São Paulo, terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Índice

Radioterapia mais curta é tão eficaz quanto a padrão

Tratamento de três semanas pode substituir o de cinco semanas em alguns grupos de pacientes

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois estudos recém-publicados indicam que o tratamento radioterápico mais curto é tão eficaz quanto o tratamento padrão, de cinco semanas, e proporciona melhor qualidade de vida a mulheres com câncer de mama detectado precocemente. Os trabalhos foram publicados em dois dos mais influentes periódicos na área, o "New England Journal of Medicine" e o "Lancet Oncology".
O estudo publicado no "New England", realizado no Canadá, acompanhou 1.234 pacientes por 12 anos. Elas foram escolhidas aleatoriamente para receber a radioterapia padrão ou o tratamento acelerado, feito em apenas três semanas. Embora mais curto, o esquema de três semanas envolve doses maiores de radiação por sessão.
Após dez anos, as pacientes submetidas ao tratamento mais curto tiveram um índice de recidiva do câncer estatisticamente semelhante ao das submetidas ao tratamento de cinco semanas. A sobrevida também foi muito parecida para os dois esquemas de radioterapia: 84,4% para o tratamento padrão e 84,6% para o de três semanas. Os efeitos colaterais foram similares.
O outro estudo, feito no Reino Unido, acompanhou cerca de 2.200 pacientes por cinco anos. Foram comparados os efeitos da radioterapia mais curta e da convencional. Os resultados foram parecidos aos do estudo canadense, com uma pequena diminuição na alteração da cor da mama para o grupo que recebeu a radioterapia mais curta. As pacientes que receberam o tratamento de três semanas tiveram melhores resultados na avaliação de qualidade de vida.
"Os trabalhos trazem evidências sólidas de que o fato de o tratamento ser curto não muda nada para um grupo importante de pacientes. Isso permite que um número maior de mulheres tenha acesso mais rápido aos equipamentos [de radioterapia], diminui os custos públicos e privados e melhora a vida da paciente", afirma João Luis Fernandes da Silva, coordenador da radioterapia do Hospital Sírio-Libanês.
Para Marcos Desidério Ricci, mastologista do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), diminuir o tempo de tratamento é uma vantagem enorme. "No Brasil, um dos maiores problemas no tratamento do câncer de mama é a falta de equipamento de radioterapia ou a dificuldade de acesso aos centros que têm os equipamentos. Com a evidência da segurança oncológica para o tratamento mais curto, podemos diminuir a fila de espera para a radioterapia", diz.
Ricci e Silva alertam que os resultados valem para o grupo específico de pacientes envolvidas nos estudos: mulheres com câncer de mama detectado precocemente e submetidas à quadrantectomia (retirada de apenas uma parte da mama).


Texto Anterior: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.