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44% das crianças têm colesterol elevado
Levantamento acompanhou 1.937 pacientes do Hospital das Clínicas da Unicamp entre os anos de 2000 e 2007
Segundo autora do estudo, a prevenção começa com mudança no estilo de vida da família, que é transposto para a realidade da criança
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
Uma pesquisa da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) com 1.937 crianças
e adolescentes entre dois e 19
anos atendidos no Hospital das
Clínicas da universidade constatou que quase metade deles
possui índices altos de colesterol e triglicérides.
Segundo o estudo, realizado
entre 2000 e 2007, 44% dos
pesquisados apresentaram índices elevados de colesterol.
"Eu exagerava nos alimentos
ricos em gordura quando tinha
11 anos e meu colesterol estava
em 269 mg/dL. Então iniciei o
tratamento com dieta e esportes. Hoje meu colesterol é 160
mg/dL", diz a estudante Jéssica
Rossi Ruggeri, 17, que ainda
precisa diminuir seu índice.
A pesquisadora responsável,
Eliana Cotta de Faria, do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp, atribui os
altos índices a fatores de risco
como sedentarismo, má alimentação, obesidade e diabetes, além da hereditariedade.
De acordo com a pesquisa,
44% das crianças entre dois e
nove anos apresentaram valores alterados do colesterol total, 36%, do LDL (colesterol
ruim) e 56%, dos triglicérides.
Os altos índices de triglicérides
estão associados a um risco
maior de doença coronariana.
O resultado foi muito similar
no grupo dos adolescentes e jovens de dez a 19 anos. "Não é de
se estranhar que a população
hospitalar tivesse índices um
pouco mais altos. Mas não imaginávamos que estes índices seriam tão altos", diz Faria.
Não há dados brasileiros sobre a taxa de colesterol entre
crianças e adolescentes, e, segundo Ieda Jatene, presidente
do departamento de cardiologia pediátrica da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia)
não é possível extrapolar os números encontrados na Unicamp para o resto do país.
Gordura trans
Para Roseli Sarni, pediatra e
presidente do Departamento
de Nutrologia da Sociedade
Brasileira de Pediatria, uma das
explicações para os níveis elevados de colesterol, além de
maus hábitos alimentares em
geral, é o mau entendimento
dos rótulos de produtos com
gordura trans. "Quando a mãe
lê zero, ela entende que o alimento é livre desse tipo de gordura, o que não é verdade", diz.
A legislação admite que o fabricante diga que seu produto tem
"0% de gordura trans" quando
tem até 0,2 g do elemento por
porção. Com isso, a criança é liberada a consumir alimentos
com esse tipo de gordura.
A prevenção, segundo Eliana
Faria, começa com o estilo de
vida da família, que é transposto para a realidade da criança.
"Uma criança não pode decidir
comer mais legumes se os pais
não compram legumes", diz.
Para diminuir os níveis de
colesterol no sangue, devem
ser priorizados dieta balanceada e exercícios físicos. É preciso
estimular o consumo de frutas,
verduras, legumes e peixes marinhos, reduzir o consumo de
óleos, açúcares e gorduras e
preferir alimentos integrais.
As mudanças, no entanto,
não devem ser drásticas, pois a
criança pode ficar ainda mais
resistente em mudar sua alimentação. "Começamos com
uma mudança quantitativa, para depois fazer a qualitativa",
diz Sarni. Isto é: o recomendado é reduzir alimentos que aumentam o colesterol ruim, para, gradativamente, substituí-los por opções mais saudáveis.
Medicamentos
Em julho, a Academia Americana de Pediatria tomou uma
decisão radical em relação às
crianças com colesterol alto:
orientou que os pequenos acima de oito anos sejam medicados com drogas (estatinas) para
prevenir doenças cardíacas.
No Brasil, os pediatras indicam medicamentos a partir dos
dez anos, mas apenas para
crianças com uma doença genética chamada hipercolesterolemia familiar, que eleva os
níveis de colesterol, independentemente do estilo de vida.
Para as demais, eles defendem
uma dieta equilibrada associada a exercícios físicos.
A cautela tem justificativa.
Não há estudos a longo prazo
sobre o uso das estatinas em
crianças ou que mostrem que,
usando a medicação precocemente, elas estarão mais protegidas do que aquelas que iniciaram a terapia na vida adulta.
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