São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Nova diretriz liga esquistossomose e pressão pulmonar

Comum no Brasil, doença passa a ser considerada uma das cinco principais causas da hipertensão

DA REPORTAGEM LOCAL

A esquistossomose, doença crônica causada pelo parasita Schistosoma Mansoni e conhecida como barriga d'água, passou a ser considerada uma das principais causas de hipertensão arterial pulmonar (aumento da pressão nos vasos do pulmão), que pode levar à morte.
A mudança está nas novas diretrizes sobre o diagnóstico da hipertensão pulmonar, divulgadas no Congresso Europeu de Cardiologia, em Barcelona.
"Isso muda totalmente o foco de atenção que foi dado à doença nos últimos 15 anos", afirma o pneumologista Rogério Souza, responsável pelo grupo de hipertensão pulmonar do InCor (Instituto do Coração) e integrante da equipe que elaborou as orientações.
Para o pneumologista Renato Maciel, coordenador da Comissão de Circulação Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia, o fato de as novas diretrizes realçarem o papel da esquistossomose na hipertensão arterial pulmonar fará outros países perceberem a importância da doença.
No mundo, a esquistossomose atinge cerca de 54 países, sendo mais prevalente naqueles em desenvolvimento e com condições precárias de saneamento. É mais comum na América Latina, Índia e China.
Segundo a OMS, cerca de 200 milhões de pessoas no mundo têm esquistossomose -6 milhões estão no Brasil. Mas acredita-se que apenas 1% tenha a forma grave da doença.

Estudo no InCor
Um dos estudos que embasaram a mudança na classificação foi realizado pela equipe de Souza no InCor. Eles realizaram ecocardiograma e cateterismo em 65 pacientes com a forma mais grave da esquistossomose e descobriram que 4,6% deles já estavam com a hipertensão pulmonar instalada.
De acordo com Souza, uma das hipóteses para explicar a relação entre as duas doenças é a "migração" do ovo do parasita (que está no organismo humano) para as artérias pulmonares -o que poderia entupi-las e, consequentemente, aumentar a pressão sanguínea no local.
Outra explicação é que a esquistossomose causa uma reação imunológica e um processo inflamatório no endotélio (camada mais interna dos vasos), que passa a funcionar inadequadamente. Além disso, algumas células se proliferam demais, aumentando a espessura da parede dos vasos e diminuindo a passagem de sangue.
Como não há cura, o tratamento é feito com medicamentos para dilatar o calibre das artérias pulmonares e diminuir o processo inflamatório. Por isso, as novas diretrizes reforçam a necessidade de olhar com mais cuidado para a esquistossomose e tentar tratá-la.
No entanto, de acordo com Paulo Marcos Zech Coelho, chefe do laboratório de esquistossomose da Fiocruz Minas, com o tratamento em larga escala, poucos indivíduos têm a forma grave da doença. (FERNANDA BASSETTE e GABRIELA CUPANI)


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