São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

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SP terá centro de cirurgia robótica de tumor

Instituto que é referência mundial em operações menos invasivas escolhe Hospital de Câncer de Barretos para sua quarta unidade

Ao menos 30% das vagas de treinamento serão para médicos do SUS; empresas europeias doaram US$ 12 milhões em equipamentos

France Caio Guatelli/Folha imagem
Diego de Jesus, 8, recebe cuidados na UTI após quimioterapia; com dores nas costas desde os cincos anos, o menino teve diagnostico tumor na coluna

CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A BARRETOS

Um instituto europeu de pesquisa, o Ircad, referência internacional em procedimentos minimamente invasivos e cirurgias robóticas, escolheu o Brasil para sediar sua quarta unidade, a primeira nas Américas. As outras três estão na França, em Taiwan e em Dubai.
O centro vai funcionar no Hospital de Câncer de Barretos (interior de SP), um dos principais polos de atendimento oncológico do SUS. Médicos brasileiros e da América Latina serão treinados para fazer cirurgias por videolaparoscopia, técnica que pode retirar um tumor de forma menos invasiva, com recuperação mais rápida e menos taxas de infecção.
Ao menos 30% das vagas de treinamento serão destinadas aos médicos do SUS. A direção do hospital fechou uma parceria com o governo de José Serra (PSDB) e negocia com o Ministério da Saúde outros acordos. Os equipamentos, avaliados em US$ 12 milhões, serão doados por empresas europeias por meio do Ircad. Ao todo, o centro custará US$ 20 milhões. A entrega está prevista para 2011.
O hospital de Barretos é considerado hoje o maior serviço da América Latina em cirúrgicas oncológicas do sistema digestivo por videolaparoscopia.
"Temos pacientes que têm alta do hospital após 24 horas. Na cirurgia aberta, ele ficaria seis dias internado. O meu paciente [do SUS] não tem empregado, não tem quem cuide dos filhos. Quero colocar esse paciente o mais rápido possível na casa dele", afirma o diretor do hospital, Henrique Prata.
O uso da videolaparoscopia para retirar tumores é polêmico. Uma das razões apontadas é que o tumor deve ser retirado junto com tecido normal (margem de segurança).
Como a maioria dos tumores malignos tem volumes maiores que 1 a 3 cm, alguns cirurgiões argumentam que pode ser arriscado retirá-los por meio de incisões tão pequenas como as usadas na videolaparoscopia. Há também um temor que esse tipo de cirurgia contribua para disseminar o câncer.
No entanto, vários estudos internacionais têm demonstrado que é possível a retirada de tumores, especialmente os de intestino, próstata, estômago e órgãos ginecológicos, com segurança e o mínimo de risco de reaparecimento do câncer.
"Essa medicina menos invasiva reduz em 75% o risco de infecção hospitalar e vai levar o paciente para casa com um terço do tempo normal que a cirurgia aberta", explica Prata.
Segundo o cirurgião Armando Geraldo Franchini Melani, chefe do departamento de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital de Câncer de Barretos, no caso do câncer de cólon, os resultados com a cirurgia laparoscópica são iguais ou até melhores em relação à cirurgia aberta convencional.
"Como as complicações da laparoscopia são menores, a cirurgia é indicada especialmente para pacientes de determinados grupos de risco, como obesos e idosos", avalia Melani.
Segundo ele, o sistema de saúde inglês, considerado um dos mais conservadores do mundo, está recomendando o aumento de cirurgias colorretais, gástricas e hepáticas por laparoscopia. Até 2011, a ideia é que o índice passe dos atuais 8% para 35%. No Brasil, estima-se que a taxa não atinja 5%.
"O que limita ainda é o custo dos equipamentos. Mas em compensação você ganha porque diminui a necessidade de terapia intensiva, os riscos de infecção pós-operatória e outras complicações que vão gerar gastos muito maiores."
Os médicos também serão treinados em medicina robótica, hoje presente no Brasil apenas em grandes centros médicos, como os hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês. Nos EUA, em torno 70% das cirurgias de próstata são robóticas.
"Há novos softwares sendo lançados que preservam em 99% o nervo da próstata. Nenhum homem vai querer mais operar do jeito antigo. O SUS pode achar caro o investimento, mas é direito absoluto de todo homem não ficar broxa", dispara Henrique Prata.


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