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Brasil cria 1º soro para veneno de abelhas
Toxinas liberadas nas ferroadas afetam coração, rins e fígado; previsão é que soro seja liberado em 2009
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores brasileiros desenvolveram o primeiro soro
contra veneno de abelhas. O
produto, que está em fase de
testes, é voltado para os casos
de reação tóxica -quando o
ataque dos insetos resulta em
centenas de ferroadas. A cada
cem ferroadas, 1 mg de veneno
passa a circular no sangue. Embora a substância não seja letal
na maioria dos casos, ela deixa
seqüelas no coração, nos rins e
no fígado, além do sofrimento
que causa nos primeiros dias.
"O paciente fica até cinco
dias na UTI, sofrendo. Meses
após o ataque, apresenta nefrite [inflamação do rim], lesões
no coração, sintomas parecidos
com hepatite. Era preciso um
soro para proteger essas pessoas", diz o bioquímico Mario
Sergio Palma, pesquisador da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) e orientador do estudo, que também envolveu especialistas do Instituto Butantã e
da USP.
Segundo Palma, estima-se
que, ao longo de 2008, serão registrados de 10,5 mil a 12 mil
acidentes com abelhas e vespas
no Estado de São Paulo. Os dados, segundo ele, ainda são
abaixo da realidade, devido à
subnotificação. Há uma média
de quatro a cinco casos de alta
gravidade por mês no Estado.
O problema não se restringe
à área rural, ressalta o bioquímico. "Formigas, vespas e abelhas estão se urbanizando muito depressa, já que o homem
tem invadido seus espaços."
Até agora, as tentativas para
criar um soro assim falharam,
diz Palma, porque os testes
buscavam avaliar os mesmos
parâmetros usados para venenos de serpentes, escorpiões e
aranhas. Assim, media-se sua
ação contra sintomas como hemorragias e danos neurológicos -só que o veneno de abelha
não causa esses problemas.
O primeiro passo foi determinar a composição do veneno
de abelha. Até cinco anos atrás,
só eram conhecidas cinco proteínas da substância. Nos primeiros três anos do estudo, foram identificadas mais de 200
proteínas. Isso permitiu a realização de ensaios específicos para monitorar os danos associados a essas toxinas.
Nos dois anos seguintes, o soro foi testado em animais. O veneno de abelha era injetado em
cavalos, dos quais eram extraídos os anticorpos. Esse soro era
avaliado in vitro para verificar
sua ação sobre as toxinas.
O próximo passo é a aplicação do soro em pacientes, que
deve ocorrer no Hospital Vital
Brasil, em São Paulo, especializado no atendimento a vítimas
de animais peçonhentos, ou no
Hospital das Clínicas da USP.
"A previsão é que o soro esteja
disponível já em 2009", afirma
Fábio Morato Castro, supervisor do serviço de imunologia
clínica e alergologia do HC, que
ajudou a criar o produto.
Alergia
O soro para veneno de abelhas não muda o tratamento de
pessoas alérgicas às ferroadas
desses insetos. Nesse caso, o
problema não é quantidade de
veneno, e sim a reação exacerbada do sistema imunológico.
Para esses pacientes, a indicação após um ataque continuará
sendo a aplicação de adrenalina, antialérgico e cortisona.
Castro, da USP, ressalta que
esse tipo de paciente também
pode fazer um tratamento para
se curar da alergia. O procedimento consiste em injeções
mensais por três anos. A medida é eficaz em 90% dos casos.
A proporção de pessoas alérgicas a veneno de abelha varia
conforme a etnia. No Brasil, devido à miscigenação, vai de
0,4% (pele mais escura) a 4%
(pessoas mais claras).
A reação ao ataque pode incluir inchaço, sudorese, taquicardia, diarréia e edema de glote e pode levar à morte. Quem
tem alergia a abelhas pode desenvolver a mesma reação a outros insetos, cujos venenos tenham composição semelhante.
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