São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

Próximo Texto | Índice

Projeto detecta tumor mais cedo

Crianças nascidas em Campinas passarão por exames na rede pública aos quatro e aos 15 meses

Programa inédito faz parte de estudo desenvolvido em cinco países com o objetivo de mapear fatores de risco para tipos de câncer infantil

Shutterstock
Aparelho que ajuda a detectar tumores na retina

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

As crianças nascidas na região de Campinas, no interior paulista, passarão por testes periódicos de mapeamento da retina, para identificar o retinoblastoma, e ultrassom abdominal, para detectar os chamados tumores embrionários.
Os exames fazem parte de um programa inédito no país de diagnóstico precoce do câncer infantil, lançado pelo Centro Infantil Boldrini, em parceria com os governos municipal e estadual e a Fapesp.
O diagnóstico dessas doenças, que têm seu pico de aparecimento nos primeiros dois anos de vida, é feito tardiamente, quando aparecem os sintomas. "O objetivo é pegar tumores com um ou dois milímetros, evitando a necessidade de tratamentos agressivos, como químio ou radioterapia", diz a oncopediatra Silvia Brandalise, presidente do Boldrini.
A iniciativa integra um estudo internacional que tem por objetivo identificar os fatores de risco para tumores infantis. Por isso, todas as crianças avaliadas também passarão por um questionário epidemiológico sobre fatores de risco e condições ambientais, como exposição a radiação, pesticidas, hormônios etc., e serão acompanhadas até os 18 anos.
As UBS (unidades básicas de saúde) da região agendarão os exames aos quatro e aos 15 meses de idade. Se for diagnosticado um tumor, o tratamento será feito no Boldrini. A medida também vai facilitar o diagnóstico precoce de más-formações congênitas, que serão encaminhados para tratamento.
O programa começou a funcionar no final do ano passado em uma unidade piloto. Até junho deste ano deve se estender a todas as UBS da região. "Em 50 atendimentos realizados já detectamos cinco exames alterados", diz Brandalise.
"É uma iniciativa muito interessante, pois o diagnóstico normalmente é feito quando já há sintomas", avalia Sima Serman, chefe da seção de oncologia pediátrica do Inca (Instituto Nacional de Câncer). "Mas é preciso ver se, a longo prazo, isso terá impacto na mortalidade por câncer infantil."
Vicente Odone Filho, chefe do serviço de onco-hematologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo, considera "bem estruturada" a iniciativa, mas lembra que outras entidades, como a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), promovem campanhas de diagnóstico precoce.
O projeto em Campinas integra o Consórcio Internacional do Câncer da Criança, vinculado à OMS (Organização Mundial da Saúde). Além do Brasil, inclui Austrália, China, EUA e Inglaterra e visa avaliar 1 milhão de crianças.

Aumento de casos
O estudo foi motivado pelo aumento da incidência de tumores tipicamente de adultos em crianças e adolescentes. Nos EUA e na Inglaterra, observa-se um crescimento de câncer de testículo em meninos e de mama em meninas, além de tiroide e melanoma.
Pesquisas têm sugerido uma associação significativa entre exposição a pesticidas e hormônios durante a gravidez e leucemias e câncer de cérebro. Segundo a OMS, fatores teratogênicos (ainda no útero) que causam más-formações também estão relacionados ao surgimento de tumores.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.