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Estudos divergem sobre câncer de mama
Pesquisa sugere que tumor pode regredir sem intervenção médica; outro trabalho constata importância de radioterapia
Discussão sobre excesso de exames e de intervenções é importante, mas tem pouco impacto no tratamento de paciente, dizem os médicos
João Wainer - 14.mar.08/Folha Imagem
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Paciente com câncer se prepara para sessão de radioterapia
CLÁUDIA COLLUCCI
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisas recentes, publicadas em periódicos internacionais, trazem informações conflitantes sobre como tratar o
câncer de mama. Enquanto um
estudo, divulgado no "Archives
of Internal Medicine", sugere
que alguns tumores poderiam
regredir espontaneamente, outro, publicado no periódico
"Cancer", indica que a demora
para começar a radioterapia
depois de cirurgia conservadora (na qual a mama é preservada) pode facilitar o surgimento
de um novo tumor.
Compararam-se taxas de
câncer de mama de 119.472
mulheres de 50 a 64 anos, que
realizaram mamografias como
parte do rastreamento nacional da Noruega de 1996 e 2001,
com dados de 1992 -quando
não havia rastreamento- de
outras 109.784 mulheres da
mesma faixa etária. Observou-se incidência de câncer 22%
mais alta no primeiro grupo, o
que pode ter ocorrido, segundo
os autores, porque alguns cânceres regrediram sem intervenção. Para eles, o curso natural de alguns cânceres pode ser
regredir espontaneamente.
"Existem relatos esporádicos
de regressão espontânea, mas
como identificar qual câncer
regrediria sozinho?", indaga a
oncologista Maria del Pilar Estevez Diz, do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias
de Oliveira. Ela diz que a mortalidade por câncer de mama
tem caído principalmente por
causa do diagnóstico precoce.
Os mastologistas Antonio
Frasson, do Hospital Israelita
Albert Einstein, e José Luiz Bevilacqua, do Hospital Sírio-Libanês, avaliam que a discussão
sobre excesso de diagnósticos e
de intervenções que, em tese,
seriam desnecessárias é muito
atual e importante do ponto de
vista populacional, mas tem
pouco impacto no tratamento
clínico de um paciente.
"No momento em que você
detecta uma alteração, você
acaba tratando, não espera para ver o que vai acontecer", afirma Bevilacqua. Ele diz que hoje
é possível conhecer o grau de
agressividade do tumor -e
com isso decidir o tratamento
mais adequado-, mas a evolução do paciente ainda é um terreno desconhecido.
Antonio Frasson explica que
há pesquisas mostrando que
em grupos de pacientes que
não quiseram tratar tumores
de mama in situ (localizado),
40% desenvolveram carcinoma invasor em um período de
até 30 anos. Ele acrescenta que,
no caso do carcinoma lobular in
situ (lesão que se origina nas
glândulas lactíferas e que é considerada um marcador de risco), em geral, não há recomendação de cirurgia porque a probabilidade de se tornar invasor
é de 1% ao ano. "Nesses casos,
fazemos o controle clínico e a
mamografia a cada seis meses."
Radioterapia
Já a pesquisa que defende a
realização de radioterapia logo
após a cirurgia conservadora se
baseou em 8.000 registros de
câncer de mama em mulheres
com mais de 65 anos. Dessas,
1.300 começaram o tratamento
com atraso e 270 tiveram tratamento incompleto. Pacientes
no estágio 1 da doença que atrasaram em oito semanas o início
da radioterapia tiveram 1,4 vez
mais chance de recorrência.
Aqueles que adiaram a terapia
em mais de 12 semanas tiveram
quatro vezes mais chances de
sofrer de um novo tumor de
mama. Quem não realizou todas as sessões do tratamento
teve 32% mais risco de morte.
"Sabemos pela literatura médica que, se a paciente não se
submete à radioterapia após a
cirurgia, o retorno do câncer é
de mais de 50%", explica a mastologista Fabiana Makdissi, do
Hospital A. C. Camargo.
Antonio Frasson lembra que
a radioterapia não previne o
surgimento de novos tumores,
mas trata tumores microscópicos que não são detectados.
"Quando eu retardo muito a radioterapia, dou tempo para que
lesões microscópicas cresçam."
O ideal, diz Makdissi, é começar a terapia de 20 a 30 dias
após a cirurgia. Com ressalvas:
pacientem que também precisam de quimioterapia devem
terminá-la antes de iniciar outro tratamento.
A radioterapia segue um padrão para a maioria dos casos,
sendo realizada durante cerca
de 30 sessões, distribuídas entre quatro e seis semanas.
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