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Exame de olhos é eficaz para AVC
Análise do movimento dos olhos é mais eficiente do que ressonância para detectar um tipo de derrame
Para médicos, resultados precisam ser confirmados em testes de maior escala e se aplicariam apenas a uma parcela dos pacientes
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um exame dos movimentos
dos olhos do paciente, com duração de um minuto, é mais eficaz do que a ressonância magnética para detectar um tipo de
AVC (acidente vascular cerebral), concluiu um estudo da
Universidade Johns Hopkins
(EUA), publicado na revista
científica "Stroke".
Para os neurologistas, os resultados são inovadores, mas
precisam ser confirmados em
testes de maior escala e se aplicariam apenas a uma parcela de
pacientes em que o derrame
apresenta sintomas semelhantes à labirintite (tontura e náuseas, por exemplo).
O estudo americano avaliou
101 pacientes. O teste ocular
diagnosticou corretamente todos os casos de AVC. Já a ressonância falhou em oito casos.
O teste ocular é preconizado
porque pacientes que estão
tendo um derrame podem ter
alterações no movimento dos
olhos. Alguns não conseguem
ajustar imediatamente a posição dos olhos se sua cabeça for
movida rapidamente para o lado, ou apresentam movimentos desconexos quando tentam
focar um objeto.
No estudo, os pacientes foram submetidos a três testes de
movimento ocular. Um deles
avaliou a incapacidade de a pessoa manter os olhos estáveis
quando a cabeça era girada rapidamente para os lados.
Também foi observado se
ocorriam movimentos aleatórios dos olhos quando os pacientes acompanhavam o dedo
do médico. Por fim, verificou-se se um dos olhos ficava elevado em relação ao outro.
Após o teste, cada paciente
foi submetido a uma ressonância magnética. No final, 69 pacientes foram diagnosticados
com derrame e 25 com problemas no ouvido interno. O restante apresentava outros problemas neurológicos.
Utilizando apenas o exame
dos movimentos dos olhos, os
pesquisadores diagnosticaram
corretamente todos os casos de
AVC e 24 dos 25 casos de labirintite. Por outro lado, o exame
de ressonância deu falso-negativo em oito dos 69 pacientes
com derrame. O erro foi sanado
com um segunda ressonância
-providência adotada nos casos em que o primeiro exame
não havia constatado o AVC.
Mesmo reconhecendo que o
número de pacientes avaliados
é pequeno, pesquisadores da
Johns Hopkins estão otimistas
com os resultados, especialmente pela precisão e pela redução de custos que o teste
ocular representaria.
"A ideia de que um teste na
cama possa superar um moderno exame de neuroimagem como a ressonância magnética é
algo que a maioria dos médicos
diria ser impossível, mas nós
mostramos que isso é possível",
afirma David Newman-Toker,
um dos autores do estudo.
O neurologista Mario Peres,
do hospital Albert Einstein,
considera o estudo americano
"interessante e inovador", mas
diz que o número de pacientes
avaliados é pequeno para qualquer conclusão. "É um pouco
simplista achar que um exame
ocular pode resolver todo o
quadro diagnóstico do AVC."
O neurocirurgião Eduardo
Mutarelli, dos hospitais Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz, concorda. Para ele, o teste ocular
não substituirá a ressonância
magnética e tem aplicação apenas para um tipo de AVC, que
acomete funções centrais do labirinto e que, às vezes, é confundido com labirintite.
"Nesses casos, o teste ocular
é muito importante porque a
ressonância só detecta [o problema] de 24 a 36 horas depois", observa o médico.
Mutarelli diz que o estudo
deve servir de alerta para que
médicos façam o teste ocular e
não desprezem as queixas de
pacientes imaginando se tratar
de uma labirintite. "Eles não
podem confiar apenas na ressonância. A cada semestre, recebo pelo menos um caso de paciente que passou por hospitais
bacanas, estava tendo um AVC,
mas foi mandado para casa com
diagnóstico de labirintite."
Segundo Peres, tonturas são
de difícil diagnóstico na neurologia. Podem ser originadas de
alterações metabólicas, circulatórias, labirínticas, visuais e
também um sintoma do AVC.
"O diagnóstico não se baseia só
no exame ocular, mas sim em
todo o exame neurológico e história clínica, e caso necessário,
utilizamos as informações que
a ressonância pode nos dar."
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