São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Próximo Texto | Índice

"Rasgo" na aorta pode ser tratado só com remédios

Tratamento clínico da dissecção da aorta é tão eficiente quanto o uso de stents

Segundo especialistas, acompanhamento de pacientes por dois anos traz respostas, mas ainda não há conclusões definitivas


CLÁUDIA COLLUCCI
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

O tratamento clínico da dissecção crônica da aorta, uma situação extremamente grave que causa uma espécie de "rasgão" na maior artéria do corpo, é tão eficiente quanto as terapias mais invasivas e mais caras nos casos em que não há complicações, revela um estudo publicado no "Circulation".
As dissecções da aorta que resultam na ruptura do vaso sanguíneo têm uma taxa de 90% de mortalidade, se o tratamento não for realizado a tempo. A hipertensão arterial não controlada está relacionada a 75% desses casos.
Hoje, há três possibilidades de tratamento: cirurgia aberta -feita nos casos gravíssimos-, uso de stents e tratamento com medicação. O estudo avaliou apenas as dissecções do tipo B (que afetam a artéria aorta descendente) e comparou o tratamento com medicamentos ao feito com os remédios associados ao stent (espécie de tela que recobre a abertura).
Nos dois casos, foi utilizada a terapia medicamentosa considerada ótima, que inclui remédios para controlar a pressão e o ritmo cardíaco.
Para o cirurgião cardíaco Walter Gomes, diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, o estudo é importante por ser o primeiro trabalho científico randomizado a fazer essa constatação. "Mesmo em um doença que se supunha ser tão grave e com alta mortalidade inicial, o tratamento clínico foi tão ou mais eficiente que procedimentos agressivos e caros."
Segundo ele, até então, pensava-se que o tratamento clínico fosse inferior à terapia com stent. "Aparentemente, dá para tratar todos os casos clinicamente, menos aqueles que se complicam, como os casos de insuficiência renal."
As artérias que saem da parte da aorta dissecada ficam danificadas com a lesão e, com isso, há um comprometimento dos rins, do intestino e da vascularização das pernas, por exemplo. "Nesses casos, é possível que o stent seja mais eficaz. Mas isso precisa ser demonstrado por estudos posteriores", acrescenta Gomes.
Segundo o cirurgião Ricardo Ribeiro Dias, do Instituto do Coração, em São Paulo, havia dúvidas em relação ao melhor procedimento nos pacientes crônicos sem complicações, pois é difícil separar os casos que irão complicar futuramente (e que, portanto, precisariam de um stent) dos que não irão complicar (e que podem ser tratados apenas com remédios). "O estudo mostra que só deve-se fazer o tratamento com stents em casos complicados e que é possível fazer o procedimento mais tarde, se necessário", diz ele. "Mas a pesquisa ainda não dá uma resposta definitiva por dois motivos: o pequeno número de pacientes e o curto tempo de seguimento."
O estudo avaliou 140 pacientes de sete centros médicos da Alemanha, Itália e França durante dois anos. Os próprios autores fazem uma ressalva de que, a longo prazo, pode ser que a cirurgia com stent apresente melhores resultados em relação ao tratamento clínico.

Mortalidade alta
As doenças da aorta matam anualmente entre 43 mil e 47 mil pessoas nos EUA. Não há dados no Brasil. Nos casos agudos que afetam a aorta ascendente, a mortalidade é altíssima: 90% dos pacientes morrem nos primeiros 15 dias. Esses casos são tratados com cirurgia aberta. Nas dissecções do tipo B, 90% sobrevivem à fase aguda com medicação.
Os stents também são largamente usados para desobstruir artérias e evitar infartos. Estudos sugerem que, em pacientes com doenças estáveis, eles não trazem vantagens no longo prazo em relação às drogas.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.