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Casas de parto abrem guerra entre médicos e enfermeiros
Casa de Parto David Capistrano Filho, no Rio, foi reaberta por ordem judicial
Há pouco mais de 15 dias, o CFM e a Febrasgo pediram ao Ministério da Saúde alterações na portaria que cria e regulamenta as casas
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Kelem Tomaz, Ana Leidilene, Priscilla Natasha e Fabiana Guerso, que fazem pré-natal em Realengo
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
FERNANDA BASSETTE
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma guerra surda entre
médicos e enfermeiros em torno do chamado ""parto natural
humanizado", praticado fora
do ambiente hospitalar, sob o
comando de enfermeiros.
Autorizadas por uma portaria de 1999, assinada pelo então
ministro da Saúde e atual governador de São Paulo, José
Serra, as casas de parto estão
sob o fogo cruzado dos conselhos de medicina e das sociedades de ginecologia e obstetrícia.
As casas de parto são locais
onde as mulheres dão à luz
acompanhadas da família, sem
a presença de médicos. Em casos de emergências, elas são
transferidas para o hospital de
referência mais próximo.
Há pouco mais de 15 dias, o
CFM (Conselho Federal de
Medicina) e a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) propuseram ao Ministério
da Saúde alterações na portaria
que estabelece e regulamenta o
funcionamento dessas casas.
Pela portaria, não há a obrigação de elas serem vinculadas a
hospitais e também não há a
exigência de um médico.
José Fernando Maia Vinagre, vice-corregedor do CFM,
diz que o conselho nunca foi favorável à abertura de casas de
parto sem médicos no país.
"Queremos alterar essa portaria. A ideia é que essas casas
funcionem dentro dos hospitais e, em casos de intercorrência, a gestante e o bebê receberão o atendimento adequado.
Hoje em dia, o tempo que essa
mulher demora para chegar a
um hospital pode ser fatal", diz.
Duas unidades estão na berlinda neste momento: a Casa de
Parto David Capistrano Filho,
no Rio de Janeiro, e a São Sebastião, no Distrito Federal.
A do Rio de Janeiro esteve fechada por uma semana e reabriu, anteontem, por força de
uma liminar judicial obtida pelo sindicato dos enfermeiros do
Estado. Em Brasília, o Ministério Público iniciou uma investigação sobre o atendimento na
Casa de Parto São Sebastião.
Segundo o Ministério da Saúde, há 23 casas de parto cadastradas, mas apenas cinco seriam comandadas exclusivamente por enfermeiros: duas
em São Paulo (na capital e em
São Vicente, no litoral); uma no
Rio de Janeiro, uma no Distrito
Federal e outra em Vitória da
Conquista (BA). Uma sexta está
para ser inaugurada, na Bahia.
Queda-de-braço
Na sexta-feira passada, a Febrasgo divulgou nota contra o
funcionamento das casas de
parto. Segundo a entidade, o
parto sem um obstetra é ""inadmissível e temerário".
Krikor Boyaciyan, corregedor do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), considera a portaria um erro. "Ele [Serra] equivocadamente instituiu as casas de parto e excluiu os médicos da equipe. O parto é um ato médico e,
mesmo que seja realizado por
uma enfermeira, é preciso ter a
supervisão de um obstetra."
O presidente do Conselho
Nacional de Enfermagem, Manoel Carlos Neri da Silva, diz
que a reação dos médicos é
mais corporativa, de defesa de
seu mercado de trabalho, do
que de preocupação com a segurança da mulher.
Os enfermeiros sustentam
que as casas de parto têm menor índice de mortalidade do
que os grandes hospitais. Pesquisas internacionais também
apontam que as casas de parto
são seguras. Para o presidente
do Conselho Regional de Medicina do Rio, Luís Morais, os índices das casas de parto não são
comparáveis, por causa da diferença no volume de partos.
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