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FOCO
"Reality show" mostra técnica da intervenção contra vícios
Reprodução
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A ex-viciada em metanfetamina Marci usa droga durante o programa
DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
Amor não cura vício, assim como não cura câncer ou
diabetes. Candy Finnigan,
ex-alcoólatra e interventora,
diz que muita gente ainda
não vê o vício como doença.
"Alguns acham que é falha
de caráter ou que a pessoa só
não está se esforçando o suficiente", afirma Candy em entrevista à Folha.
Ela faz parte do elenco do
programa "Intervenção" (canal A&E, hoje, 23h), que estreou na TV a cabo na semana passada. Seu trabalho,
dentro e fora do programa, é
aconselhar famílias e amigos
de um dependente químico
para que o convençam a aceitar um tratamento de desintoxicação. A essa confrontação com o dependente se dá
o nome de intervenção.
Os doentes que participam
do "reality show" não sabem
bem o que o que os espera
-as gravações começam antes da intervenção.
Acham que estão sendo
entrevistados para um documentário. Candy explica que
a surpresa é responsável por
85% do sucesso de uma intervenção. "Você não convidaria uma pessoa ao próprio
enforcamento e nem pediria
que ela levasse a corda."
O processo de intervenção
começa com uma reunião de
família sem a presença do dependente. Todo tipo de vício
pode ser abordado com esse
modelo: alcoolismo, dependência de drogas pesadas,
remédios tarja preta, compulsão por compras e distúrbios alimentares.
Um interventor, como
Candy, explica à família que
todos devem ter um só propósito e discurso, para forçar
a pessoa a aceitar o tratamento. Em alguns episódios,
as mães têm dúvidas se dão
um ultimato nos filhos.
Depois que o dependente
chega à reunião, uma parte
importante da intervenção é
o estabelecimento de consequências, punições para a
pessoa caso ela se recuse a
fazer o tratamento.
"Pode ser algo como "vou
me divorciar de você" ou "você não poderá mais levar
seus netos no carro para passear'", afirma Candy. Segundo ela, essas condições, sempre rigorosas, funcionam.
Quando concorda em se
tratar, a pessoa é levada no
ato ao centro de reabilitação.
Os participantes ficam internados no mínimo 90 dias.
Candy trabalha como interventora há 18 anos. Para
ela, um dos vícios mais difíceis de serem admitidos é em
remédios tarja preta.
"Começa com a pessoa indo ao dentista e recebendo
uma receita de analgésico. Se
ela tem uma tendência a se
viciar, desenvolve tolerância
e toma mais remédio. Depois, a dor vai embora, mas
ela continua tomando o remédio e tenta parar sozinha.
Aí começa uma dor "rebote"
que pode ser até mais forte do
que a original. Então ela não
consegue dormir e toma outro. Dali a pouco está viciada
em cinco, seis remédios."
Se o pessoal da tarja preta
teima em admitir o problema, os doentes de transtorno
alimentar têm mais dificuldade de evitar recaídas.
"Estou sóbria há 25 anos e
sei que não preciso beber de
novo. Mas é fácil ter recaída
de distúrbio alimentar, porque todo mundo come. E a
maior parte das famílias usa
a comida como celebração."
As câmeras que acompanham a família e o dependente não atrapalham o resultado da intervenção? Segundo Candy, não. Ela diz
que a taxa de sucesso do programa (75%) se deve também
à filmagem. "Quando a pessoa sai do tratamento e se vê
na TV como era enquanto alcoólatra ou drogado, vê o
quanto fez a família sofrer e
quanto é amada, é encorajada a não voltar a essa vida."
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