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Consumo de vinho diminui mortalidade
Bebida foi o item que mais contribuiu para a queda no risco de morte em estudo com alimentos da dieta mediterrânea
Pesquisa acompanhou mais de 23 mil pessoas; médicos dizem que é preciso adotar um estilo de vida saudável para conseguir o benefício
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumo moderado e regular de vinho tinto foi o item
que mais contribuiu para reduzir a mortalidade em comparação com outros oito itens da
dieta mediterrânea. Essa é a
conclusão de um estudo publicado recentemente no "British
Medical Journal".
O objetivo da pesquisa era investigar a importância e a relação com a mortalidade de cada
componente individualmente.
Durante oito anos e meio,
cientistas das universidades
Harvard, nos Estados Unidos, e
Atenas, na Grécia, acompanharam 23.349 indivíduos. Nenhum deles havia sido diagnosticado previamente com doenças cardiovasculares, câncer ou
mesmo diabetes.
O consumo moderado de álcool foi o item que mais contribuiu isoladamente para a queda no risco de mortalidade, respondendo por quase um quarto
(23,5%) do efeito benéfico.
"O resultado é novo, pois
sempre se analisou a dieta mediterrânea como um todo e,
aqui, tentou-se analisar os responsáveis individuais pelos
bons resultados", avalia o cardiologista Carlos Scherr, da
Universidade Gama Filho, no
Rio de Janeiro.
"Estudos mostram que pessoas que consomem vinho têm
menos doença cardiovascular",
completa ele.
Os efeitos benéficos do vinho
se devem ao álcool em si e à
presença dos flavonoides da
uva. Pesquisas comprovam que
o álcool aumenta o HDL, o chamado "bom" colesterol. Os flavonoides, por sua vez, têm forte
ação antioxidante, capaz de
proteger as artérias. Além disso, a bebida promove a elasticidade dos vasos.
Mas os especialistas concordam que os benefícios observados só ocorrem dentro de um
contexto que leve em conta
uma dieta adequada, com alimentação saudável, atividade
física e controle do estresse.
"A única coisa capaz de reduzir a mortalidade na população
é a mudança de hábitos de vida", enfatiza Scherr.
Estilo de vida
"É por isso que a gente fala
em estilo de vida mediterrâneo", frisa o cardiologista Daniel Magnoni, chefe do serviço
de nutrologia do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo.
Sabe-se que, além de ter um
padrão de alimentação mais
saudável, os povos mediterrâneos costumam praticar mais
atividade física. "Há estudos
que mostram, inclusive, que
pessoas que dormem após o almoço vivem mais", diz Magnoni, lembrando o hábito de fazer
a "siesta", muito comum em
países como a Espanha.
"O resultado não é surpresa,
pois há algum tempo sabe-se
que o álcool -e, em especial o
vinho- protege contra a aterosclerose", concorda o cardiologista Luiz Antonio Machado
César, diretor da unidade clínica de coronariopatia crônica do
InCor (Instituto do Coração),
em São Paulo.
Por outro lado, os especialistas frisam que, acima de 20 gramas diários (o que corresponde
a cerca de duas doses diárias),
começam a aparecer os prejuízos do consumo excessivo de
álcool. Isso inclui o risco de hipertensão, miocardiopatia e até
morte súbita, além de distúrbios de comportamento. As
mulheres não devem tomar
mais do que uma dose por dia.
Segundo os autores da pesquisa, além do vinho, o baixo
consumo de carne vermelha,
alta ingestão de vegetais, frutas
e nozes e azeite de oliva foram
os principais componentes capazes de reduzir a mortalidade.
Os demais alimentos avaliados, como cereais, laticínios e
frutos do mar, não tiveram
grande impacto. "Os peixes encontrados no Mediterrâneo
não são os mais associados à
queda do risco cardiovascular,
que são os de águas frias", lembra o cardiologista Luiz Antônio Machado César.
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