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Operação no útero salva bebês com doença pulmonar
Cirurgia, testada em 17 casos, aumenta sobrevida de fetos com um tipo de desenvolvimento incompleto dos pulmões
Pesquisa mostrou que a chance de sobrevida, que era de 5% a 10%, subiu para 50%; técnica é realizada no sétimo mês de gestação
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo do Departamento
de Medicina Fetal do Hospital
das Clínicas de São Paulo concluiu que a realização de uma
cirurgia intrauterina para tratar um tipo de desenvolvimento incompleto dos pulmões (a
chamada hipoplasia pulmonar)
aumenta para 50% as chances
de sobrevida dos recém-nascidos. Sem a cirurgia, a chance
oscila entre 5% e 10%.
O ginecologista Rodrigo Ruano, especialista em medicina
fetal, comparou a evolução clínica de 17 bebês operados ainda no útero (no sétimo mês de
gestação) com a evolução de 18
bebês tratados após o parto.
Dos operados antes de nascer, nove sobreviveram ao procedimento e sete estão em casa. Entre os tratados após o
nascimento, só um sobreviveu.
O problema
A cirurgia é indicada para a
hipoplasia pulmonar que acontece por causa de uma malformação congênita chamada hérnia diafragmática. Nesses casos, ocorre um defeito de fechamento do diafragma (músculo
que separa o tórax do abdômen) e os órgãos abdominais
(intestino, estômago e fígado)
entram na cavidade torácica,
comprimem os pulmões e impedem o seu crescimento.
O problema provoca dificuldades intensas de respiração e
pode levar a criança à morte. É
raro -afeta, aproximadamente, um em cada 2.000 a 5.000
nascidos vivos.
O diagnóstico normalmente
é feito no quinto mês de gestação, com o ultrassom morfológico. Quando há essa malformação, o coração do bebê normalmente está desviado para o
lado. "Quanto mais precoce o
diagnóstico, maior a chance de
sucesso", diz Ruano.
A cirurgia é indicada só para
os casos graves e acontece na
28ª semana de gravidez. Gestante e feto são anestesiados.
É implantado, via tubo endoscópico, um balão de látex na
traqueia do feto. O objetivo é
bloquear a passagem de ar para
que os pulmões cresçam. Assim, quando a criança nasce, segundo Ruano, seus pulmões já
estão mais desenvolvidos.
O balão de látex é biodegradável e costuma ser absorvido
pelo organismo antes do parto
-programado para acontecer
com 37 semanas de gestação.
Mesmo assim, nesses casos os
médicos retiram o balão (caso
tenha sobrado algum fragmento) logo após o nascimento.
Ruano explica, entretanto,
que essa técnica não trata a
doença -que é a abertura do
diafragma-, apenas dá condições de a criança nascer e sobreviver para fazer outra cirurgia, que vai fechar o buraco entre o tórax e o abdômen.
Antônio Moron, ginecologista da Unifesp e coordenador de
medicina fetal da maternidade
Santa Joana, diz que a cirurgia
é promissora, mas, por enquanto, deve continuar restrita a
hospitais universitários.
"Sem a cirurgia, a evolução
do bebê é muito ruim. Com esse procedimento, é possível aumentar a sobrevida desses pacientes e isso é muito positivo",
afirma o médico.
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