São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2011

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Pesquisa contesta aleitamento exclusivo após 4 meses de idade

Orientação da OMS de 6 meses só com leite materno não tem base científica e pode levar à anemia, diz artigo inglês

Para o Ministério da Saúde, benefícios do aleitamento exclusivo são provados por estudos abrangentes


MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Contrariando as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), pesquisadores agora questionam se a amamentação deve ser exclusiva até os seis meses de idade do bebê.
Os autores afirmam que a introdução de alimentos sólidos a partir dos quatro meses, juntamente com a amamentação, traz benefícios.
Entre eles está o menor risco de a criança desenvolver alergias e doença celíaca (intolerância ao glúten).
O estudo contesta os seis meses indicados pela OMS desde 2001. O Ministério da Saúde segue essa orientação.
Mas, na prática, a duração média da amamentação exclusiva no país é de 1,8 mês, segundo os últimos dados do ministério, de 2008.
O artigo, publicado no periódico "British Medical Journal", aponta que não há evidências científicas suficientes para que a organização tenha tomado a decisão.
Para Ary Lopes Cardoso, chefe de nutrologia do Instituto da Criança do HC de São Paulo, a amamentação complementar é prática antiga. "Teoricamente, não está errado. Embora não seja o melhor, não vejo problemas."
Segundo ele, o ideal é que o aleitamento seja feito até os seis meses, mas não se pode tomar uma posição rígida. "Não dá para apregoar coisas impossíveis. É preciso considerar caso a caso."
Os autores, de instituições como o Childhood Nutrition Research Centre, da University College London, e do Institute of Child Health, da Universidade de Birmingham, também tocam nesse ponto.
Dizem não ser contra a amamentação e apoiar a orientação da OMS, mas afirmam que deve haver interpretações diferentes em cada lugar -em países com alta mortalidade por infecção, a duração pode ser maior.

FALTA DE FERRO
Outro benefício de introduzir alimentos sólidos antes dos seis meses seria uma redução no risco de anemia, já que o cardápio mais variado ofereceria uma maior quantidade de ferro.
Mas, segundo Virgínia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, os alimentos sozinhos não são capazes de cumprir esse papel em caso de deficiência.
"É precisa investigar a história da mãe, da criança, se é prematura. Nesses casos, é preciso usar medicamentos."
Weffort afirma que a sociedade de pediatria está revisando estudos para saber se esses remédios, chamados sais ferrosos, devem ser usados também em crianças saudáveis a partir dos quatro meses. A mesma revisão, segundo ela, está sendo feita a respeito da introdução de alimentos nessa idade.
Para ela, no entanto, ainda é preciso haver mais estudos para dizer se a criança que começar a comer aos quatro meses terá mais benefícios. "Se começar nessa idade, a obesidade vai aumentar? Acredito que sim, porque o bebê pode se alimentar mal."
Danielle Silva, coordenadora de processamento e controle de qualidade do Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, afirma que o leite materno supre todas as necessidades da criança até os seis meses. Se a introdução de alimentos for necessária, diz, deve ser prescrita e acompanhada por médicos.

CRÍTICA À OMS
O artigo afirma que a organização baseou a diretriz dos seis meses com leite materno em uma revisão de 16 estudos dos quais só dois eram randomizados.
Lilian Espírito Santo, assessora sobre aleitamento materno da área da saúde da criança do Ministério da Saúde, afirma que a recomendação foi seguida e tomada a partir de estudos sérios e abrangentes.


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