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Antidepressivo reduz ação de remédio contra câncer
Paroxetina interfere com terapia padrão contra tumor de mama, afirma estudo
Uso combinado das duas drogas aumenta em 25% a chance de recidiva do câncer e de morte; estudo avaliou 2.430 mulheres no Canadá
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Mulheres que tomam antidepressivos da classe da paroxetina em associação ao tamoxifeno -medicamento indicado
para o tratamento contra o câncer de mama- têm 25% mais
risco de sofrer recidiva (volta
do tumor) e de morrer da doença. A conclusão é de um estudo
da Universidade de Toronto
(Canadá), publicado no "British Medical Journal".
A paroxetina é um dos antidepressivos mais populares do
mundo. Já o tamoxifeno é uma
droga que está em uso há cerca
de 30 anos e é amplamente
prescrita para mulheres em
tratamento de câncer de mama
como complemento à cirurgia e
à quimioterapia. Hoje, é considerada a terapia padrão.
Os pesquisadores analisaram
os registros de saúde de 2.430
pacientes com câncer de mama
que tomavam tamoxifeno entre 1993 e 2005. Cerca de 30%
dessas mulheres também tomavam antidepressivos durante alguma fase do tratamento, e
a paroxetina foi o mais comum.
Durante o período do estudo,
15% das pacientes morreram
em consequência da doença. O
mesmo risco não foi observado
com outras classes disponíveis
de antidepressivos.
Mecanismo
Segundo o mastologista Silvio Bromberg, do hospital Albert Einstein, tanto a paroxetina quanto o tamoxifeno utilizam a mesma enzima (citocromo P450, produzida pelo gene
CYP2D6) para serem metabolizados pelo organismo e entrarem em sua forma ativa. Assim,
os dois medicamentos juntos
estariam "competindo" um
com o outro -o que reduziria
os resultados desejados.
"O tamoxifeno bloqueia a divisão celular [das células mamárias], o que reduz bastante o
risco de a doença voltar. Já a
paroxetina depende da mesma
via do tamoxifeno para ser metabolizada. Assim, ela interfere
no mecanismo de ação do medicamento, diminuindo seus
resultados", explica. Para
Bromberg, os resultados desse
estudo reforçam as conclusões
de trabalhos anteriores.
"A via de metabolização do
tamoxifeno é cada vez mais estudada. Esses resultados podem explicar, por exemplo, por
que parte das mulheres não
responde a essa medicação.
Além disso, como se trata de
uma droga muito usada em todo o mundo, esse alerta é muito
importante", avalia Bromberg.
A psiquiatra Célia Lídia da
Costa, diretora do Departamento de Psiquiatria do Hospital A.C.Camargo, em São Paulo,
diz que a descoberta da interação entre os dois medicamentos é relativamente nova.
"Estudos anteriores alertavam que a fluoxetina e a paroxetina tinham um risco potencial de interação com outras
drogas, mas normalmente
eram restritos ao ambiente de
laboratório. Esse é o primeiro
grande estudo populacional a
comprovar essa relação", diz.
Segundo Costa, apesar de
existirem os alertas anteriores,
esse estudo comprova que os
dois medicamentos continuam
sendo administrados em conjunto. "A paroxetina é o medicamento antidepressão mais
popular que existe no mundo.
No Brasil, a prescrição dele é
uma prática generalizada", diz.
"O tamoxifeno é o medicamento mais barato [por ser genérico] e os resultados são muito satisfatórios. É mais fácil a
paciente substituir o antidepressivo", afirma o mastologista Waldemir Rezende, do Hospital Santa Catarina.
Mulheres que estejam usando os dois medicamentos não
devem interromper o uso por
conta própria. "Nenhum medicamento pode ter o uso suspenso imediatamente. O ideal é
procurar o psiquiatra para que
ele encontre outras classes de
drogas disponíveis. Hoje, o antidepressivo mais indicado é a
venlafaxina", diz Costa.
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