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"Rasgo" na aorta pode ser tratado só com remédios
Tratamento clínico da dissecção da aorta é tão eficiente quanto o uso de stents
Segundo especialistas, acompanhamento de pacientes por dois anos traz respostas, mas ainda não há conclusões definitivas
CLÁUDIA COLLUCCI
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O tratamento clínico da dissecção crônica da aorta, uma situação extremamente grave
que causa uma espécie de "rasgão" na maior artéria do corpo,
é tão eficiente quanto as terapias mais invasivas e mais caras
nos casos em que não há complicações, revela um estudo publicado no "Circulation".
As dissecções da aorta que
resultam na ruptura do vaso
sanguíneo têm uma taxa de
90% de mortalidade, se o tratamento não for realizado a tempo. A hipertensão arterial não
controlada está relacionada a
75% desses casos.
Hoje, há três possibilidades
de tratamento: cirurgia aberta
-feita nos casos gravíssimos-,
uso de stents e tratamento com
medicação. O estudo avaliou
apenas as dissecções do tipo B
(que afetam a artéria aorta descendente) e comparou o tratamento com medicamentos ao
feito com os remédios associados ao stent (espécie de tela que
recobre a abertura).
Nos dois casos, foi utilizada a
terapia medicamentosa considerada ótima, que inclui remédios para controlar a pressão e
o ritmo cardíaco.
Para o cirurgião cardíaco
Walter Gomes, diretor científico da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Cardiovascular, o estudo é importante por ser o primeiro trabalho científico randomizado a fazer essa constatação. "Mesmo em um doença
que se supunha ser tão grave e
com alta mortalidade inicial, o
tratamento clínico foi tão ou
mais eficiente que procedimentos agressivos e caros."
Segundo ele, até então, pensava-se que o tratamento clínico fosse inferior à terapia com
stent. "Aparentemente, dá para
tratar todos os casos clinicamente, menos aqueles que se
complicam, como os casos de
insuficiência renal."
As artérias que saem da parte
da aorta dissecada ficam danificadas com a lesão e, com isso,
há um comprometimento dos
rins, do intestino e da vascularização das pernas, por exemplo. "Nesses casos, é possível
que o stent seja mais eficaz.
Mas isso precisa ser demonstrado por estudos posteriores",
acrescenta Gomes.
Segundo o cirurgião Ricardo
Ribeiro Dias, do Instituto do
Coração, em São Paulo, havia
dúvidas em relação ao melhor
procedimento nos pacientes
crônicos sem complicações,
pois é difícil separar os casos
que irão complicar futuramente (e que, portanto, precisariam
de um stent) dos que não irão
complicar (e que podem ser
tratados apenas com remédios). "O estudo mostra que só
deve-se fazer o tratamento com
stents em casos complicados e
que é possível fazer o procedimento mais tarde, se necessário", diz ele. "Mas a pesquisa
ainda não dá uma resposta definitiva por dois motivos: o pequeno número de pacientes e o
curto tempo de seguimento."
O estudo avaliou 140 pacientes de sete centros médicos da
Alemanha, Itália e França durante dois anos. Os próprios autores fazem uma ressalva de
que, a longo prazo, pode ser que
a cirurgia com stent apresente
melhores resultados em relação ao tratamento clínico.
Mortalidade alta
As doenças da aorta matam
anualmente entre 43 mil e 47
mil pessoas nos EUA. Não há
dados no Brasil. Nos casos agudos que afetam a aorta ascendente, a mortalidade é altíssima: 90% dos pacientes morrem
nos primeiros 15 dias. Esses casos são tratados com cirurgia
aberta. Nas dissecções do tipo
B, 90% sobrevivem à fase aguda
com medicação.
Os stents também são largamente usados para desobstruir
artérias e evitar infartos. Estudos sugerem que, em pacientes
com doenças estáveis, eles não
trazem vantagens no longo prazo em relação às drogas.
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