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40% dos adolescentes já perderam ao menos 1 dente
Estudo aponta que, em 93% dos casos, as perdas foram provocadas por cáries
Entre os jovens que moram em locais não servidos por água com flúor a prevalência de falta de dentes é 40% maior do que entre os demais
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase 40% dos adolescentes
brasileiros entre 15 e 19 anos já
perderam ao menos um dente
e, em 93% dos casos, a perda foi
provocada por uma cárie. Os
dados são de um estudo realizado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que
foi publicado no mês passado
na "Revista de Saúde Pública".
O resultado preocupa os especialistas, pois a expectativa
da OMS (Organização Mundial
da Saúde) para o ano 2000 era
que 85% dos adolescentes dessa faixa etária tivessem todos os
dentes -e o país possui apenas
60% dos jovens nessa condição.
A cárie é uma destruição dos
tecidos dentais provocada pela
ação das bactérias acumuladas
em placas, formadas depois de
uma escovação inadequada e
pela ingestão de sacarose.
A ação bacteriana provoca a
alteração do pH da boca e a perda de minerais dos tecidos dentais (esmalte e dentina). Conforme a perda de minerais aumenta, há mais riscos da cárie
chegar até a polpa dos dentes
(região dos nervos e vasos sanguíneos). É isso que causa a dor.
A pesquisa da UFSC desmembrou os resultados do levantamento epidemiológico
nacional de saúde bucal, realizado pelo Ministério da Saúde
em 2003 e considerou apenas
as informações dos adolescentes. Ao todo, foi avaliada a saúde bucal de 16.833 jovens de
250 cidades brasileiras.
Segundo Paulo Roberto Barbato, autor do estudo, existem
poucos trabalhos brasileiros focados apenas na saúde bucal do
adolescente. "Queríamos avaliar como estão os dentes de
uma população que já tem o benefício da fluoretação da água e
dos cremes dentais. Por isso fizemos o recorte só com os adolescentes", explica.
Entre os jovens que moram
em locais não servidos por água
fluoretada, a prevalência de
perda dentária foi 40% maior
do que entre os demais.
Primeiro molar
De acordo com Barbato, autor do estudo, os dentes perdidos com mais frequência pelos
adolescentes são os primeiros
molares (esquerdo ou direito,
superior ou inferior). De acordo com ele, isso acontece porque o primeiro molar é o primeiro dente permanente que
nasce e, por isso, fica mais exposto e mais suscetível para desenvolver cáries.
"O primeiro molar não é trocado, como os dentes de leite.
Mas, normalmente, os pais não
o identificam como dente permanente e acabam não cuidando dele adequadamente. Essa é
uma hipótese que ajuda a entender por que esses dentes
caem mais", avalia Barbato.
Além disso, o estudo mostra
que em 2003 os adolescentes
tiveram, em média, 6,2 cáries
(tratadas ou não), considerando o índice CPOD (dentes cariados, perdidos ou obturados).
Em 1986, quando foi feito o primeiro levantamento nacional,
os jovens da mesma idade tiveram história de cáries em pelo
menos 12 dentes.
"Percebemos que a quantidade de cáries diminuiu, mas a
perda dentária continua alta
entre os jovens. É preciso mais
ações voltadas para esse público", diz o pesquisador.
O dentista Marcelo de Castro
Meneghin, vice-diretor da Faculdade de Odontologia da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas) e professor de
saúde pública, diz que os resultados são preocupantes.
De acordo com Meneghin, a
média atual de cáries em crianças com até 12 anos é de 2,78.
Entre os adolescentes, a média
duplicou, ficando em 6,2. Se
considerarmos os adultos, a
média é de 20,1 dentes cariados, três vezes mais do que os
adolescentes. "Isso é uma preocupação, pois você tem um índice de cáries aceitável em
crianças e cada vez pior entre
os adultos. Os idosos não terão
mais dentes", afirma.
Brasil Sorridente
Na opinião de Meneghin,
apesar do número alto de perda
dentária, a tendência é melhorar a saúde bucal do brasileiro,
já que o Ministério da Saúde
implantou em 2004 o programa Brasil Sorridente.
"As políticas de saúde bucal
sempre foram muito voltadas
às crianças, pois os atendimentos odontológicos eram feitos
nas escolas. A população adulta
era totalmente desassistida pelo SUS. Agora, os adultos têm
acesso a água e cremes dentais
fluoretados, além do tratamento. Isso terá um reflexo", avalia.
O Ministério da Saúde estima que, em 2008, 58% da população brasileira não teve acesso
a escovas de dentes conforme
recomendação de especialistas
(quatro por ano). O número inclui pessoas que nunca escovam os dentes, as que fazem isso de vez em quando e também
aqueles que usam a mesma escova por muito tempo.
Dentro da Política Nacional
de Saúde Bucal, o ministério
iniciou, em março, a entrega de
40,6 milhões de kits (pasta de
dente e escova) para todo o
Brasil. Em 2008, foram distribuídos 32 milhões de kits. "Se a
escovação dos dentes for feita
corretamente, dentro das técnicas, a tendência é diminuir as
cáries", avalia Meneghin.
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