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Pesquisa usa DNA para apontar origem de doença no útero
Brasileiros descobrem que metaplasia óssea (ossos na cavidade uterina) não é causada por abortos
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DA RIO
Pesquisadores brasileiros
usaram a tecnologia de exames
de DNA para desmitificar a origem da metaplasia óssea uterina, que se manifesta pela presença de fragmentos de ossos
no útero. A doença dificulta a
gravidez e provoca dor, sangramentos e corrimento.
Durante mais de cem anos, a
literatura médica relatava que
os ossos eram fruto de restos de
partes fetais, porque a maioria
das mulheres afetadas tinha
histórico de aborto.
Um estudo feito por pesquisadores da Unifesp, UFRJ, Uerj
e do Ministério da Saúde, porém, demonstrou que os fragmentos foram produzidos pela
própria mulher e não eram sobra de gravidez interrompida.
A análise das amostras de
sangue e de tecido dos DNAs
pesquisados continha dados
idênticos aos da mulher, o que
comprova que a metaplasia óssea foi produzida apenas por
ela. O trabalho foi publicado na
"Obstetrics and Gynecology".
O pesquisador principal, Raphael Câmara Parente, médico
do Ministério da Saúde e do
Instituto de Ginecologia da
UFRJ, avaliou oito casos por
meio de exame de DNA.
A mulher muitas vezes descobre ter metaplasia óssea em
exame de ultrassom, quando
não consegue engravidar. A
doença, relativamente rara,
funciona como um DIU (Dispositivo Intrauterino) natural,
dificultando a gestação.
Uma vez descoberto o problema, os fragmentos de ossos
podem ser removidos com histeroscopia, exame com microcâmera também usado para retirar pólipos e miomas.
Na opinião de Câmara, a descoberta indica que a mulher,
mesmo após a retirada dos pedaços ósseos, deve continuar
sob acompanhamento médico
e fazer novos exames, porque
pode haver reincidência.
"O estudo vai abrir caminho
para novas pesquisas que avaliam células-tronco endometriais, já que o tecido do qual
provavelmente se formou o osso era o endométrio", disse.
Para o trabalho, o grupo analisou os DNAs de oito pacientes
de todo o país com idades entre
21 e 70 anos.
O trabalho durou três anos
sem recursos públicos ou apoio
governamental. Os testes foram pagos pelos próprios pesquisadores. "Nos congressos
médicos, eu pedia: "Se tiverem
algum caso, por favor, me avisem". Tudo foi tirado do bolso
dos pesquisadores, do meu e
dos outros", diz Câmara.
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