São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2011

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Químio aquecida causa polêmica nos EUA

Tratamento agressivo contra câncer colorretal tem pouca comprovação científica e muitos efeitos colaterais

Procedimento, que envolve retirada de tumores e 'banho' com drogas a 42ºC, foi usado em José Alencar

ANDREW POLLACK
DO "NEW YORK TIMES", EM SAN DIEGO

Um número crescente de hospitais nos EUA vem oferecendo um tratamento controverso para pacientes com tumor colorretal ou de ovário.
Numa manhã recente, na Universidade da Califórnia em San Diego, o médico Andrew Lowy fez o tratamento em um paciente. Depois de abrir por completo o abdome do homem, Lowy mergulhou as mãos no fundo da cavidade e examinou órgãos à procura de tumores.
Lowy foi retirando todos os que encontrou. "Isso está saindo como se fosse papel de parede", disse o médico, enquanto tirava parte do revestimento interno da cavidade abdominal do paciente.
Depois de duas horas cutucando e cortando, Lowy acionou uma máquina, que bombeou a quimioterapia aquecida na cavidade abdominal por 90 minutos, enquanto enfermeiras manipulavam o abdome inchado do paciente, para espalhar as drogas.
Hospitais como o Centro Médico University Hospitals Case, em Cleveland, o Centro Médico Montefiore, no Bronx, e o Massachusetts General aderiram ao método.
Mas David P. Ryan, diretor do Centro de Câncer do Massachusetts General Hospital, questiona a técnica. Ele diz que a sobrevida aparentemente maior se deve à seleção de pacientes que poderiam ter se saído bem sem a químio quente.
Segundo Paul Sugarbaker, cirurgião do Centro Hospitalar Washington e defensor da técnica, as células cancerosas não resistem ao calor como as células saudáveis. E colocar a químio sobre os tumores é mais eficaz do que usar a corrente sanguínea.
Uma pesquisa feita há mais de dez anos com 105 pacientes na Holanda mostrou que pacientes submetidos à técnica tiveram o dobro da sobrevida (quase dois anos) do que os que receberam só a químio intravenosa.
Mas 8% dos que fizeram o "banho quente" morreram por causa do tratamento.
O procedimento dura ao menos oito horas, e a recuperação leva até seis meses.
Muitas vezes, é preciso extirpar, além dos tumores, órgãos como o baço, a vesícula biliar, os ovários e o útero.
Alguns pacientes, como a advogada Gloria Borges, 29, dizem que a técnica adiou uma sentença de morte.
Mas o oncologista Alan Venook disse que dois pacientes seus sofreram muito. "Uma perdeu parte da parede abdominal para infecções e teve uma morte dolorosa."

Tradução de CLARA ALLAIN


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