São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2010

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FOCO

"Reality show" mostra técnica da intervenção contra vícios

Reprodução
A ex-viciada em metanfetamina Marci usa droga durante o programa

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

Amor não cura vício, assim como não cura câncer ou diabetes. Candy Finnigan, ex-alcoólatra e interventora, diz que muita gente ainda não vê o vício como doença.
"Alguns acham que é falha de caráter ou que a pessoa só não está se esforçando o suficiente", afirma Candy em entrevista à Folha.
Ela faz parte do elenco do programa "Intervenção" (canal A&E, hoje, 23h), que estreou na TV a cabo na semana passada. Seu trabalho, dentro e fora do programa, é aconselhar famílias e amigos de um dependente químico para que o convençam a aceitar um tratamento de desintoxicação. A essa confrontação com o dependente se dá o nome de intervenção.
Os doentes que participam do "reality show" não sabem bem o que o que os espera -as gravações começam antes da intervenção.
Acham que estão sendo entrevistados para um documentário. Candy explica que a surpresa é responsável por 85% do sucesso de uma intervenção. "Você não convidaria uma pessoa ao próprio enforcamento e nem pediria que ela levasse a corda."
O processo de intervenção começa com uma reunião de família sem a presença do dependente. Todo tipo de vício pode ser abordado com esse modelo: alcoolismo, dependência de drogas pesadas, remédios tarja preta, compulsão por compras e distúrbios alimentares.
Um interventor, como Candy, explica à família que todos devem ter um só propósito e discurso, para forçar a pessoa a aceitar o tratamento. Em alguns episódios, as mães têm dúvidas se dão um ultimato nos filhos.
Depois que o dependente chega à reunião, uma parte importante da intervenção é o estabelecimento de consequências, punições para a pessoa caso ela se recuse a fazer o tratamento.
"Pode ser algo como "vou me divorciar de você" ou "você não poderá mais levar seus netos no carro para passear'", afirma Candy. Segundo ela, essas condições, sempre rigorosas, funcionam.
Quando concorda em se tratar, a pessoa é levada no ato ao centro de reabilitação. Os participantes ficam internados no mínimo 90 dias.
Candy trabalha como interventora há 18 anos. Para ela, um dos vícios mais difíceis de serem admitidos é em remédios tarja preta.
"Começa com a pessoa indo ao dentista e recebendo uma receita de analgésico. Se ela tem uma tendência a se viciar, desenvolve tolerância e toma mais remédio. Depois, a dor vai embora, mas ela continua tomando o remédio e tenta parar sozinha. Aí começa uma dor "rebote" que pode ser até mais forte do que a original. Então ela não consegue dormir e toma outro. Dali a pouco está viciada em cinco, seis remédios."
Se o pessoal da tarja preta teima em admitir o problema, os doentes de transtorno alimentar têm mais dificuldade de evitar recaídas.
"Estou sóbria há 25 anos e sei que não preciso beber de novo. Mas é fácil ter recaída de distúrbio alimentar, porque todo mundo come. E a maior parte das famílias usa a comida como celebração."
As câmeras que acompanham a família e o dependente não atrapalham o resultado da intervenção? Segundo Candy, não. Ela diz que a taxa de sucesso do programa (75%) se deve também à filmagem. "Quando a pessoa sai do tratamento e se vê na TV como era enquanto alcoólatra ou drogado, vê o quanto fez a família sofrer e quanto é amada, é encorajada a não voltar a essa vida."


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