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Fumo sobe risco de doença na perna
Estudo avaliou fatores ligados a doença arterial periférica, caracterizada por obstruções dos vasos
Cerca de 80% das pessoas que procuram um serviço de emergência precisam de amputação; mudar hábitos pode controlar o problema
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O cigarro é o fator de risco
que mais se relaciona com a
doença arterial periférica, caracterizada pela obstrução (por
placas de gordura) dos vasos
das pernas. Isso é o que mostra
uma pesquisa da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), que avaliou 407 pacientes acima de 30 anos com fatores de risco para a doença.
Segundo o artigo, o tabagismo aumenta em seis vezes a
chance de desenvolver o problema. Outros fatores, como ter
sofrido um infarto ou um derrame, elevaram entre duas e
três vezes essa possibilidade.
Na mesma pesquisa, a hipertensão teve uma relação mais
forte com o aparecimento da
doença do que o diabetes. "Provavelmente porque os diabéticos costumam se tratar mais",
diz Marilia Panico, chefe da disciplina de angiologia da Faculdade de Ciências Médicas da
Uerj e autora do estudo. "Há
muitos hipertensos que nem
sabem que têm a doença."
Segundo a cardiologista Márcia Makdisse, gerente-médica
do programa de cardiologia do
hospital Albert Einstein, e que
participou de um estudo epidemiológico sobre a doença concluído no ano passado, a quantidade de cigarros fumados
também está diretamente ligada ao maior risco da doença.
A doença arterial periférica é
caracterizada pela formação de
placas de gordura nos membros inferiores. Por isso, os fatores de risco são similares aos
da doença cardiovascular (em
que as placas se formam nas artérias do coração), como tabagismo, diabetes, colesterol alto,
obesidade e hipertensão.
Sabe-se que apenas 10% dos
doentes apresentam o sintoma
mais característico da doença
-a chamada claudicação intermitente. Trata-se de uma dificuldade ao caminhar caracterizada por uma dor na panturrilha (como se fosse um aperto)
que aparece após a pessoa começar a se movimentar. Em repouso, a dor desaparece.
Por isso, a doença costuma
ser identificada quando já está
em estágio avançado e pode levar a infecções e necrose. Dados anteriores apontam que,
para 80% das vítimas que procuram um serviço de emergência por causa da doença, a única
saída é a amputação.
Por conta da falta de sintomas claros, principalmente os
pacientes considerados de risco, como diabéticos e cardiopatas, devem fazer exames periódicos para afastar o risco da
doença. "Nos pacientes com isquemia crítica, em que um machucado poderia levar à amputação, estamos conseguindo
evitar a perda do membro com
tratamento clínico e mudança
de hábitos", diz Panico.
Medição eficaz
A pesquisa também reforça
que o índice tornozelo-braquial
(a relação entre a pressão medida no braço e a medida na perna) é tão eficaz para detectar a
doença quanto métodos mais
sofisticados, como o ultrassom.
"O ITB é subutilizado no
mundo inteiro e foi sendo substituído por outros métodos",
diz Panico. "Ele não mostra o
entupimento como o ultrassom, mas mede a quantidade e
a velocidade de sangue."
Para chegar a esse índice,
basta medir a pressão dos braços e das pernas. Se a diferença
entre os valores for maior do
que 10%, deve ser um sinal de
alerta. "Qualquer médico pode
fazer essa medida e deve-se focar nos grupos de risco, que são
idosos, diabéticos, tabagistas e
pessoas que já sofreram infarto
ou derrame", diz Makdisse.
Além de servir para diagnosticar a doença arterial periférica,
o ITB é um marcador do risco
cardiovascular. Estudos mostram que o índice tem relação
com a presença de entupimentos em outras regiões, como coronárias e carótidas.
No Brasil, estima-se que a
prevalência da doença arterial
periférica na população geral
esteja entre 10% e 17%. Nos Estados Unidos, estatísticas
apontam que há 8 milhões de
pessoas com claudicação.
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