São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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Zumbido incomoda menos com uso de música, diz estudo

Pacientes que se submeteram a musicoterapia específica tiveram diminuição do ruído após um ano de intervenção

No Brasil, pesquisadora da USP deve começar a testar a técnica ainda neste semestre com aparelho desenvolvido na Austrália


JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo alemão divulgado na revista "PNAS" mostrou que a musicoterapia reduz o incômodo de pacientes com zumbido -problema que atinge cerca de 17% da população em geral e 30% dos idosos. Para o trabalho, os pesquisadores adaptaram a música favorita do paciente, removendo do som as notas correspondentes à frequência do ruído.
Foram avaliados 39 pacientes durante um ano, divididos em grupo controle e grupo de intervenção, que ouvia a música escolhida por cerca de 12 horas semanais. Os voluntários apresentavam zumbido por cinco anos em média e nenhum outro problema auditivo. Após o período, os pacientes que ouviram a música adaptada relataram redução no volume do ruído e na atividade do córtex auditivo (área do cérebro relacionada à audição) que é associada ao zumbido.
"Há algumas opções de tratamento importadas que filtram frequências das músicas para tratar diversos problemas e zumbido também. Uma das hipóteses é que há alterações de determinadas áreas do córtex auditivo e também redução de problemas de sono, depressão e estresse. A pessoa acaba se acalmando e, quando o zumbido tem relação com esses problemas, pode haver diminuição do incômodo", diz a fonoaudióloga Katya Freire, que estudou música e audição para seu doutorado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
No Brasil, o primeiro aparelho para tratar o problema com musicoterapia deve ser testado ainda neste semestre, sob coordenação da otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez, chefe do grupo de pesquisa em zumbido da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O aparelho foi desenvolvido na Austrália em 2004 e já é usado rotineiramente nos EUA. Ele também ajusta a música conforme a frequência do zumbido do paciente. "O produto se propõe oferecer a música com espectro personalizado, com fone de ouvido que tem volume diferente para cada orelha, porque muitas vezes a perda de audição é diferente nos dois ouvidos", explica Sanchez.
Pessoas que sofrem de zumbido podem ter a área do cérebro relacionada à audição em constante estado de alerta -e, por isso, ficam o tempo todo ouvindo o ruído. "A música tem a capacidade de fazer o cérebro perder esse estado e adquirir a capacidade de ignorar estímulos repetidos e baixos", diz.
A terapia de retreinamento do zumbido, uma das técnicas mais usadas para tratar o problema, tem como um dos princípios o chamado enriquecimento sonoro -quando o paciente escuta um som em volume mais baixo do que o zumbido para aprender a lidar com o ruído. Nesse caso, o som pode ser de algum elemento da natureza (como de cachoeira) ou alguma música suave, que não chame muito a atenção do paciente. "Mas não dá para chamar esse tratamento de musicoterapia", enfatiza Sanchez.


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