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Sibutramina pode elevar risco cardíaco
Estudo feito com 10 mil pacientes mostrou que droga usada para emagrecer aumenta chances de infarto e de derrame
Medicamento pode acelerar os batimentos do coração; grupo americano de defesa do consumidor solicitou
a proibição da substância
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O FDA (agência responsável
pelo controle de drogas e alimentos dos EUA) investiga
uma possível associação da sibutramina -uma das drogas
mais usadas no Brasil para tratar obesidade- com um maior
risco cardiovascular. Na semana passada, o Public Citizen,
grupo de defesa do consumidor
americano, pediu à agência a
proibição da droga.
O pedido foi feito com base
em resultados preliminares de
um estudo internacional de larga escala (chamado Scout) com
10 mil pacientes, que mostrou
que 11,4% dos que tomaram sibutramina (Meridia, da Abbott) morreram ou sofreram
paradas cardíacas ou derrames.
Entre os pacientes que receberam placebo, a taxa de eventos graves foi de 10%. Para os
pesquisadores, a diferença de
1,4 ponto percentual tem relevância estatística.
Desenvolvida na década de
80 e aprovada pelo FDA em
1997, a sibutramina promove a
saciedade. Na bula do medicamento há um alerta de que a
droga pode causar efeitos colaterais, que vão de dor de cabeça
e constipação até pressão alta e
aceleração dos batimentos cardíacos. Pessoas com problemas
de coração não devem fazer uso
da droga.
O clínico-geral Pieter Cohen,
professor na Escola de Medicina de Harvard e um dos estudiosos mais respeitados sobre
os efeitos das pílulas de emagrecimento, diz que o estudo
Scout é muito importante por
ser o primeiro grande trabalho
a acompanhar não só a perda de
peso mas também os desfechos
clínicos causados pelo remédio.
"Como até agora não havia
provas da segurança da droga,
eu não a prescrevo, embora trate de centenas de pessoas para
a perda de peso. Tento investir
em mudanças de estilo de vida
e terapia cirúrgica, quando
apropriada", afirmou à Folha.
Segundo ele, embora a sibutramina ajude a reduzir "modestamente" o peso, pode aumentar o risco cardiovascular.
A droga é indicada a pessoas
com IMC (índice de massa corporal) acima de 30.
Para Ricardo Meirelles, presidente da Sbem (Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia), a sibutramina é
a droga mais segura do mercado -já que as anfetaminas foram praticamente banidas-,
desde que bem indicada. Os resultados do novo estudo não
invalidam a sua utilização, segundo o endocrinologista.
"As pessoas que participaram do Scout já tinham fatores
de risco cardiovascular e, normalmente, não deveriam receber o medicamento. O estudo
foi feito para ver se esses pacientes poderiam ser beneficiados. Infelizmente, esses resultados preliminares mostram
que isso não ocorreu."
Ele afirma que é muito difícil
tratar o paciente obeso. "Temos que avaliar se os riscos não
superam os benefícios. Nenhum medicamento faz milagre se a pessoa não adotar mudanças no estilo de vida".
O porta-voz internacional do
laboratório Abbott, Kurt Ebenhoch, informou que o remédio é seguro quando usado conforme o recomendado. O Meridia "não é indicado ou aprovado para o uso em mais de 90%
dos pacientes que participaram
do estudo Scout", disse ele, por
meio de nota.
Além do Meridia, a sibutramina é substância ativa de outros remédios usados para
emagrecimento e também de
fórmulas que podem ser preparadas em farmácias de manipulação com receita médica.
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