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29% das pesquisas sobre câncer têm conflito de interesse
12% dos trabalhos contavam com um empregado da indústria farmacêutica entre os autores
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase um terço dos estudos
sobre câncer publicados nos
principais periódicos do mundo apresentam conflitos de interesse, segundo uma pesquisa
publicada nesta semana na edição on-line do "Cancer". Foram
avaliados 1.534 artigos divulgados em revistas como "New England Journal of Medicine",
"Jama" e "Lancet" em 2006.
Desses trabalhos, 17% eram
patrocinados por indústrias
farmacêuticas e 12% tinham
um funcionário entre os autores -e traziam mais resultados
positivos. Estima-se que no
Brasil os números sejam maiores porque os estudos clínicos
são bancados pela indústria.
Para Reshma Jagsi, autora da
pesquisa e professora de radio-oncologia da Universidade de
Michigan (EUA), declarar os
conflitos não é suficiente. Ela
acredita que os pesquisadores
vão, consciente ou inconscientemente, enviesar as análises.
No Brasil, estudos clínicos
devem ser patrocinados pelo
contratante -normalmente a
indústria interessada no desenvolvimento da droga, diz o pesquisador Ricardo Bretani, presidente da Fundação Antônio
Prudente (mantenedora do
hospital A.C. Camargo) e do
Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp.
Hoje, os estudos em câncer
são focados no desenvolvimento de novas drogas e, por isso, é
uma das áreas que apresentam
estudos patrocinados.
Para o oncologista Paulo
Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer Octavio Frias de
Oliveira, os conflitos não implicam necessariamente uma pesquisa tendenciosa.
Para que os trabalhos sejam
publicados em periódicos renomados, é preciso que passem
pela revisão por pares -quando o estudo é avaliado por outros especialistas isentos.
Para evitar comprometimento prejudicial, os contratos
de pesquisa devem contar com
uma cláusula que prevê a publicação dos resultados mesmo
que sejam negativos. O pesquisador também deve deixar claro o tipo de conflito existente
na pesquisa. "O conflito só é
aceitável dentro de alguns limites. Receber dinheiro para pesquisa é aceitável, mas ganhar
uma viagem internacional com
a família, não", compara Hoff.
Para Jagsi, é preciso pressionar as instituições públicas para aumentar os fundos para estudos na área médica. "Pesquisadores teriam mais alternativas, e a pesquisa poderia ser desatada, ao menos em alguns aspectos, dos nós da indústria",
disse à Folha.
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