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Hemofílicos se queixam de falta de anticoagulante
Problemas levaram Hemorrede do Estado de São Paulo a considerar a situação "extremamente crítica e delicada"
Dificuldades para adquirir o fator causaram suspensões das doses domiciliares, racionamentos e escassez em algumas unidades
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Hemofílicos de diferentes regiões do país enfrentam problemas com o abastecimento de
fator 8, substância do sangue
que estimula a coagulação. As
dificuldades para a aquisição
do produto por parte do Ministério da Saúde causaram nos
últimos anos racionamentos,
suspensões da dose domiciliar
e até a falta do produto, como
verificado nas últimas semanas
em algumas unidades.
O Ministério da Saúde diz
que não há falta do produto,
que cumpre o cronograma de
envio de fator 8 e que há inclusive um estoque (leia ao lado).
Um dos locais afetados foi o
Centro Infantil Boldrini, que
atende 132 pacientes hemofílicos deficientes de fator 8 em
Campinas (95 km de São Paulo). Lá, a coordenação informava que ontem pela manhã havia
"zero frasco". Em Sorocaba,
também no interior de SP, a advogada Evelise Damião Maximiliano Nogueira conta que
seu filho de 9 anos recebeu um
tratamento com produto usado
em outra doença hemorrágica
em razão da falta do fator 8.
O ministério começou o ano
sem encontrar fornecedor de
fator 8 que se encaixasse no
pregão de dezembro. Outras
compras foram acertadas ao
longo do ano, mas, em outubro,
a Baxter fez um recall de um lote de fator porque foram encontradas fissuras em frascos
de água que vêm com o fator.
Sylvia Thomas, presidente da
Federação Brasileira de Hemofilia, diz que, com os problemas
na aquisição, os hemofílicos
"sobrevivem, sem qualidade de
vida e com dor crônica." Ela
afirma que o problema ocorre
em todo o país.
Uma das principais críticas é
à falta da dose domiciliar
-duas ou mais doses de fator
dados aos hemofílicos para
conter sangramentos e evitar
dores e seqüelas até chegar ao
hospital. O ideal é que o tratamento aconteça na primeira
meia hora. A dose é tema de um
manual de coagulopatias do
ministério, mas, na prática, "é a
primeira coisa a ser suspensa
quando a quantidade de fator
diminui", diz Sylvia.
Sem dose domicilar
Adriano Lopes, 33, hemofílico e membro da Comissão de
Usuários do Serviço de Hemofilia do Hospital Brigadeiro, em
São Paulo, afirma que até o final do ano passado conseguia
levar a dose para casa. Neste
ano, não. "Tenho que ir ao hospital toda vez que tenho sangramento, comum no joelho e
no cotovelo. Fui na quinta e tive
que voltar na sexta. Isso só piora o quadro", diz ele, que sofre
de artrose no joelho direito.
Os problemas enfrentados
pelos hemocentros em São
Paulo fizeram a Secretaria Estadual da Saúde, por meio de
sua Hemorrede, considerar a
situação como "extremamente
crítica e delicada" em um e-mail enviado recentemente à
Coordenação Nacional, ao qual
a Folha teve acesso.
Na quinta, porém, a secretaria informou que a situação se
normalizaria com as novas previsões de envio do ministério.
Historicamente um problema de saúde pública no Brasil,
o atendimento aos hemofílicos
sofreu um duro golpe após a
descoberta da Máfia dos Vampiros, em 2004. Denúncias envolvendo políticos e membros
dos laboratórios em irregularidades e favorecimentos na
compra de fator fizeram o país
suspender a importação do
plasma (parte líquida do sangue) de onde vinha pequena
parte do fator consumido.
Outro problema, segundo
Sylvia Thomas, é a posição do
ministério de oferecer um preço baixo em relação a outros
países do mundo para a compra do fator, uma das causas de
insucesso nos pregões.
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