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Dois novos métodos tratam vertigem sem uso de remédio
Para a Sociedade Brasileira de Otologia, 70% dos idosos têm o problema causado por distúrbios no sistema vestibular
Uma das técnicas é baseada na realidade virtual; a outra consiste na colocação de uma placa com sensores na língua dos pacientes
CLÁUDIA COLLUCCI
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois novos métodos estão
sendo usados no tratamento da
vertigem ("labirintite"), causada por distúrbios do sistema
vestibular, responsável pela
orientação espacial e pelo equilíbrio corporal. Por meio de estimulação das regiões afetadas,
eles reduzem ou até eliminam
as tonturas, sem a necessidade
do uso de remédios.
Ao menos 70% dos idosos
brasileiros sofrem desse tipo de
vertigem, segundo a SBO (Sociedade Brasileira de Otologia).
O problema está relacionado a
50% das quedas na terceira idade, de acordo com um recente
levantamento da entidade.
Uma das novas técnicas é baseada na realidade virtual. O
paciente fica em pé sobre uma
plataforma e usa óculos especiais, por meio dos quais são
projetados cenários virtuais
com situações que o predispõem a tonturas. O objetivo é
que organismo seja "reeducado" a ter equilíbrio.
O outro método chama-se
neurofeedback e consiste na
colocação de uma placa com
sensores na língua do paciente.
Essa placa recebe estímulos
elétricos à medida que a pessoa
mexe a cabeça. A meta é criar
circuitos cerebrais alternativos
de neurônios que atuem sobre
o equilíbrio. "Serve para autotreinamento", explica a otoneurologista Roseli Bittar, do
setor de otoneurologia do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). "O sistema nervoso central refaz circuitos neuronais e desenvolve
novas estratégias para promover o equilíbrio."
No começo, o paciente faz
duas sessões diárias de 20 minutos. Alguns casos já melhoram em apenas cinco dias. No
HC, esse tratamento é utilizado
para pacientes que não tiveram
sucesso com outros métodos.
"Temos ótimos resultados com
pacientes que sofreram traumas ou concussão cerebral."
Segundo o otorrinolaringologista Fernando Ganança, professor na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e chefe do setor de reabilitação vestibular da mesma instituição,
ainda estão sendo realizados
estudos científicos comparativos entre as novas técnicas e os
exercícios já usados na reabilitação do sistema vestibular.
"Ainda não sabemos se os resultados são melhores, piores
ou iguais. Na maioria dos casos
há uma melhora significativa.
Os exercícios virtuais são fáceis
e rápidos de fazer. Há pacientes
que, com apenas duas sessões
por semana, relatam melhora
dos sintomas e recuperação do
equilíbrio", explica o médico.
Ganança explica que o treinamento, virtual ou não, é indicado até o paciente adquirir um
bom equilíbrio. "Quando ele
consegue isso, retoma as atividades do dia a dia, volta a andar,
a correr, e, com isso, os sistemas já são naturalmente estimulados. Quando o paciente
está acometido, ele se isola, trava. Isso acaba piorando o equilíbrio", afirma o médico.
Reabilitação
Embora seja um recurso
pouco usado pelos médicos
brasileiros, a reabilitação vestibular, em alguns casos, chega a
ser mais eficaz do que os remédios no tratamento da labirintite crônica, segundo Ganança.
"O médico, de uma forma geral,
adora dar remédio. Às vezes dá
dó de ver o paciente que já passou por vários otorrinos e o que
fizeram foi trocar de remédio,
quando, para aquela situação, o
melhor seriam os exercícios."
Ele afirma que, antes de iniciar os exercícios, é preciso um
diagnóstico médico para descartar outras causas de labirintite, como tumores. "Há mais
de 300 causas e algumas não
podem ser tratadas com exercícios. Mas uma boa parte das
que afetam os idosos tem indicação de exercícios."
Os exercícios envolvem os
olhos, a cabeça e o corpo, e devem ser feitos diariamente. Para Ganança, o importante é o
idoso estar ciente da reabilitação e não aceitar a tontura como uma consequência da velhice. "Muitas vezes o paciente
com labirintite trava, fica parado e se isola. Depois começa os
exercícios retoma as atividades
sociais, fica mais animado."
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