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Projeto detecta tumor mais cedo
Crianças nascidas em Campinas passarão por exames na rede pública aos quatro e aos 15 meses
Programa inédito faz parte de estudo desenvolvido em cinco países com o objetivo de mapear fatores de risco para tipos de câncer infantil
Shutterstock
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Aparelho que ajuda a detectar tumores na retina
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
As crianças nascidas na região de Campinas, no interior
paulista, passarão por testes
periódicos de mapeamento da
retina, para identificar o retinoblastoma, e ultrassom abdominal, para detectar os chamados tumores embrionários.
Os exames fazem parte de
um programa inédito no país
de diagnóstico precoce do câncer infantil, lançado pelo Centro Infantil Boldrini, em parceria com os governos municipal
e estadual e a Fapesp.
O diagnóstico dessas doenças, que têm seu pico de aparecimento nos primeiros dois
anos de vida, é feito tardiamente, quando aparecem os sintomas. "O objetivo é pegar tumores com um ou dois milímetros,
evitando a necessidade de tratamentos agressivos, como químio ou radioterapia", diz a oncopediatra Silvia Brandalise,
presidente do Boldrini.
A iniciativa integra um estudo internacional que tem por
objetivo identificar os fatores
de risco para tumores infantis.
Por isso, todas as crianças avaliadas também passarão por
um questionário epidemiológico sobre fatores de risco e condições ambientais, como exposição a radiação, pesticidas,
hormônios etc., e serão acompanhadas até os 18 anos.
As UBS (unidades básicas de
saúde) da região agendarão os
exames aos quatro e aos 15 meses de idade. Se for diagnosticado um tumor, o tratamento será feito no Boldrini. A medida
também vai facilitar o diagnóstico precoce de más-formações
congênitas, que serão encaminhados para tratamento.
O programa começou a funcionar no final do ano passado
em uma unidade piloto. Até junho deste ano deve se estender
a todas as UBS da região. "Em
50 atendimentos realizados já
detectamos cinco exames alterados", diz Brandalise.
"É uma iniciativa muito interessante, pois o diagnóstico
normalmente é feito quando já
há sintomas", avalia Sima Serman, chefe da seção de oncologia pediátrica do Inca (Instituto Nacional de Câncer). "Mas é
preciso ver se, a longo prazo, isso terá impacto na mortalidade
por câncer infantil."
Vicente Odone Filho, chefe
do serviço de onco-hematologia do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas, em São
Paulo, considera "bem estruturada" a iniciativa, mas lembra
que outras entidades, como a
Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma
e Leucemia), promovem campanhas de diagnóstico precoce.
O projeto em Campinas integra o Consórcio Internacional
do Câncer da Criança, vinculado à OMS (Organização Mundial da Saúde). Além do Brasil,
inclui Austrália, China, EUA e
Inglaterra e visa avaliar 1 milhão de crianças.
Aumento de casos
O estudo foi motivado pelo
aumento da incidência de tumores tipicamente de adultos
em crianças e adolescentes.
Nos EUA e na Inglaterra, observa-se um crescimento de
câncer de testículo em meninos e de mama em meninas,
além de tiroide e melanoma.
Pesquisas têm sugerido uma
associação significativa entre
exposição a pesticidas e hormônios durante a gravidez e
leucemias e câncer de cérebro.
Segundo a OMS, fatores teratogênicos (ainda no útero) que
causam más-formações também estão relacionados ao surgimento de tumores.
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