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Anvisa vai restringir remédio em gôndola
Os medicamentos continuam dispensando receita médica, mas passam a ser vendidos no balcão, pelos farmacêuticos
Resolução da agência será votada até o fim do mês; farmácias não poderão vender produtos não ligados a saúde e cosmética
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A venda de medicamentos
isentos de prescrição (paracetamol e antiácidos, por exemplo) sofrerá restrição. A proposta é que os remédios saiam
das gôndolas das farmácias e
passem a ser vendidos no balcão, pelo farmacêutico. Eles
continuam sem necessidade de
receita médica.
As farmácias também serão
proibidas de vender itens que
não sejam relacionados à saúde, aos cosméticos e à higiene
pessoal. Alimentos que possam
servir para o tratamento de
problemas de saúde, como mel
e chás, continuarão tendo permissão para a venda.
A Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) já preparou uma resolução a respeito
disso e deve colocá-la em discussão na próxima reunião da
diretoria, na semana que vem, e
votá-la até o final do mês.
De acordo com o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, há consenso entre os diretores sobre a necessidade de adotar medidas que
protejam os usuários.
"O mercado [de farmácias]
virou uma Babel, com uma série de produtos sem qualquer
relação com a definição do trabalho farmacêutico.O medicamento virou algo banal dentro
de um estabelecimento que
exige regras diferenciadas."
Mello afirma que "medicamento isento de prescrição não
é medicamento isento de
orientação". "O farmacêutico
está lá para orientar a pessoa a
utilizar o medicamento, e isso
está embutido no preço."
A medida já foi adotada pela
vigilância sanitária de Santa
Catarina há mais de um ano e é
padrão nos países europeus.
"Lá [em Santa Catarina], nenhuma farmácia fechou."
A iniciativa privada terá 180
dias para se adaptar à norma, a
partir de sua publicação no
"Diário Oficial".
Os conselhos de farmacêuticos apoiam a iniciativa. "Os medicamentos isentos de prescrição são usados para tratar males menores, mas podem mascarar problemas ou ser usados
com outros medicamentos. Isso pode levar a um grande número de intoxicações. É muito
importante que o farmacêutico
oriente o usuário sobre esses
riscos", diz a presidente do
CRF-SP (Conselho Regional de
Farmácia), Raquel Rizzi.
Segundo ela, muitas vezes, o
farmacêutico é o único elo entre os medicamentos e o usuário. "Nas gôndolas, é fácil o
acesso. A pessoa pode estar tomando remédio para dor de cabeça há uma semana e a dor não
passa. O problema pode ser de
visão, por exemplo. O farmacêutico pode triá-la [para ir ao
oftalmologista]", explica Rizzi.
Sálvio Di Girólamo, secretário-geral da Abimip (Associação Brasileira da Indústria de
Medicamentos Isentos de
Prescrição), critica a resolução
da Anvisa. "Mais uma vez, em
vez de fiscalizarmos o cumprimento das normas já existentes, vamos editar novas normas
para restringir a comercialização de remédios."
Para ele, a resolução vai alavancar ainda mais a informalidade do mercado, facilitando a
"empurroterapia", prática em
que profissionais das farmácias
indicam drogas similares em
substituição aos medicamentos de marca ou genéricos, em
troca de comissões dos fabricantes. Pesquisa do CRF-SP
com 2.769 profissionais revelou que até 15% dos entrevistados admitiram essa prática.
"Sabemos que há uma empurroterapia danada. Passar o
medicamento isento de prescrição para trás do balcão, numa situação tão isenta de fiscalização como hoje, vamos dar
maiores e melhores condições
para quem é bonificado indicar
as marcas que desejar. Muitas
vezes, o usuário não é atendido
pelo farmacêutico, mas sim pelo balconista", diz Girólamo.
Paracetamol
Nos EUA, a FDA (agência
americana que regula medicamentos e alimentos) estuda aumentar o nível de alerta sobre
os riscos do paracetamol e limitar a dose diária recomendada.
Se ingerido em grandes
quantidades, a droga pode causar lesões graves no fígado. O
remédio é uma das principais
causas de insuficiência hepática nos EUA.
Pesquisas concluíram que 20
comprimidos de paracetamol
por dia são suficientes para
causar insuficiência hepática e
levar à morte (a dose máxima
recomendada é de oito).
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