São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Pomadas para pele podem causar alergia em crianças

Médicos alertam para uso sem orientação profissional e por períodos longos

Antibióticos e antialérgicos de uso tópico aumentam as chances de reações alérgicas quando aplicados durante vários dias consecutivos


RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem conhecer os riscos, muitos pais recorrem corriqueiramente a pomadas para a pele, como Caladryl, Nebacetin e Therasona, sem orientação médica e durante um período prolongado. Esse uso indiscriminado pode causar alergias, alertam especialistas.
"A pessoa traz o filho com uma patologia de pele, eu prescrevo a pomada, e ela se torna parte do seu arsenal terapêutico. Quando a criança apresenta qualquer lesão ou ferida, ela aplica a pomada", diz o pediatra Evandro Roberto Baldacci, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O que muitos pais desconhecem é que os antialérgicos tópicos, como Caladryl, não são indicados nem para crianças mais velhas. "Há um consenso entre alergistas, dermatologistas e pediatras de que substâncias anti-histamínicas [como os antialérgicos também são chamados] podem criar uma sensibilidade ao produto com o tempo, o que pode fazer com que as crianças desenvolvam alergia a antialérgicos, inclusive os ministrados por via oral", diz Rubens Marcelo Souza Leite, presidente do Departamento de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Segundo Souza Leite, antibióticos e antialérgicos de uso tópico aumentam as chances de o paciente desenvolver reações alérgicas quando aplicados por mais de cinco dias. "Elas aparecem na pele, mas, se a pessoa tiver histórico de alergia respiratória, podem desencadear crise de rinite ou asma." Antibióticos de uso local, como Nebacetin, podem ainda irritar a pele. "Por isso, também não são recomendados até a pré-adolescência, enquanto o sistema de defesa ainda está sendo criado. Na verdade, não recomendamos o uso nem em adultos", diz Souza Leite.
A coordenadora do Ambulatório de Dermatopediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Maria Beatriz Taube, também é contra o uso de Caladryl, mas defende o Nebacetin. Para ela, o produto pode ser aplicado até em bebês, a critério médico, desde que a pele esteja inflamada. "Se a criança não tiver inflamação, a pomada altera a flora de microrganismos presente em situações normais na pele, levando a uma infecção por fungo", diz.

De mãe para filha
A comerciante Vanessa Figueiredo Romão, 29, recorre ao medicamento sempre que a filha Maria Luísa, 3, é picada por insetos ou fica "empipocada". "Nunca ouvi falar de reação. Minha avó e minha mãe passavam em mim, então acabo passando nela", afirma.
No caso dos corticóides, como Therasona, o problema está no uso inadequado, sem acompanhamento médico e por período indeterminado -combinação que favorece lesões. Segundo Evandro Roberto Baldacci, do HC, o uso de qualquer pomada por mais de cinco dias é considerado prolongado. "Às vezes, recebo pacientes que estão passando há mais de um mês", diz. Assim como nos EUA, esses medicamentos são vendidos sem receita no Brasil.

Outro lado
Eli Lakryc, diretor médico da Johnson & Johnson, fabricante de Caladryl, afirma que desconhece estudos clínicos que relacionem o uso de anti-histamínico tópico com aumento de intolerância ao medicamento ou com processos alérgicos no futuro. Segundo ele, Caladryl é contra-indicado para crianças menores de dois anos e não deve ser usado por mais de sete dias sem orientação médica. "Usado de acordo com a indicação de bula, é seguro." A Nycomed Pharma, fabricante de Nebacetin, afirma que as reações alérgicas locais podem ocorrer em 1,5% dos pacientes, como descrito na bula.


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