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HISTÓRIA
Ela quase perdeu o útero
Cristiane Faccioli, 31, ia ao hospital todo mês por causa das cólicas geradas por três miomas; após quase perder o útero, passou por um tratamento menos invasivo e conseguiu ser mãe
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Cristiane Faccioli com a filha, Maria Laura
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Durante toda a adolescência
e o início da vida adulta, Cristiane Faccioli, 31, ficava ao menos quatro dias no mês "fechada para balanço". O fluxo
menstrual era tão intenso que
ela usava dois absorventes e os
trocava a cada meia hora. Tinha tanta cólica que perdia o
movimento das pernas.
Invariavelmente, ia parar no
hospital para tomar remédio
na veia -os comprimidos tradicionais eram como "água
com açúcar", conta.
Nesse período, não conseguia fazer nada: quando adolescente, pedia para a mãe buscá-la onde estivesse e faltava às
aulas. Mais tarde, começou a
trabalhar como advogada e
precisava cancelar reuniões e
audiências. "O problema complicava minha vida profissional
absurdamente. No primeiro
dia de menstruação eu já desmarcava reuniões. Tinha que
pedir a um colega que fosse às
audiências no meu lugar", diz.
Como se sentia assim desde
que começou a menstruar,
achava aquilo natural. Os médicos diziam que o que ela tinha era algo normal da adolescência e passaria.
Mas foi só piorando e, na
época da faculdade, o problema
agravava-se com o estresse. Até
que, aos 26 anos, Cristiane teve
uma hemorragia que durou
três meses. Foi seu período
mais crítico. "Resolvi dar um
basta. Não dava para viver daquele jeito", afirma.
Mudou de ginecologista e a
nova médica lhe receitou um
remédio anti-hemorrágico. Era
para tomá-lo por poucos dias,
mas ela o usou continuamente
por mais três meses, porque
sempre que parava de tomar o
sangramento voltava.
Foi quando a ginecologista
pediu um ultrassom e detectou
o que estava causando todos os
problemas: ela tinha três miomas, tumores benignos que se
formam no útero e, em alguns
casos, podem provocar os sintomas que incomodavam Cristiane desde nova.
A advogada ficou assustada
com o que ouviu da médica: teria que passar por uma histerectomia, ou seja, a retirada do
útero. "Falei que não ia fazer
aquilo. Eu tinha 24 anos, nem
tinha casado, queria ter filhos."
Foi seu namorado na época,
hoje seu marido, que leu numa
revista informações sobre a
embolização de miomas, técnica existente há cerca de dez
anos que trata o problema de
forma menos invasiva.
Cristiane buscou um especialista no procedimento e ouviu dele respostas tranquilizadoras. "Perguntei: "Não vou ter
mais cólica? Nem hemorragia?"
Ele respondeu que não. "Vou
poder ter filhos?" Ele disse que
sim. Nem acreditei."
O tratamento não deixa cicatrizes, exige anestesia local e só
um dia de internação -para
controlar a dor, frequente no
pós-operatório. A eficácia é de
95% a 97%. A melhora foi imediata. "Nunca mais tive cólica
ou sangramentos anormais. Vi
o que é ter uma vida normal",
diz Cristiane.
Um ano depois, os miomas
estavam de tamanho insignificante. O médico disse que ela
poderia demorar a engravidar,
mas, com dois meses de tentativa, deu certo. Hoje, ela é mãe
de Maria Laura, de três meses.
Até o sexto mês de gravidez,
os miomas apareciam no ultrassom, com o bebê. O ginecologista queria retirá-los definitivamente no parto, aproveitando que teve que ser cesariana. "Eu estava na sala de parto
com a minha filha e falava: "Não
esquece os miomas'", conta ela,
rindo. Mas ele não conseguiu
encontrá-los: seu organismo já
os havia absorvido.
Sintomas
Ao menos metade das mulheres com idade entre 30 e 45
anos apresenta miomas. A
questão é que a maioria delas
não tem nenhum sintoma.
"Muitas vezes eles passam desapercebidos e só vão ser notados em exames de rotina", diz o
radiologista intervencionista
Nestor Kisilevzky, especialista
na embolização de miomas.
Ele ressalta que o mioma é
totalmente benigno -"ninguém morre por causa dele e
ele não se transforma em câncer". Só devem ser tratadas
-com qualquer técnica- as
mulheres que têm sintomas.
"O mioma pode ter um impacto severo na qualidade de
vida. Há pacientes que precisam usar até fraldas [para conter o sangramento]", diz.
Ele afirma que muita gente
acaba perdendo o útero desnecessariamente porque alguns
ginecologistas não orientam as
pacientes de que é possível fazer a embolização. O procedimento não é coberto pelo SUS.
Em 2008, Kisilevzky fundou,
com o hospital Albert Einstein,
onde trabalha, um projeto que
fazia embolizações gratuitas
em quatro hospitais públicos.
Foram tratadas 106 pacientes,
mas hoje o projeto está suspenso para buscar uma ampliação.
Já há uma lista de espera de
300 mulheres que querem se
submeter ao procedimento.
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