais de cem anos, a literatura médica relatava que os ossos eram fruto de restos de partes fetais, porque a maioria das mulheres afetadas tinha histórico de aborto.
Um estudo feito por pesquisadores da Unifesp, UFRJ, Uerj e do Ministério da Saúde, porém, demonstrou que os fragmentos foram produzidos pela própria mulher e não eram sobra de gravidez interrompida.
A análise das amostras de sangue e de tecido dos DNAs pesquisados continha dados idênticos aos da mulher, o que comprova que a metaplasia óssea foi produzida apenas por ela. O trabalho foi publicado na "Obstetrics and Gynecology".
O pesquisador principal, Raphael Câmara Parente, médico do Ministério da Saúde e do Instituto de Ginecologia da UFRJ, avaliou oito casos por meio de exame de DNA.
A mulher muitas vezes descobre ter metaplasia óssea em exame de ultrassom, quando não consegue engravidar. A doença, relativamente rara, funciona como um DIU (Dispositivo Intrauterino) natural, dificultando a gestação.
Uma vez descoberto o problema, os fragmentos de ossos podem ser removidos com histeroscopia, exame com microcâmera também usado para retirar pólipos e miomas.
Na opinião de Câmara, a descoberta indica que a mulher, mesmo após a retirada dos pedaços ósseos, deve continuar sob acompanhamento médico e fazer novos exames, porque pode haver reincidência.
"O estudo vai abrir caminho para novas pesquisas que avaliam células-tronco endometriais, já que o tecido do qual provavelmente se formou o osso era o endométrio", disse.
Para o trabalho, o grupo analisou os DNAs de oito pacientes de todo o país com idades entre 21 e 70 anos.
O trabalho durou três anos sem recursos públicos ou apoio governamental. Os testes foram pagos pelos próprios pesquisadores. "Nos congressos médicos, eu pedia: "Se tiverem algum caso, por favor, me avisem". Tudo foi tirado do bolso dos pesquisadores, do meu e dos outros", diz Câmara.


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