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Soja e terapia sintética têm igual ação na menopausa
Estudo da Unicamp mostra que alimento reduziu ondas de calor e secura vaginal
Para Sociedade Brasileira do Climatério, terapia de reposição hormonal ainda é a melhor opção para alívio de sintomas nas mulheres
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um alimento em pó, à base
de soja e cálcio, é tão eficaz no
combate dos sintomas da menopausa quanto a terapia de reposição hormonal (TRH) convencional, aponta um estudo
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que foi
apresentado no final de setembro em um congresso norte-americano sobre climatério.
A soja contém proteínas e
isoflavonas, uma classe de fitoestrógenos "imitadores" do
hormônio feminino estrogênio, que apresenta queda na
menopausa. O composto avaliado no estudo foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros e já está sendo vendido.
Para os pesquisadores, o produto é uma opção segura e eficaz a mulheres que não querem
usar os hormônios sintéticos.
Em 2002, o estudo WHI (Women Health's Initiative) mostrou que a TRH pode aumentar
os riscos de câncer da mama e
doenças cardiovasculares.
Na menopausa, 75% das mulheres têm queixas de ondas de
calor. Sentem ainda suores noturnos, incontinência urinária,
ressecamento da pele e secura
vaginal, irritabilidade, perda da
concentração e da libido e depressão. Em 30% dos casos, os
sintomas são severos. A longo
prazo, o déficit hormonal está
ligado ao aumento de osteoporose e doenças cardiovasculares e cognitivas, entre outras.
"Tanto o composto como o
hormônio melhoraram as queixas de ondas de calor, dores no
corpo e secura vaginal de forma
parecida; não houve diferença
estatística significante", diz o
ginecologista Lucio Carmignani, um dos autores do estudo.
Embora avalie o estudo da
Unicamp como "muito criterioso" e com resultados "bastante confiáveis", o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente do conselho
científico da Sociedade Brasileira do Climatério, afirma que
a TRH sintética ainda é a melhor opção para aliviar os sintomas e prevenir doenças cardiovasculares e osteoporose.
Na sua opinião, os resultados
favoráveis do estudo com o
composto de soja podem ter
ocorrido porque as mulheres
selecionadas, provavelmente,
não apresentavam sintomas,
como ondas de calor, muito intensos. "Se fossem pacientes ricamente sintomáticas, talvez o
resultado pudesse ser outro."
A ginecologista da Unicamp
Adriana Orcesi Pedro, outra
autora do estudo, reforça que
só foram selecionadas mulheres com sintomas moderados e
severos. "Nos EUA, a repercussão do estudo foi muito positiva. Eles buscam alternativas à
terapia hormonal, mas ainda
não conseguiram desenvolver
um alimento que tenha tido a
sua efetividade comprovada
em um estudo como o nosso."
A metodologia
O estudo foi randomizado,
duplo-cego e controlado por
placebo. Em outras palavras,
houve uma escolha aleatória do
produto que cada participante
recebeu e ninguém soube o que
estava consumindo de fato. Foram triadas 1.520 mulheres entre 40 e 60 anos, mas só 60 foram consideradas aptas para o
ensaio: 20 usaram o produto de
soja (Previna); 20, a TRH de
baixa dosagem (Activelle); 20
receberam placebo.
O alimento à base de soja
conseguiu reduzir em 65,4% as
ondas de calor e em 40% as dores musculares e articulares,
segundo Lucio Carmignani.
A nutricionista Andrea Frias,
que é conselheira científica da
Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais e integrou a
equipe que desenvolveu o composto, atribui os efeitos do produto a uma maior quantidade
de isoflavona e proteínas da soja. "É bem superior à encontrada no grão da soja ou no tofu."
Embora o estudo tenha
apontado benefícios parecidos
entre o alimento e a TRH, Carmignani diz que, em geral, as
mulheres que usam hormônios
costumam relatar melhora dos
sintomas em uma "proporção
maior e mais rápida" do que as
que usam produtos de soja.
Segundo ele, o produto não
deve ser encarado como substitutivo da TRH. "Ele é apenas
uma opção para as mulheres
que não desejam fazer uso da
terapia hormonal. A decisão sobre qual terapia de reposição é
a mais indicada deve ser tomada em conjunto com o médico."
O ginecologista José Aristodemo Pinotti, que coordenou
na USP um estudo semelhante
sobre o composto de soja, o vê
como uma boa alternativa. "A
quantidade de hormônio [sintético] deve ser a menor e pelo
menor tempo possível."
NA INTERNET - Leia mais
www.sobrac.org.br/
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