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Nanotecnologia constrói prótese de seio mais segura
Novo implante deve reduzir casos de vazamento de silicone e contratura
Expectativa é que a novidade permita a criação de uma geração de próteses de mama que não precise de troca
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Uma prótese de mama
construída por meio da nanotecnologia poderá reduzir
os índices de contratura capsular e vazamento de silicone, problemas que afetam
uma em cada cinco mulheres
que fizeram essa cirurgia.
Cicatriz que se desenvolve
ao redor do implante, a contratura capsular é uma reação normal do organismo para isolar o que é considerado
um corpo estranho.
Em alguns casos, essa cicatriz fica muito dura, o que
causa dor e pode alterar o formato da mama. Nesses casos, é preciso uma nova cirurgia para a correção.
A expectativa é que a tecnologia possibilite a criação
de uma nova geração de próteses de mama que não necessite de troca. Hoje, mesmo
as mais modernas precisam
ser trocadas a cada 20 anos.
O primeiro estudo controlado sobre a nova tecnologia
foi feito pela Universidade de
Manchester (Inglaterra) e publicado no "Journal of Plastic
Surgery". A figura central do
experimento foi a célula chamada fibroblasto, presente
no processo de cicatrização.
O cirurgião plástico Alexandre Mendonça Munhoz,
do Hospital das Clínicas de
São Paulo, explica que nas
mulheres que usam prótese
mamária, o fibroblasto pode
produzir diferentes camadas
de colágeno, formando uma
espécie de envelope contínuo em torno do material.
FIBROBLASTOS
Por meio da nanotecnologia, os pesquisadores criaram um novo tipo de material
em que cada átomo e molécula puderam ser colocados
no lugar desejado. Com isso,
foi possível alterar a função
dos fibroblastos, mudando o
tamanho e a profundidade
dos poros da superfície dos
implantes mamários.
A interferência evitou a
formação exacerbada de colágeno e inibiu a contratura.
A alteração também parece
possibilitar uma maior biointegração da prótese com o organismo da paciente, diminuindo as chances de rejeição, segundo Munhoz.
Para o cirurgião, o trabalho inglês é revolucionário
porque demonstrou por meio
de estudo controlado uma
nova função para o fibroblasto, que até então só parecia
servir para formar a fibrose.
"Houve uma alteração na
produção de colágeno, uma
diminuição na densidade
das fibras colágenas e, principalmente, uma alteração
no comportamento do fibroblasto, que muda sua forma
dependendo do tipo de superfície ou de poros em que é
colocado", explica Munhoz.
A redução dos índices de
contratura capsular ainda é
uma barreira a ser rompida.
"Temos hoje ótimos resultados no intervalo de 15, 20
anos [duração das próteses
mais modernas], mas, no futuro, poderemos ter uma prótese que não precisará ser
trocada."
INDIVIDUALIDADE
Já o presidente da SBCP
(Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), Sebastião
Guerra, não é tão otimista.
Segundo ele, há um fator imponderável, a individualidade de cada um, que não está
relacionado à tecnologia.
"A corrosão da prótese e
seu vazamento vai depender
muito do organismo da pessoa. Mesmo com toda a tecnologia, vamos conseguir reduzir os problemas ao mínimo, mas acredito que nunca
será inferior a 3%", diz ele.
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