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Célula-tronco de gordura é usada em cirurgia cardíaca
Inédita no Brasil, pesquisa está sendo desenvolvida pelos institutos Dante Pazzanese e Ludwig para recuperar músculo cardíaco lesionado pelo infarto
Experiências parecidas já são realizadas no país com células-tronco tiradas da medula óssea; resultados devem sair em dezembro
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Células-tronco extraídas de
gordura da barriga serão usadas experimentalmente em cirurgias cardíacas com a intenção de recuperar o músculo do
coração lesionado pelo infarto.
A pesquisa, inédita no país, está
sendo desenvolvida pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em parceria com o
Instituto Ludwig, de São Paulo.
Experiências parecidas já são
feitas no Brasil com células-tronco da medula óssea. A expectativa dos pesquisadores do
Dante e do Ludwig é que a gordura forneça uma quantidade
maior de células, o que, em tese,
aumentaria as chances de sucesso do tratamento.
O tecido gorduroso, ricamente vascularizado, é fonte de células-tronco mesenquimais,
capazes de se diferenciar em
outros tipos de tecidos -como
osso, cartilagens e células nervosas. Na pesquisa do Dante, a
intenção é que elas induzam a
criação de vasos sangüíneos e
de novas células musculares
cardíacas na região lesionada.
O estudo envolverá 200 pacientes entre 40 e 75 anos que
necessitam passar por uma cirurgia de revascularização do
músculo cardíaco (ponte de safena), em razão de lesões nas
coronárias e de um enfraquecimento do músculo do coração.
Metade do grupo fará apenas
a cirurgia tradicional e a outra
metade receberá uma injeção
de célula-tronco no músculo
cardíaco. Por meio de uma cânula semelhante à usada na lipoaspiração, é feita a punção de
100 ml de gordura da barriga do
paciente, como explica a cirurgiã plástica Isa Dietrich, pesquisadora do Instituto Ludwig
que já desenvolveu na França
uma pesquisa semelhante.
"A intenção é que essa célula-tronco se transforme em vasos
sangüíneos e, principalmente,
em células cardíacas, o que aumentaria a força do batimento
na parede [do coração] que estava parada", diz o cardiologista Marcelo Sampaio, responsável pelo Laboratório de Biologia Molecular do Dante.
Para ele, a retirada de células-tronco do tecido adiposo
humano tem vantagens. "É um
processo simples e pode ser feito concomitantemente à cirurgia. Além disso, uma grande
contingência de células-tronco
emana dessa punção, muito
mais do que da medula óssea."
Ele afirma que as pesquisas
com células-tronco da medula
óssea mostraram que elas não
resultaram em grande quantidade de células de tecido muscular cardíaco. "Também houve muita perda de material. As
células que se transformaram,
um ano depois morriam."
InCor
O cardiologista José Eduardo
Krieger, diretor do Laboratório
de Genética e Cardiologia Molecular do InCor, rebate a afirmação explicando que a situação descrita por Sampaio se refere a experiências em que células-tronco da medula foram
injetadas na corrente sangüínea, não no músculo cardíaco
-como é o caso de um estudo
desenvolvido no InCor. "Estamos testando a eficácia desse
tratamento por meio de um estudo duplo-cego. Mas nem nós
sabemos ainda o resultado."
O estudo faz parte de um dos
braços da maior pesquisa clínica do mundo em terapia com
célula-tronco, que o Brasil realiza há três anos. O trabalho
avalia o impacto da utilização
das células-tronco em quatro
das principais doenças cardíacas: doença de Chagas, isquemia crônica, infarto e o "inchaço do coração" (cardiomiopatia
dilatada). Os primeiros resultados saem em dezembro.
Krieger diz que o InCor também tem pesquisado células-tronco extraídas da gordura,
em uma fase pré-clínica (com
animais). "A gente tem que entender como essa célula pode
dar origem a células da musculatura cardíaca, ou, o que é mais
provável, como ela produzirá
substâncias que vão estimular a
formação de novos vasos [sangüíneos]. Precisamos conhecer
demais o comportamento dessas células antes de passar para
[experiências com] humanos."
Marcelo Sampaio diz que não
há riscos para o paciente. "São
células do própria pessoa, não
há problema de rejeição."
Segundo o médico, hoje, os
resultados da cirurgia de ponte
de safena são muitos bons em
relação à restauração do fluxo
sangüíneo no coração e ao alívio de sintomas.
O problema tem sido a recuperação do músculo necrosado,
que leva ao desenvolvimento
da insuficiência cardíaca. "Os
pacientes ficam seqüelados. Há
estudos que mostram que os
pacientes já não morrem tanto
por infarto, mas por complicações da insuficiência cardíaca."
A previsão é de que, em seis
meses, sejam obtidos os primeiros resultados do estudo,
que deve seguir por dois anos.
7 fatores de risco cardíaco
>> Fumo
>> Colesterol elevado
>> Pressão arterial elevada
>> Sedentarismo
>> Obesidade
>> Diabetes
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