São Paulo, quarta-feira, 12 de agosto de 2009

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Consumo de vinho diminui mortalidade

Bebida foi o item que mais contribuiu para a queda no risco de morte em estudo com alimentos da dieta mediterrânea

Pesquisa acompanhou mais de 23 mil pessoas; médicos dizem que é preciso adotar um estilo de vida saudável para conseguir o benefício

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo moderado e regular de vinho tinto foi o item que mais contribuiu para reduzir a mortalidade em comparação com outros oito itens da dieta mediterrânea. Essa é a conclusão de um estudo publicado recentemente no "British Medical Journal".
O objetivo da pesquisa era investigar a importância e a relação com a mortalidade de cada componente individualmente.
Durante oito anos e meio, cientistas das universidades Harvard, nos Estados Unidos, e Atenas, na Grécia, acompanharam 23.349 indivíduos. Nenhum deles havia sido diagnosticado previamente com doenças cardiovasculares, câncer ou mesmo diabetes.
O consumo moderado de álcool foi o item que mais contribuiu isoladamente para a queda no risco de mortalidade, respondendo por quase um quarto (23,5%) do efeito benéfico.
"O resultado é novo, pois sempre se analisou a dieta mediterrânea como um todo e, aqui, tentou-se analisar os responsáveis individuais pelos bons resultados", avalia o cardiologista Carlos Scherr, da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro.
"Estudos mostram que pessoas que consomem vinho têm menos doença cardiovascular", completa ele.
Os efeitos benéficos do vinho se devem ao álcool em si e à presença dos flavonoides da uva. Pesquisas comprovam que o álcool aumenta o HDL, o chamado "bom" colesterol. Os flavonoides, por sua vez, têm forte ação antioxidante, capaz de proteger as artérias. Além disso, a bebida promove a elasticidade dos vasos.
Mas os especialistas concordam que os benefícios observados só ocorrem dentro de um contexto que leve em conta uma dieta adequada, com alimentação saudável, atividade física e controle do estresse.
"A única coisa capaz de reduzir a mortalidade na população é a mudança de hábitos de vida", enfatiza Scherr.

Estilo de vida
"É por isso que a gente fala em estilo de vida mediterrâneo", frisa o cardiologista Daniel Magnoni, chefe do serviço de nutrologia do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo.
Sabe-se que, além de ter um padrão de alimentação mais saudável, os povos mediterrâneos costumam praticar mais atividade física. "Há estudos que mostram, inclusive, que pessoas que dormem após o almoço vivem mais", diz Magnoni, lembrando o hábito de fazer a "siesta", muito comum em países como a Espanha.
"O resultado não é surpresa, pois há algum tempo sabe-se que o álcool -e, em especial o vinho- protege contra a aterosclerose", concorda o cardiologista Luiz Antonio Machado César, diretor da unidade clínica de coronariopatia crônica do InCor (Instituto do Coração), em São Paulo.
Por outro lado, os especialistas frisam que, acima de 20 gramas diários (o que corresponde a cerca de duas doses diárias), começam a aparecer os prejuízos do consumo excessivo de álcool. Isso inclui o risco de hipertensão, miocardiopatia e até morte súbita, além de distúrbios de comportamento. As mulheres não devem tomar mais do que uma dose por dia.
Segundo os autores da pesquisa, além do vinho, o baixo consumo de carne vermelha, alta ingestão de vegetais, frutas e nozes e azeite de oliva foram os principais componentes capazes de reduzir a mortalidade.
Os demais alimentos avaliados, como cereais, laticínios e frutos do mar, não tiveram grande impacto. "Os peixes encontrados no Mediterrâneo não são os mais associados à queda do risco cardiovascular, que são os de águas frias", lembra o cardiologista Luiz Antônio Machado César.


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