São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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Hemofílicos se queixam de falta de anticoagulante

Problemas levaram Hemorrede do Estado de São Paulo a considerar a situação "extremamente crítica e delicada"

Dificuldades para adquirir o fator causaram suspensões das doses domiciliares, racionamentos e escassez em algumas unidades

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Hemofílicos de diferentes regiões do país enfrentam problemas com o abastecimento de fator 8, substância do sangue que estimula a coagulação. As dificuldades para a aquisição do produto por parte do Ministério da Saúde causaram nos últimos anos racionamentos, suspensões da dose domiciliar e até a falta do produto, como verificado nas últimas semanas em algumas unidades.
O Ministério da Saúde diz que não há falta do produto, que cumpre o cronograma de envio de fator 8 e que há inclusive um estoque (leia ao lado).
Um dos locais afetados foi o Centro Infantil Boldrini, que atende 132 pacientes hemofílicos deficientes de fator 8 em Campinas (95 km de São Paulo). Lá, a coordenação informava que ontem pela manhã havia "zero frasco". Em Sorocaba, também no interior de SP, a advogada Evelise Damião Maximiliano Nogueira conta que seu filho de 9 anos recebeu um tratamento com produto usado em outra doença hemorrágica em razão da falta do fator 8.
O ministério começou o ano sem encontrar fornecedor de fator 8 que se encaixasse no pregão de dezembro. Outras compras foram acertadas ao longo do ano, mas, em outubro, a Baxter fez um recall de um lote de fator porque foram encontradas fissuras em frascos de água que vêm com o fator.
Sylvia Thomas, presidente da Federação Brasileira de Hemofilia, diz que, com os problemas na aquisição, os hemofílicos "sobrevivem, sem qualidade de vida e com dor crônica." Ela afirma que o problema ocorre em todo o país.
Uma das principais críticas é à falta da dose domiciliar -duas ou mais doses de fator dados aos hemofílicos para conter sangramentos e evitar dores e seqüelas até chegar ao hospital. O ideal é que o tratamento aconteça na primeira meia hora. A dose é tema de um manual de coagulopatias do ministério, mas, na prática, "é a primeira coisa a ser suspensa quando a quantidade de fator diminui", diz Sylvia.

Sem dose domicilar
Adriano Lopes, 33, hemofílico e membro da Comissão de Usuários do Serviço de Hemofilia do Hospital Brigadeiro, em São Paulo, afirma que até o final do ano passado conseguia levar a dose para casa. Neste ano, não. "Tenho que ir ao hospital toda vez que tenho sangramento, comum no joelho e no cotovelo. Fui na quinta e tive que voltar na sexta. Isso só piora o quadro", diz ele, que sofre de artrose no joelho direito.
Os problemas enfrentados pelos hemocentros em São Paulo fizeram a Secretaria Estadual da Saúde, por meio de sua Hemorrede, considerar a situação como "extremamente crítica e delicada" em um e-mail enviado recentemente à Coordenação Nacional, ao qual a Folha teve acesso.
Na quinta, porém, a secretaria informou que a situação se normalizaria com as novas previsões de envio do ministério.
Historicamente um problema de saúde pública no Brasil, o atendimento aos hemofílicos sofreu um duro golpe após a descoberta da Máfia dos Vampiros, em 2004. Denúncias envolvendo políticos e membros dos laboratórios em irregularidades e favorecimentos na compra de fator fizeram o país suspender a importação do plasma (parte líquida do sangue) de onde vinha pequena parte do fator consumido.
Outro problema, segundo Sylvia Thomas, é a posição do ministério de oferecer um preço baixo em relação a outros países do mundo para a compra do fator, uma das causas de insucesso nos pregões.


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