São Paulo, sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Brasil ganha novo método de laqueadura

Técnica, que consiste na colocação de um clipe de titânio e silicone na tuba uterina, tem 90% de chance de ser revertida

Laqueadura tradicional é menos reversível, mais invasiva e danifica mais as tubas; eficácia do novo procedimento é de 99,76%


FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Está sendo lançado hoje no Brasil um novo método de laqueadura que tem mais chance de ser revertido caso a mulher se arrependa. Trata-se de um clipe de titânio e silicone que comprime as tubas, impedindo que ocorra a fecundação.
Chamado Filshie Clip, o clipe danifica só 4 mm da tuba. No método tradicional, em que o órgão é amarrado e cortado, a lesão é de até 5 cm. Segundo o ginecologista Waldir Modotti, professor da Unesp de Botucatu, de 20% a 35% das pacientes se arrependem da laqueadura. "Quando vamos recanalizar, precisamos do máximo possível de trompa sadia."
A eficácia do clipe é de 99,76%, e a taxa de reversão, de 90% -no caso das técnicas mais usadas no país, a chance de reversão varia de 50% a 70%.
Ele reduz a chance de ocorrer a síndrome pós-laqueadura, que traz sintomas como irregularidade menstrual e deficiência na ovulação e afeta cerca de 80% das mulheres submetidas ao método convencional.
Modotti estuda o Filshie Clip desde os anos 80 e propôs um meio menos invasivo de colocá-lo -por microlaparoscopia. O clipe também pode ser aplicado por laparoscopia comum, um pouco mais invasiva, ou por cirurgia aberta, mais invasiva ainda. A colocação por microlaparoscopia é ambulatorial, com anestesia local e sedação. A cicatriz também fica menor.
A mulher recebe alta no mesmo dia e pode voltar a trabalhar três dias depois. Na laqueadura convencional, a cirurgia é semelhante a uma cesárea. O clipe não precisa ser trocado -fica no corpo definitivamente.
Para Maurício Abreu, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, a facilidade da colocação é uma vantagem. "É um avanço. Além de ser mais simples de aplicar, lesa menos a tuba e os vasos que irrigam o ovário. Seguramente a técnica vai ser disseminada no Brasil." Ele coordena o 1º Congresso Brasileiro de Endometriose e Endoscopia Ginecológica, no qual o Filshie Clip está sendo lançado.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o Filshie Clip há cerca de dois meses, o que tornou o Brasil o primeiro país da América Latina a adotá-lo. Mas ele é utilizado no mundo desde 1975.
Na Inglaterra e no Canadá, é a técnica escolhida para mais de 80% das laqueaduras. Médicos de outros países da Europa, dos EUA, da Austrália e da Ásia também usam o clipe, que já foi aplicado mais de 8 milhões de vezes. Até hoje, apenas um caso de rejeição foi descrito.
O Brasil é um dos países que mas fazem esterilizações -40% das mulheres optam pelo processo. O preço do Filshie Clip varia segundo a forma de aplicação. O kit com o clipe e o aplicador custa de R$ 1.000 a R$ 1.600. Na laqueadura tradicional, usa-se apenas um fio, que custa em torno de R$ 50 (fora os custos de internação).
Apesar das chances de reversão, o ginecologista Waldir Modotti pede cautela. "Não se deve usar esse método pensando em desfazê-lo. Ainda há 10% de pacientes que não conseguem obter a recanalização", alerta.


Próximo Texto: EMS terá que pagar R$ 100 mil por Contracep
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.