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Câncer colorretal cresce em todo o mundo, diz pesquisa
Em SP, tumor é o 2º de maior incidência entre mulheres, só perde para o de mama
Crescimento, que variou de 11% a 92%, é atribuído a um maior consumo de carne vermelha em detrimento de frutas, verduras e cereais
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em duas décadas, a incidência de câncer colorretal cresceu
entre homens e mulheres de
todo o mundo, revela estudo
publicado na revista "Cancer
Epidemiology Biomarkers and
Prevention". O aumento, que
variou entre 11% (Finlândia) e
92% (Japão), é atribuído à chamada "ocidentalização" dos
costumes, especialmente ao
maior consumo de carnes vermelhas e processadas.
Em São Paulo, esse tumor é o
segundo de maior incidência
entre mulheres -só perde para
o câncer de mama- e o terceiro
entre os homens, atrás dos cânceres de próstata e de traqueia,
brônquio e pulmão. No Brasil,
ocupa o terceiro (mulheres) e o
quarto lugar (homens), segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Em números absolutos (não
ajustados para fatores como o
envelhecimento da população),
a mortalidade por esse tipo de
câncer no país também deu um
grande salto na última década.
Entre homens, passou de 2.843
(em 1996) para 5.142 (em
2006), um aumento de 81%.
Entre mulheres, o aumento foi
de 69% (de 3.352 para 5.679).
A pesquisa americana, coordenada pela epidemiologista
Melissa Center, da American
Cancer Society, avaliou dados
oncológicos de 51 países entre
1983 e 2002. Em 27 deles, distribuídos nos cinco continentes, foi verificado aumento do
câncer de colorretal. Em todo o
mundo, foi o terceiro tumor
mais frequente entre mulheres
e o quarto entre homens.
"As taxas são alarmantes.
Mostram que estamos falhando tanto na detecção precoce
desses tumores quanto nas estratégicas para mudanças de
estilo de vida e de dieta", escreveram em editorial Asad Umar
e Peter Greenwald, do Instituto
Nacional de Câncer dos EUA.
Na Colômbia, único país da
América Latina avaliado no estudo, o crescimento da incidência do câncer colorretal foi de
55% entre homens e 75% entre
mulheres. No Japão, houve um
aumento de 92% (homens) e de
47% (mulheres).
Segundo o cirurgião oncológico Benedito Mauro Rossi, do
Hospital A.C. Camargo, especialista em câncer colorretal, a
pesquisa revela o que os médicos já vinham observando nos
consultórios. "Há vários estudos mostrando uma incidência
maior do tumor entre pessoas
que adotam uma dieta com base em carnes vermelhas e processadas e pobre em frutas, verduras, vegetais e cereais. O sedentarismo também é um fator
de risco importante."
"Estadunização"
Para Rossi, os embutidos e as
carnes processadas são os principais vilões. Além de produzidos com carnes vermelhas geralmente muito gordurosas,
trazem aditivos químicos denominados nitratos que, no estômago, podem se transformar
em nitritos. Esses, por sua vez,
se convertem em nitrosaminas,
que são agentes cancerígenos.
Na avaliação do nutricionista
Fábio Gomes, da área da alimentação, nutrição e câncer do
Inca, o Brasil vive a "estadunização" dos hábitos alimentares,
e essa pode ser uma das razões
do aumento do câncer colorretal. "Importamos hábitos dos
EUA. Comemos muito mais
gordura hoje do que há 40, 50
anos. A diferença é que hoje a
gordura e os aditivos são virtuais, ninguém percebe."
Soma-se aí o fato de que apenas um terço da população brasileira consome a recomendação diária (400 gramas) de frutas, verduras e legumes. "Até o
consumo de feijão, uma fonte
importante de fibras, tem diminuído entre os brasileiros."
Ele explica que o maior consumo de fibras agiliza a digestão e torna o funcionamento do
intestino regular, o que facilita
a eliminação de células precursoras do câncer que já estão naturalmente no organismo.
Menos ingestão de gordura
também reduz a produção de
ácidos que o organismo tem
que fabricar para digeri-la. Nesse processo, alguns desses ácidos podem se transformar em
agentes cancerígenos e agredir
a parede do intestino grosso, o
que também favorece o surgimento do tumor.
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