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Cientistas testam droga alucinógena contra a depressão
Congresso internacional debate possibilidades terapêuticas de substância "psicodélica" encontrada em cogumelos
Nos EUA, estudos estão sendo conduzidos em universidades renomadas; aqui, especialistas alertam para riscos dos alcaloides
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um congresso internacional
que começa nesta semana nos
Estados Unidos vai reunir cientistas do mundo inteiro para
discutir as possibilidades terapêuticas de alucinógenos contra problemas como depressão,
transtorno obssessivo-compulsivo, ansiedade e transtorno de
estresse pós-traumático.
As substâncias alucinógenas
em discussão são as encontradas em vários tipos de cogumelos. O potencial terapêutico
desses alcaloides, que têm efeitos parecidos com o do LSD,
suscita a curiosidade de cientistas desde os anos 1950. Nos
anos 60, o professor de Harvard Timothy Leary ficou famoso ao propor efeitos terapêuticos dos alucinógenos. As
pesquisas na área foram interrompidas depois dos abusos cometidos naquela década.
Os estudos atuais ocorrem
em centros de excelência e universidades reconhecidamente
sérias, como Johns Hopkins,
Harvard, New York University
e Universidade da Califórnia.
Um deles, realizado na Johns
Hopkins University, mostra
que a psilocibina -princípio
ativo de cogumelos sagrados
usados em rituais indígenas-
induz mudanças positivas no
comportamento, no humor e
nas atitudes, efeitos que duram
meses após a ingestão da droga.
A pesquisa envolveu 36 pessoas
e usou um grupo controle, que
ingeriu placebo. Depois de 14
meses, o grupo que tomou a
droga relatou se sentir melhor
e mais satisfeito com a vida.
A mesma equipe de pesquisadores avalia o uso da droga em
pacientes com depressão em
tratamento contra o câncer.
Na Califórnia, pesquisadores
relatam experiências de sucesso com o uso da psilocibina para aliviar a ansiedade de pacientes com doenças terminais.
Segundo os autores, ela ajuda
essas pessoas a enfrentar medo, pânico e depressão.
Como as reações a esse tipo
de droga variam de pessoa para
pessoa, os pesquisadores estão
desenvolvendo protocolos para
controlar os efeitos com mais
precisão e também têm observado, com exames de imagem,
as mudanças no cérebro sob influência das drogas.
"Alguns cientistas têm se interessado em estudar essas
drogas para casos que não respondem à medicação clássica",
diz a psiquiatra Camila Magalhães, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, de
São Paulo, e coordenadora do
Centro de Informações sobre
Saúde e Álcool. "Essas drogas
propiciam experiências que a
pessoa não tem com o uso da
medicação. No entanto, há um
risco muito grande de expor o
indivíduo aos prejuízos que os
alucinógenos podem causar."
"Não se sabe como a pessoa
vai reagir. Em pessoas com predisposição, podem levar a distúrbios psiquiátricos", diz.
"É preciso avaliar muito bem
o custo-benefício desse uso, o
risco é muito grande", concorda o toxicologista Anthony
Wong, chefe do Ceatox (Centro
de Assistência Toxicológica),
do Instituto da Criança do HC
de São Paulo.
"A cocaína tem efeitos anestésicos e os opiáceos, analgésicos. Mas ainda não se conseguiu usar terapeuticamente nenhuma substância alucinógena", afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unidade de
Pesquisa em Álcool e Drogas da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo.
com "New York Times"
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