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Fiocruz desenvolve metodologia para detectar autismo
Novo diagnóstico, que ainda está em estudo, envolve uma varredura no cérebro por meio do eletroencefalograma
Na pesquisa, os autistas apresentaram uma resposta diminuída no hemisfério cerebral direito em relação a crianças sem o problema
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um método para diagnosticar o autismo por meio de exame de imagem está sendo desenvolvido pelo Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz).
Atualmente, não há nenhum
teste específico para o autismo.
O diagnóstico é clínico, com base na observação dos sintomas.
Os pesquisadores utilizam o
eletroencefalograma computadorizado para fazer uma varredura cerebral. O exame amplia
e mede as correntes eletromagnéticas no cérebro em diversas
frequências (de 3 a 27 hertz) e
permite verificar as ligações
entre os grupos de neurônios.
Segundo o neurologista infantil Adaílton Tadeu Alves de
Pontes, um dos coordenadores
da pesquisa, as imagens obtidas
com o mapeamento são comparadas com as do cérebro de
uma criança sem o problema.
"Verificamos a relação de
uma área com outra e percebemos que as crianças com autismo tiveram uma resposta diminuída no hemisfério cerebral
direito em relação ao esquerdo,
ou seja, há uma deficiência de
ativação no hemisfério direito."
Pontes explica que o hemisfério direito está associado às
funções socioafetivas, emocionais, de empatia e de percepção
do contexto e compreensão social, enquanto o hemisfério esquerdo é mais relacionado com
o cálculo e o raciocínio.
O próximo passo, segundo
ele, é ampliar a amostra de
crianças analisadas, incluindo
autistas com inteligência normal e outros com problemas de
linguagem, por exemplo. Por
fim, haverá uma comparação
dessas crianças com outras que
possuam patologias neuropsiquiátricas diferentes -para saber como funciona a resposta
cerebral nesses casos.
Pesquisas anteriores com cérebros de autistas já encontraram desequilíbrios em neurotransmissores (substâncias
químicas que ajudam as células
nervosas a se comunicarem)
que poderiam explicar o comportamento do autista.
Outros trabalhos encontraram irregularidades nas próprias estruturas do cérebro, como no corpo caloso (que facilita
a comunicação entre os dois
hemisférios do cérebro), na
amígdala (que afeta o comportamento social e emocional) e
no cerebelo (envolvido com as
atividades motoras, o equilíbrio e a coordenação).
Na avaliação do neurologista
José Geraldo Speciali, da USP
de Ribeirão Preto, caso a eficácia do eletroencefalograma no
diagnóstico do autismo seja
confirmada, será "uma ótima
notícia" porque hoje o autismo
é descoberto tardiamente. "Porém, ainda não sabemos se o
diagnóstico e a intervenção
precoces mudarão o curso da
doença", observa.
Para o médico Luiz Celso Vilanova, chefe do departamento
de neurologista infantil da Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), a pesquisa da Fiocruz é mais uma que tenta encontrar um marcador biológico
para o diagnóstico do autismo,
mas dificilmente chegará a
uma resposta positiva.
"Ela pode trazer novas contribuições, mas outros trabalhos, com métodos até mais sofisticados como a ressonância
magnética e o PET scan, não
conseguiram definir um quadro que sirva de marcador independente", diz o médico.
Segundo ele, a limitação é da
própria medicina. "No passado,
essas crianças eram classificadas como psicóticas. Existem
algumas evidências de alterações de natureza biológica e cerebral, mas nada que nos ajude
no diagnóstico."
Hoje, o diagnóstico ocorre
por volta dos três anos de idade,
e o tratamento é basicamente
comportamental (psicólogos e
fonoaudiólogos, por exemplo).
Medicamentos são usados para
controlar sintomas específicos,
como a agressividade.
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