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Dieta rica em pão branco aumenta o risco de infarto
Trocar gorduras saturadas por carboidratos é perigoso para o coração
Estudo dinamarquês concluiu que, a cada 5% de aumento desse tipo de alimento na dieta, houve risco 33% maior de infarto
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois grandes estudos divulgados nesta semana reacendem a discussão sobre os riscos,
para o sistema cardiovascular,
do alto consumo de carboidratos refinados, presentes em
pães brancos e biscoitos.
O primeiro estudo investigou
a relação entre infarto e dietas
pobres em gorduras saturadas
(já bem relacionadas a problemas cardíacos), mas ricas em
carboidratos. Os pesquisadores, da Dinamarca, acompanharam 53.644 adultos durante 12 anos. A pesquisa concluiu
que, para cada 5% de aumento
de carboidratos na dieta, houve
um risco 33% maior de infarto.
Esse resultado foi publicado no
"American Journal of Clinical
Nutrition".
"Carboidratos com alto índice glicêmico aumentam as
chances de problemas cardiovasculares por causarem processos inflamatórios, dislipidemias [alterações no colesterol]
e disfunções nas paredes dos
vasos", disse à Folha Marianne
Jakobsen, especialista em nutrição e líder da pesquisa.
O outro trabalho foi divulgado no "Archives of Internal
Medicine" e ligou o risco de
doenças nas artérias do coração ao consumo excessivo de
carboidratos refinados, mas só
no caso das mulheres. Para os
homens, não foram encontradas alterações decorrentes dessa dieta. O estudo conclui também que, para o risco de doenças cardíacas, importa mais o
fato de os carboidratos ingeridos serem de alto índice glicêmico do que a quantidade total
de carboidratos consumidos.
Os pesquisadores acompanharam mais de 47 mil voluntários,
por sete anos, na Itália.
Alimentos com alto índice
glicêmico são assim chamados
pela capacidade de aumentarem rapidamente os níveis de
glicose no sangue. Com isso, o
organismo libera altas doses de
insulina, fazendo a glicose cair
rapidamente e levando à sensação precoce de fome.
Para Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Hospital
do Coração, o hábito de consumir excesso de carboidratos
com alto índice glicêmico sobrecarrega e deteriora o pâncreas, órgão responsável pela
produção de insulina, e pode
levar à obesidade. "As causas
das doenças coronárias são
muitas, e esse pode ser um dos
fatores de risco", diz Magnoni.
Para preservar o pâncreas, é
melhor se alimentar com nutrientes mais complexos, que
demoram para ser absorvidos.
"Há 5.000 anos, você não comeria açúcar refinado. Esse tipo de dieta é que leva às doenças da sociedade moderna."
O aumento da obesidade nos
EUA é um exemplo do que
acontece quando se trocam as
gorduras saturadas, que contribuem para o aumento do colesterol "ruim", por carboidratos,
diz o cardiologista Raul Dias
dos Santos, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de
São Paulo: "Houve redução significativa de colesterol na população nos últimos anos, mas
aumento brutal da obesidade e
outros problemas associados."
Os médicos recomendam
que a dieta diária seja composta por 60% de carboidratos,
preferencialmente de baixo índice glicêmico, e por 7% de gorduras saturadas.
Por serem digeridos rapidamente, os produtos com alto
índice glicêmico levam a uma
maior ingestão de calorias e
consequente ganho de peso. A
gordura acumulada pode liberar maior quantidade de ácidos
graxos, que se alojam no fígado.
Esse cenário pode piorar os índices do colesterol "ruim" e aumentar as taxas de açúcar no
sangue (o organismo desenvolve resistência à insulina).
O tecido adiposo no abdômen também estimula processos inflamatórios nos vasos
sanguíneos, favorecendo a formação de placas nas paredes.
Pesquisas anteriores já associaram o maior consumo de
carboidratos refinados ao aumento nos índices de triglicerídeos no sangue -outro marcador de risco cardiovascular.
Mulheres com taxas elevadas
de triglicerídeos têm duas vezes mais risco de sofrer doença
cardíaca do que o homem.
Colaborou DÉBORA MISMETTI
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