São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Soja e terapia sintética têm igual ação na menopausa

Estudo da Unicamp mostra que alimento reduziu ondas de calor e secura vaginal

Para Sociedade Brasileira do Climatério, terapia de reposição hormonal ainda é a melhor opção para alívio de sintomas nas mulheres

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um alimento em pó, à base de soja e cálcio, é tão eficaz no combate dos sintomas da menopausa quanto a terapia de reposição hormonal (TRH) convencional, aponta um estudo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que foi apresentado no final de setembro em um congresso norte-americano sobre climatério. A soja contém proteínas e isoflavonas, uma classe de fitoestrógenos "imitadores" do hormônio feminino estrogênio, que apresenta queda na menopausa. O composto avaliado no estudo foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros e já está sendo vendido. Para os pesquisadores, o produto é uma opção segura e eficaz a mulheres que não querem usar os hormônios sintéticos. Em 2002, o estudo WHI (Women Health's Initiative) mostrou que a TRH pode aumentar os riscos de câncer da mama e doenças cardiovasculares. Na menopausa, 75% das mulheres têm queixas de ondas de calor. Sentem ainda suores noturnos, incontinência urinária, ressecamento da pele e secura vaginal, irritabilidade, perda da concentração e da libido e depressão. Em 30% dos casos, os sintomas são severos. A longo prazo, o déficit hormonal está ligado ao aumento de osteoporose e doenças cardiovasculares e cognitivas, entre outras. "Tanto o composto como o hormônio melhoraram as queixas de ondas de calor, dores no corpo e secura vaginal de forma parecida; não houve diferença estatística significante", diz o ginecologista Lucio Carmignani, um dos autores do estudo. Embora avalie o estudo da Unicamp como "muito criterioso" e com resultados "bastante confiáveis", o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente do conselho científico da Sociedade Brasileira do Climatério, afirma que a TRH sintética ainda é a melhor opção para aliviar os sintomas e prevenir doenças cardiovasculares e osteoporose. Na sua opinião, os resultados favoráveis do estudo com o composto de soja podem ter ocorrido porque as mulheres selecionadas, provavelmente, não apresentavam sintomas, como ondas de calor, muito intensos. "Se fossem pacientes ricamente sintomáticas, talvez o resultado pudesse ser outro." A ginecologista da Unicamp Adriana Orcesi Pedro, outra autora do estudo, reforça que só foram selecionadas mulheres com sintomas moderados e severos. "Nos EUA, a repercussão do estudo foi muito positiva. Eles buscam alternativas à terapia hormonal, mas ainda não conseguiram desenvolver um alimento que tenha tido a sua efetividade comprovada em um estudo como o nosso."

A metodologia
O estudo foi randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Em outras palavras, houve uma escolha aleatória do produto que cada participante recebeu e ninguém soube o que estava consumindo de fato. Foram triadas 1.520 mulheres entre 40 e 60 anos, mas só 60 foram consideradas aptas para o ensaio: 20 usaram o produto de soja (Previna); 20, a TRH de baixa dosagem (Activelle); 20 receberam placebo. O alimento à base de soja conseguiu reduzir em 65,4% as ondas de calor e em 40% as dores musculares e articulares, segundo Lucio Carmignani. A nutricionista Andrea Frias, que é conselheira científica da Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais e integrou a equipe que desenvolveu o composto, atribui os efeitos do produto a uma maior quantidade de isoflavona e proteínas da soja. "É bem superior à encontrada no grão da soja ou no tofu." Embora o estudo tenha apontado benefícios parecidos entre o alimento e a TRH, Carmignani diz que, em geral, as mulheres que usam hormônios costumam relatar melhora dos sintomas em uma "proporção maior e mais rápida" do que as que usam produtos de soja. Segundo ele, o produto não deve ser encarado como substitutivo da TRH. "Ele é apenas uma opção para as mulheres que não desejam fazer uso da terapia hormonal. A decisão sobre qual terapia de reposição é a mais indicada deve ser tomada em conjunto com o médico." O ginecologista José Aristodemo Pinotti, que coordenou na USP um estudo semelhante sobre o composto de soja, o vê como uma boa alternativa. "A quantidade de hormônio [sintético] deve ser a menor e pelo menor tempo possível."

NA INTERNET - Leia mais
www.sobrac.org.br/



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